Criticada por se demitir
de um cargo cobiçado e cheio
de glamour na Globo para “cuidar
da vida”, a jornalista veio
mostrar que, se o que separa
o maluco do gênio é o sucesso,
ela já cruzou a fronteira há
alguns anos. Em 2013, ela
conversou com a Tpm sobre
essa trajetória

Entrevista por Milly Lacombe

 (baú) 

Ana Paula
Padrão

foto: Christian Gaul / editora Trip
Criada por um pai advogado
e intelectual de esquerda
e por uma mãe que poderia ter
feito carreira como radialista,
mas optou por cuidar da família,
Ana Paula nasceu e cresceu
em Brasília, de onde saiu
para morar em Londres como
correspondente da Globo
Foi trazida de volta ao Brasil
para um dos cargos jornalísticos
mais cobiçados do Brasil: editar
e ancorar o Jornal da Globo.
De lá, claro, uma mulher
só deve sair quando é retirada.
Mas esse não seria o caso dela:
a jornalista queria mais da vida,
misturando felicidade e trabalho
“As pessoas esperavam
eu SEMPRE estivesse com o
cabelo da TV, a maquiagem
da TV, a roupa da TV. Achei
esquisito. O primeiro ano em
São Paulo foi muito difícil,
fiquei deprimida, não foi
fácil. E estava sozinha numa
cidade que não conhecia
e da qual tinha medo”
“Quando dava palestras
nas faculdades e perguntava
o que as meninas queriam
fazer, era sempre ser
apresentadora de TV ou
moça do tempo. Eu dizia:
‘Você quer ser famosa?
Tem maneiras mais fáceis.
Jornalismo não é carreira
para ficar famoso, é uma
profissão de sacrifício’”
“Uma carreira não cai
no colo. Você tem que
administrar, traçar estratégias.
Talento e boa formação
contam muito, mas não bastam.
Eu teria sido mais feliz com
minhas materinhas em Nova
York? Sim, mas não teria a
carreira que construí”
“A vida me deu muita coisa,
eu era uma caipirona, minha
família não tinha dinheiro,
conheci o mundo, construí
uma carreira, encontrei
MUITAS pessoS NA vida.
Por esforço pessoal, por
decisões certas, porque
o universo conspirou,
as coisas deram certo”
“Eu parei de tentar ter filho
para que não afetasse o
casamento. Vi que eu estava
criando um ponto permanente
de angústia nO CASAMENTO.
Os casos de sucesso são
muito alardeados, mas
os de insucesso não saem
de dentro das clínicas.
Disso, ninguém fala”
“Sou uma legítima
representante da geração
ombreiras, a dos anos 1980,
de mulheres de blazers
enormes, cabelo curto,
gritando, forçando a voz
para um tom mais grave
para se fazer respeitar. Essa
mulher não existe mais”
“A mulher tem muitos universos
dentro dela e ela tem que
se sentir feliz em todos eles.
Tem que olhar no espelho
e achar que tá legal,
que vive uma relação legal,
que tem tempo para os
amigos, que é uma boa mãe,
que tem uma casa organizada”
“Meu barato é estar
onde estão acontecendo
as coisas, e é onde estou
agora: a mulher brasileira
está acontecendo, e eu
vou contar essa história”,
disse à Tpm em 2014

é outra
conversa.