POR: Francine Bittencourt

“A gente faz 100 coisas
certas, mas a que fica ecoando
na cabeça é a que fizemos errado.
Vou dormir abraçada com
a medalha de Pior Mãe das
Galáxias – e nenhum meteoro
vai destruir isso”

A mãe
que não
brincava

“Para mim, uma das coisas mais
difíceis da maternidade é brincar.
Brincar de montar Lego, brincar
de heróis, de destruir as galáxias,
de esconde-esconde, de ser a Peppa
(a voz da Peppa é impossível
de ser imitada), brincar
de ser a mãe do Flash,
a Mulher Maravilha etc” 
“Ter tempo para brincar com o filho
é privilégio, claro. Mas quando
eu encerro o expediente, às vezes
gostaria apenas de olhar para
o nada para me recompor e descansar
a cabeça. Mas chega a noite
e a criança, que já brincou
na escola, que já está brincando
com o pai, está na expectativa
de brincar com a mãe”
“E não é brincar pouco, é brincar
demais, brincar muito, brincar
para cacete. Eu brinco, juro!
Na verdade, eu tento. (Esse ‘juro’
foi porque fico tão culpada
que estou tentando provar
para você que está lendo esse
texto que eu brinco, sim,
não sou tão péssima)”
“Monto, desmonto, deito no chão,
levanto do chão, faço gol,
me escondo no armário,
mas não adianta, acho que
a preguiça está estampada
na minha cara”
“E depois de ter brincado por
duas horas, ter destruído todos
os meteoros possíveis, defendido
as galáxias, escondido embaixo
da cama para salvar o planeta,
ele tira a fantasia triste e fala:
‘Você não está brincando direito’.
E sou obrigada a concordar,
porque realmente não estou”
“Eu tô cansada de tentar salvar
o planeta. Vida segue, ele dorme
e eu durmo? Não, eu choro.
Custava ter brincado direito?
Ele só vai ter três
anos uma vez na vida.
Que merda de mãe é essa
que não gosta de brincar?”
“A gente faz 100 coisas certas,
mas a que fica ecoando na cabeça,
a noite toda, é a que fizemos errado.
Vou dormir abraçada com a medalha
de Pior Mãe das Galáxias
– e nenhum meteoro vai destruir isso.
Toca aqui quem também?”

é outra
conversa.