por Nathalia Zaccaro
Tpm #180

Deitamos na cama com mulheres de diferentes idades e conversamos sobre tesão, gozo, fantasias e otras cositas más para sacar o que, afinal, é ter sucesso na hora H

O que é ter sucesso quando o assunto é sexo? Perguntamos para dez gatas de todas as idades e opiniões e as respostas abaixo estão aí pra provar que temos que desencanar de tantas regras dentro de quatro paredes.

Com vocês, as atrizes Claudia Ohana, 56, Emanuelle Araújo, 43, e Suzana Pires, 43, a cantora Lellê, 22, a ginasta Daiane dos Santos, 36, a escritora Isabel Dias, 67, as jornalistas Roberta Martinelli, 37, e Cris Naumovs, 41, a podcaster Cris Bartis, 40, e a estilista Helena Schargel, 79.

Claudia Ohana. Eu sou carioca e vou falar de uma diferença entre cariocas e paulistas. No primeiro encontro, com o carioca, já é pra rolar. Só se não há o tesão é que não vai rolar. Paulista quer dar a mão, o dedinho, “amanhã vamos não sei o que lá…”. Pô, quando o cara não quer que role na primeira 
vez, me dá certa insegurança. 

Lellê. Aprendi que mulher que faz isso [transar no primeiro encontro] é piranha. Mas, este ano, decidi que preciso experimentar outras coisas, me sentia muito limitada nesse quesito. Uma vez, durante um trabalho, rolou uma química com um cara e pensei: “Eu preciso ficar com esse homem hoje”. Fui lá, desenrolei, troquei número, pá. Toda a atitude veio de mim. Transei com ele e foi incrível, foi maravilhoso. Depois disso, se me der vontade, bater química, o cara estiver querendo, meu amor, vou que vou, não tem mais essa, não. Hoje, se me chamar de piranha, estou agradecendo. Com 22 anos, ainda estou me descobrindo. Vejo vídeos sobre pompoarismo, estou querendo fazer aquela massagem tântrica. Ainda sinto que sou travada em algumas coisas, 
estou nesse processo de entender o que mais me dá prazer.

LEIA TAMBÉM: A psiquiatra Carmita Abdo faz um breve - e necessário - panorama das mudanças da sexualidade feminina nas últimas décadas

Isabel Dias. Antes, eu fazia o que os outros queriam. Hoje, faço o que eu quero. Aprendi a dizer “não”, “quero mais”, “quero aí”, “não quero lá”. Eu não me acho mais responsável pelo gozo do cara, acho que a gente tem que ter uma parceria. Não tenho a obrigação de fazê-lo gozar.

Roberta Martinelli. 
Por que raios eles têm que gozar sempre, se com a gente é tudo bem não gozar toda vez? Por que a gente se cobra tanto disso também?

Suzana Pires. Esse entendimento de que ter uma transa bem-sucedida é ver o cara gozar várias vezes não é mais o meu. A gente nem parou pra entender ainda como é o orgasmo masculino, não precisa necessariamente ejacular. Podemos ter uma outra dinâmica sexual. Ganhamos muito quando passamos um dia inteiro transando, tiramos um domingo só pra isso. Acorda, toma café da manhã, já transou, mas vai transar de novo... Até os 35 anos, mais ou menos, eu tinha uma voracidade por quantidade de experiências. Hoje, aos 43, virou uma chave. Passei a me interessar mais pela qualidade. Até os orgasmos mudaram. Agora, posso ficar bastante tempo sem sexo, porque realmente tenho tido experiências que me deixam extasiada bastante tempo, alimentada no meu sensorial.

Emanuelle Araújo. O legal do sexo é a sintonia, a troca, sem aquela necessidade de querer fazer performance ou mostrar serviço. Acredito no feeling. Não curto quando fica um lance muito mental, teorizando muito...

LEIA TAMBÉM: Talvez a gente não saiba mesmo o que quer dos nossos relacionamentos afetivos e sexuais. Mas já sabemos o principal: o que não queremos

Claudia Ohana. Não dá para querer inventar na primeira transa. A pessoa já quer experimentar coisas novas quando ainda não teve nem as coisas velhas. Com quem tenho intimidade, posso brincar de striptease, de ser funkeira, faço tudo. Mas, sem muita intimidade, acho que um arroz com feijão bem-feito é que é bom. Propor um 69 ou tapa na bunda logo de cara, não dá. Vamos no pretinho básico!

Suzana Pires. Já tentei ser muito performática uma vez e foi um fracasso retumbante. Fiz uma playlist só de Marvin Gaye, Prince… E foi horrível. Uma merda.

Isabel Dias. Olha, eu adoro música clássica para transar. Um Chopin, um Mozart. Mas adoro um axé também. Até um rock pauleira é gostoso!

Daiane dos Santos. Acho muito bacana ir em sex shop, ver coisas diferentes, brinquedos, super curto fantasias. E variar as posições. Sou ginasta, né? [Risos.] Acho que todos os meus parceiros pensavam sobre essa questão da minha flexibilidade. Então já tentei algumas posições diferentes.

Roberta Martinelli. No momento em que estou agora, o que tem funcionado é desligar a babá eletrônica. [Risos.] A volta da vida sexual depois da maternidade é uma construção. Você está amamentando, a libido fica baixa, são várias questões. E você se sente um fracasso, o cansaço, são noites sem dormir. Mas a retomada traz um ar de sucesso da relação, você vai sacando a potência daquilo.

Cris Bartis. Parece que [com a maternidade] morre uma mulher pra renascer outra e isso dá um puta trabalhão. Com 40 anos e dois filhos, o sexo existe enquanto realização de carinho, de potência de vida. Ele não é causa, é consequência. Eu acho que, ao longo da vida, a gente faz sexo por diferentes motivos. Pra comemorar, pra criar intimidade, pra se sentir desejada. Essa energia se movimenta, há ciclos de desejo, ou de ausência dele.

LEIA TAMBÉM: Como rolam amor, sexo, dates e aplicativos de paquera para quem tem mais de 60 anos

Helena Schargel. Na época da minha mãe, com 50 anos ou 60, depois de ter posto os filhos no mundo, a mulher tinha cumprido sua missão e não precisava de mais nada, nem de sexo. Ainda existem mulheres assim, que se aposentam de si mesmas. Você tem que se sentir bonita, se sentir bem e empoderada.

Isabel Dias. Para mim, os aplicativos de paquera foram um sucesso. Eu não teria cara para conhecer novas pessoas se não fosse pela internet. Me abriu outro horizonte. A quantidade de experiências valeu muito a pena, foi bem interessante, aprendi muito. Como quando eu estive com um cara e outra mulher, foi extremamente excitante. Mas hoje estou vivendo mais na tranquilidade, me viro bem sozinha. Se estou excitada, vou me tocar. Não preciso ter um cara pra fazer isso. Antes, eu achava vibrador uma coisa horrorosa. Mas, logo que me separei, uma amiga me deu um com uma carta dizendo que eu não tinha morrido. Hoje, tenho uns brinquedinhos poderosos!

Lellê. Às vezes, prefiro ficar sozinha, transando comigo mesma. Chego a um lugar muito mais rápido do que se transar com alguém, às vezes dá preguiça, né? A troca de energia sexual não é só transar, gozar e acabou. Não é qualquer pessoa que pode entrar em mim. E já tive várias relações de fracasso no sexo.

Cris Bartis. Acho que o fracasso está muito ligado à frustração, que está ligada à expectativa. Está tudo bem você não querer transar agora, ou querer. Quanto mais a gente acolhe os nossos próprios sentimentos, mais a gente vai conseguindo dissolver o fracasso.

Cris Naumovs. Namoro mulheres desde os 16. E, ao longo da vida, ouvi falar muito menos sobre esse tipo de sexo. Ao mesmo tempo que isso era um dificultador, tem uma coisa sensacional, que é poder testar. Ninguém te disse o que é o certo, então o certo é o que te dá vontade. Você se sente menos cobrada a performar. Mas hoje você digita qualquer coisa que queira ver e tem na internet. Acho que essa geração porn educated é muito performática, a indústria pornô pautou um jeito de fazer sexo, que é menos sobre o que você quer e muito mais sobre o que esperam de você. E isso é o caminho mais rápido para o fracasso. Achar que só vai ser bom se você estiver com a buceta depilada como no filme, se o cara tiver o pau reto, grande e grosso.

Cris Bartis. O fracasso acontece quando você não se conecta com o momento, chega com o desejo em um script. Se esse script não se concretizar, aí é o fracasso. Acho que existe uma autonomia a ser proposta, que é se abrir para o que está acontecendo naquele momento, viver aquilo com presença, com realidade. Desligar o cérebro do roteiro e se abrir para o sexo real com aquela pessoa. É o mundo do sentir, e não o do projetar. Aí a gente começa a ter novos parâmetros para medir o prazer.

LEIA TAMBÉM: O brasileiro Thiago Bessimo se jogou em diferentes apps de relacionamento no gigante asiático e sacou que a mulher chinesa vai muito além de qualquer estereótipo

Roberta Martinelli. Eu acho que, quando eu premedito e tento criar esse ambiente de sucesso, vem muita coisa na cabeça. A despreparação, ou a não expectativa, para mim, é o melhor caminho para o sucesso.

Cris Naumovs. Existe um ideal de que bom é quando você está muito molhada e aaaaa gozou. Com o tempo, você descobre que existem outros jeitos de ter prazer. Quanto mais a gente simplificar essa relação com o sexo, mais gostosa ela vai ficar.

Claudia Ohana. Eu já peguei homens altamente técnicos e que rapidamente me faziam ter um orgasmo. Acho incrível, mas não é isso que me faz gostar. O orgasmo não é tudo em uma trepada. O tesão, a vontade de gastar a sua energia com aquela pessoa, de ficar em cima dela, olho no olho e beijo na boca, isso é bom pra caramba.

Cris Naumovs. Sexo é a coisa que dá para fazer de graça mais legal que existe!  

fechar