Ativismo na rede

por Luiz Filipe Tavares

Adianta xingar no Twitter? Veja como foi o papo com Leonardo Sakamoto e Ale Youssef

A primeira das três entrevistas ao vivo que rolam no stand da Trip/Tpm na Campus Party 2012 teve como tema Ativismo na rede: adianta xingar no Twitter?, com a presença especialíssma de Leonardo Sakamoto (referência no combate ao trabalho escravo no Brasil, fundador da ONG Repórter Brasil e homenageado do prêmio Trip Transformadores 2011) e do ex-coordenador de políticas para a juventude da prefeitura de São Paulo, Alê Youssef (dono do Studio SP e colunista da revista Trip).

Quem comandou a primeira entrevista foi o redator-chefe da Trip, Lino Bocchini, que também comandou a transmissão do evento pela internet. E a conversa começou quente, com Sakamoto falando sobre imensa repercussão do "caso Zara", denunciado pela Repórter Brasil, quando foi provado que a marca usava mão de obra escrava na produção de suas linhas. O repórter faz questão de apontar a importância das redes sociais para a rápida disseminação de informações políticas.

"Na verdade, a internet e esse lado 'offline' estão conectados. Não adianta só a internet. Ela não é um mundo a parte, não se resolve em si. São duas partes da mesma realidade", comentou o ativista. "a internet é uma ferramenta para unir as pessoas com interesses em comum e separadas geograficamente. Todo mundo faz política no dia a dia ao relacinar-se na polis. É preciso que as pessoas participem da vida política na sua cidade para então levar esse sentimento para as redes sociais. Ao fomentar a cultura política, fortalecemos também a esfera virtual."

"O maior problema das redes sociais é a falsa sensação de cidadania que elas trazem, substituindo a ação de verdade por um 'like' ou por 'um tweet'", completou Youssef. "É preciso ter uma interface no mundo real para que a política seja aceita de verdade, já que quando o assunto entra no mundo virtual há um desconforto pela falta de engajamento real das pessoas."

O colunista da Trip continuou tocando em um ponto importante para a discussão: os candidatos que usam a internet como plataforma eleitoral mas que viram as costas para a maior parte das causas discutidas no mundo virtual por medo de conflitos com outros grandes aliados de suas campanhas, esses sim responsáveis efetivamente por suas eleições.

"O maior problema das redes sociais é a falsa sensação de cidadania que elas trazem, substituindo a ação de verdade por um 'like' ou 'um tweet'" - Alexandre Youssef

"Parlamentares que se elegeram com o apoio da internet não usam isso como bandeira. Depois de eleito, o cara não vai querer se indispor com quem realmente ajudou a elegê-lo para elvantar uma bandeira mais representativa para os interesses da internet. Eu vivi na pele isso. A gente não pegou dinheiro de empresa para nao fazer lobby, não usamos os manuais dos marketeiros políticos e mesmo assim havia uma sensação real de que a campanha era viável. Tivemos quase 20 mil votos, mas há um limite de alcance. Se você não entra no esquema convencional da política, você não consegue atingir a maior parte da população."

Conexão real-virtual

Sakamoto concorda com as limitações da internet apresentadas por Youssef. O ativista ainda levanta a bola da questão da apuração de informações na rede, um outro obstáculo que ainda precisa ser vencido para o aperfeiçoamento e para a real horizontalização da rede. Para o repórter, não basta apenas divulgar o conteúdo. É preciso também saber o que, como e quando divulgar.

"É preciso se valer de estrutura de redes. Informação é materia prima de inclusão social. É preciso ter idoniedade, credibilidade e saber como divulgar da melhor forma a sua opinião. Quando você passa adiante uma informação errada, não checada ou incompleta, você está prestando um deserviço a tudo aquilo que está sendo construído a muito custo na internet."

Ele continua separando o ativismo no Brasil em quatro momentos distintos e apontando um novo caminho no modo de fazer política no Brasil. Segundo ele, "nem anarquistas, nem os movimentos políticos contra a ditadura e nem a geração que chegou ao poder depois da abertura conseguiram transformar a vida das pessoas nos aspectos mais importantes."

"Agora é a vez de um quarto ciclo, que vai contra a forma institucional de se fazer política. Essa geração dialoga com o Estado mas não quer se envolver nas estruturas formais. E o pessoal que faz parte desse terceiro ciclo não entende isso", completa. Youssef concorda com Sakamoto nesse ponto e vai além, observando ainda a presença de muito pensamento retrógrado e reacionário mesmo entre as gerações mais próximas da era da superinformação.

"Quando você passa adiante uma informação errada, não checada ou incompleta, você está prestando um deserviço a tudo aquilo que está sendo construído a muito custo na internet." - Leonardo Sakamoto

"O vácuo que a não-participação das pessoas na política institucional causa é ocupado por figuras novas que pensam da mesma forma que os mais velhos: fazem o jogo pelo poder e pulam de cargo em cargo como as gerações anteriores. O vácuo que o poder deixa faz com que eles ocupem o espaço sem qualquer representatividade geracional. Vide ACM Neto, que hoje lidera pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de Salvador. Quando você associa a política com a cultura, você atrai mais gente para essa questão. É preciso criar mais temas para envolver pessoas para além da pauta do poder formal."

Programação

Os debates continuam no stand da Trip na Campus Party. Amanhã a entrevista ao vivo começa às 19h30 e tem como tema Propriedade da informação: quem é dono do que está na rede?, com os especialistas Luli Radfahrer (PhD em Comunicação Digital pela USP e colunista da Folha de Sâo Paulo), Luiz Algarra (Designer de fluxos de conversação), Juliano Spyer (autor do livro Conectado e do blog NãoZero) e Claudio Prado (estudioso da contracultura e cultura digital).

Na sexta, é a vez de Nina Lemos (repórter especial da Tpm) receber e entrevistar Milly Lacombe (colunista da Tpm), Carol Rocha (a @tchulimtchulim, blogueira e Trip Girl do nosso site), Sarah Oliveira (apresentadora do canal GNT) falarem sobre Machismo na rede: Trolls amam odiar as mulheres, às 18h.

Quem não puder participar do evento presencialmente podem acompanhar toda a cobertura e as atrações do stand pelos canais da Trip: @revista_trip e no www.facebook.com/revistatrip; e todos os debates vão ser exibidos ao vivo aqui pelo site e também pelo pessoal da Pós-TV, da Casa Fora do Eixo, que estão fazendo a transmissão online.

Nos vídeos abaixo você vê a transmissão do primeiro debate da Trip na CPBr 2012.

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