Catharina Bellini

por Cirilo Dias
Trip #225

A ruiva que trocou o glamour da vida de modelo na China por uma vida simples na Penha

A ruiva Catharina Bellini cresceu num bairro tranquilo de São Paulo. Aos 18 anos, largou tudo para ser modelo na China. Quase se perdeu no mundo repleto de glamour e festas, mas voltou e reencontrou o prazer nas coisas simples da vida

Cidade de Taipé, República da China, 2010. A modelo paulistana Catharina Bellini recarrega as energias comendo um balde cheio de frango frito, daqueles bem gordurosos, num fast-food ao lado do apartamento que ela divide com outras meninas, todas modelos. O dia foi puxado, cheio de compromissos: sessões de fotos durante o dia e festa regada a todo tipo de bebida à noite. Nascida e criada em um dos bairros mais tradicionais e gastronômicos da cidade de São Paulo, a Penha, ela sempre gostou de comer, nunca gostou de dieta e nunca teve crise com a balança. “Só fui perceber que tinha engordado quando fui vestir uma calça jeans e ela não fechava. Eu bebia muito, comia muito, engordei quase 10 quilos.”

Foi aí que o alerta disparou. Não o da balança, mas sim o da consciência. Já se passara quase um ano e ela ainda estava ligada no modo “trabalho/balada” quase 24 horas por dia, sete dias por semana, mas desta vez acompanhada de um regime imposto pela agência em que ela trabalhava. “Eles me falaram que eu estava gorda, precisava emagrecer a qualquer custo. E olha que eu tenho 1,62 metro e estava pesando 50 quilos.”

A pressão no trabalho ia aumentando, enquanto sua vontade de continuar levando aquela vida diminuía a cada dia. Aos poucos foi desencanando até que largou de vez a carreira de modelo. “Quando fui morar fora eu não sabia nem falar inglês, não fui instruída. Fui pra lá esperando outra coisa e, quando chegava nos castings, não me sentia à vontade com as poses que eu tinha que fazer, os trabalhos que me ofereciam. Quando me mudei pra Coreia do Sul eu já estava esgotada, emocionalmente desequilibrada. Pra você ter ideia, até o voo de volta para o Brasil eu perdi.”

O equilíbrio veio quase dois anos depois. Catharina, hoje com 21 anos, está de volta ao bairro onde nasceu e foi buscar na família a inspiração para colocar sua vida de volta ao eixo. Do avô, ela resgatou o prazer por pintura e artes plásticas. Do pai, ganhou um violão “daqueles antigões, que ele comprou nos anos 80” e o gosto musical por bandas de rock clássicas, como AC/DC, The Doors e Jimi Hendrix. E da mãe herdou a beleza, que exibe e da qual fala cheia de orgulho, sem culpa alguma. “Acho que foi uma espécie de dom, sabe? Nascer bonita e ter a oportunidade de tentar viver disso. Porém eu prefiro que as pessoas me reconheçam não só pela beleza, mas também pelas outras coisas que eu faço: minhas fotos, meus desenhos.”

Da vida de modelo ela guarda alguns traumas ou lições, como prefere chamar. Aprendeu a valorizar o que ela gostava que valorizassem nela mesma: a personalidade. Despreza aqueles que se importam com vaidade: “A maioria dos modelos era assim. Roupas de grifes, festas caras, tudo muito bonito, mas vazio por dentro, sabe?”.

O corpo é uma festa

Catharina não se importa mais com baladas, roupas de luxo, aparências. Trocou a rotina agitada e badalada da vida de modelo por outra mais simples. Trabalha em um shopping da zona leste da capital, divide o apartamento com o namorado e investe o que ganha em cursos de desenho e fotografia, além de passar as horas vagas tocando no violão as bandas que seu pai a ensinou a gostar. Tem o corpo repleto de tatuagens, duas delas em homenagem ao namorado: uma de uma pérola (“uma pedra preciosa e delicada, que precisa de cuidado para não quebrar, assim como eu”) e outra de um gato, para selar sua união de quase um ano.

Mas esse excesso de confiança que ela carrega em cada resposta não consegue esconder o riso nervoso, o olhar incômodo e um certo desconforto quando tem que falar sobre sua vida pessoal e se vai gostar de se sentir desejada assim que este ensaio, fotogrado no ateliê do artista Marcelo Cipis, chegar às bancas: “É natural ficar pelada na frente dos outros, trocar de roupa. É uma coisa de que não tenho vergonha. A religião coloca de um jeito como se fosse tabu ficar sem roupa. Esses dias li uma frase que dizia que o nosso corpo é uma festa, é aquilo que a gente é, não é preciso ter vergonha ou medo”. E assim, flertando com os clichês, ela vai construindo as novas bases de sua nova vida, longe dos holofotes e da badalação, e aproveitando as coisas simples da vida. “Aquelas que realmente fazem a gente feliz, né?”

Produção Anabelle Custodio Make & Hair Alessandra Maloupas Agradecimentos Marcelo Cipis
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