por: Buscofem

Menstruar depois de ser mãe

apresentado por Buscofem

As dores físicas, emocionais e simbólicas desse momento, por Helen Ramos, a Hel Mother

Quando eu já estava com 38 semanas de gestação, uma tia me perguntou se eu havia providenciado os absorventes para o pós-parto. Lembro que fiquei confusa e perguntei: vou menstruar logo depois de parir? Ela chegou a responder, mas a euforia e a ansiedade eram muito fortes naquele momento e mal escutei o que ela disse. Porém, lembrei de pedir na farmácia absorventes, ainda grávida. A atendente perguntou: são para o pós-parto?

No que eu respondi que sim, ela apareceu com um pacote de ultra absorventes três vezes maiores que qualquer noturno que você já viu. Eu arregalei os olhos e, naquele momento, entendi que não tinha escutado minha tia como deveria.

Pois bem, perguntei para minha ginecologista e ela explicou que o sangramento pós-parto não é menstruação, é um sangramento mais intenso e que dura em média dez dias – pode variar para mais ou para menos. O nome: loquiação (loqui who?). Basicamente é um sangramento resultante do processo da placenta se descolar do útero. Todos aqueles vasinhos sanguíneos que seguravam a placenta vão sendo eliminados naturalmente pelo corpo, seja seu parto normal ou cesárea. A diferença é que no parto normal esse sangramento pode acontecer com mais intensidade.

E, sim, minha gente, foi intenso nos primeiros dias, um pouco assustador também. Afinal, tinha saído um bebê pela minha vagina e nosso inconsciente coletivo de assistir plantão médico olha para aquele fluxo e pergunta se é normal para toda e qualquer enfermeira ou médica. A resposta era sempre a mesma. Com um leve sorriso no rosto, afirmavam e denunciavam que ouviam aquela pergunta de toda mãe de primeira viagem.

Passado o período de loquiação, eu estava ali, vivendo a batalha da amamentação.
Sim, pessoas, foi uma batalha. Para que mentir a vocês? Muita coisa muda. Os seios ficam gigantes, as olheiras, maiores, o cabelo, mais oleoso. Nada hormonal, antes que pensem, apenas falta de tempo de lavá-los.

Não sabia que dar o peito acompanharia cólicas no útero. O motivo? Ele precisa voltar ao seu tamanho normal, afinal, na gravidez, aumenta em até 500 vezes seu tamanho para abrigar até 5 litros divididos entre o bebê, a placenta e o líquido amniótico – ele volta, prometo. Então, tinha a dor de adaptar meu mamilo a sucção de um bebezinho faminto, a dor das cólicas, as dificuldades de um puerpério e um pediatra dizendo: “Ele não está ganhando peso, vamos complementar”. Tinha pouco leite saindo das mamas, resultado de uma mamoplastia feitas aos 19 anos de idade. Complementando 30% de leite materno com 70% de fórmula, minha menstruação me deu um alô, um: "Cheguei, anja, guess who is back?". Ela chegou quase um ano depois da última vez que a tinha visto. Poderia ter demorado mais um pouco? Poderia.

Engrenagem

Quanto menos amamentamos, menos prolactina produzimos. Quanto mais prolactina, mais a menstruação fica distante. Portanto, quem amamenta de forma exclusiva tem mais dificuldade de voltar a menstruar com frequência. É por esse motivo que você deve conhecer mães que só voltaram a menstruar com seus filhos completando um ano ou só depois que desmamaram. Não foi meu caso. Com quase 3 meses de filho fora da barriga, eu já estava menstruada.

O fluxo mudou, ficou mais intenso do que era antes de ser mãe. As cólicas aumentaram e minha TPM também. Se eu praticamente tinha morrido e nascido outra mulher no parto, não foi diferente com tantas transformações físicas e hormonais que aconteceram depois, quando voltei a menstruar. A volta de um sangramento mensal me lembrou que além daquele zumbi exausto e apaixonado pela cria, eu também era mulher. Eu tinha voltado a ovular, a ter toda uma tabela hormonal voltando à engrenagem. Senti que a máquina tinha engatado novamente, sabe? Não foi ruim acontecer.

Me lembrou que, além de mãe, eu também sou uma mulher e uma humana. Que tem ciclos, que sangra, que se recicla a cada mês.

*Por Helen Ramos, comunicadora e criadora do canal Hel Mother no YouTube, onde discute a maternidade sem romantização.

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