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por Luiz Filipe Tavares

”Escolhi escrever porque não gosto de trabalhar”, diz o premiado roteirista de cinema

Ele é responsável pelo roteiro dos filmes nacionais mais importantes dos últimos anos e chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2004, com Cidade de Deus. Trabalhou também com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Tropa de Elite, Linha de Passe, Última Parada 174 e, mais recentemente, em Tropa de Elite 2.

Quem se interessa por cinema já deve ter percebido que estamos falando de Bráulio Mantovani, que também lançou o livro Perácio, Relato Psicótico, pela editora Leya, e que no próximo dia 25 de março estreia dois novos trabalhos: a peça Menecma, dirigida por Lais Bodanzky, e o filme VIPs, que conta a história de Marcelo Nascimento, um dos maiores golpistas do Brasil e que, aproveitando pra vender nosso peixe, é Páginas Negras da mais recente edição da revista Trip.

“Nao é facil ser roteirista no Brasil. Os cachês são fechados e é muito raro um roteirista ter participação nos lucros dos filmes”, contou Bráulio, que ainda brincou a falar que nem dos Estados Unidos, onde ele é sindicalizado como roteirista, os cheques de pagamento saem. “Nem os produtores costumam ganhar muito aqui. Mesmo que você tenha uma participação, será uma particpação pequena.”

Mas as cifras que Tropa de Elite 2, filme de maior bilheteria da história do cinema brasileiro, levantaram enquanto esteve em cartaz compensaram os anos de dificuldade para trabalhar com longas. Envolvido no projeto desde o início, Braulio comemorou na entrevista o bom retorno que teve com o filme, brincando que pode pagar os empréstimos que contraiu para tocar seus outros projetos que não foram tão bem sucedidos.

“Quando você escreve uma adaptação não é muito diferente de escrever um roteiro original”, comentou o roteirista ao comparar os processos de Tropa de Elite 2 e Cidade de Deus. “Você tem que se apropriar da história e contar do seu jeito”.

Rindo bastante, Bráulio ainda comentou a reação de Paulo Lins (autor do livro que inspirou Cidade de Deus) ao receber a primeira versão do roteiro, bastante diferente da obra original: ”Depois de um tempo eu liguei pra ele e perguntei: 'Fala Paulo, é o Bráulio. Você ta afim de me dar porrada né?' e ele disse que sim”, diverte-se o roteirista, comentando ainda o que é preciso fazer alterações na história para transformar um livro em filme.

Sobre as críticas duras que alguns de seus filmes receberam da imprensa, especialmente Cidade de Deus, Mantovani nem se abala. Ele ainda tira da cartola uma famosa frase de outro grande escritor brasileiro para exemplificar o que pensa. "Eu tenho um lema à lá Nelson Rodrigues: se o crítico elogia meu trabalho é um gênio, se fala mal é uma besta".

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O Trip FM é transmitido na Grande São Paulo às sextas às 20h, com reprise às terças às 23h pela Rádio Eldorado FM 92,9 MHz // Saiba mais //

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