Viver nos torna admiráveis

por Luiz Alberto Mendes

Admiração

 

Quando jovens, ainda ingênuos e inocentes, admiramos fervorosamente a tudo e a todos que se destacam aos nossos olhos. Depois, com o tempo, vamos nos desiludindo, conhecendo mais a natureza humana e percebendo que nada e nem ninguém é tão admirável assim. Quando na maturidade então começamos a compreender que ninguém é admirável e que ao mesmo tempo, somos todos admiráveis. Viver nos torna admiráveis. Somos todos muito parecidos e de perto, como afirmou Caetano, ninguém é normal. Alias o conceito de normal já é questionável em si. O que é normal hoje pode não ser mais amanhã. Por exemplo, espero que no futuro não seja normal a corrupção política como é hoje em dia. O que antes não era normal, hoje já é normal. Poluição, por exemplo. Era novidade quando eu era criança, sequer se falava disso naquela época. Hoje já não é nem normal, vai mais longe: é comum. Assaltos, violência gratuita, chacinas, massacres eram tão raros que quase nem existiam, isso há menos de 40 anos atrás. Hoje isso tudo é tão normal que a gente nem se impressiona mais. Estamos acostumados a viver assim.

Nós, humanos, somos constituídos de tal forma que carecemos admirar para poder gostar e depois amar. Amamos quem admiramos, somos indiferentes à maioria e desgostamos de quem nos decepciona. O problema é que sempre cobramos muito do outro para admirá-lo. Exigimos pontualidade, honestidade, carinho, amizade, fidelidade, seriedade, firmeza e mais um monte de atuações, como se essas não fossem conquistas duramente garimpadas no tempo. Não conseguimos nem chegar perto de sermos perfeitos e todas nossas qualidades e virtudes jamais são completas, inteiras. Ninguém chega a ser inteiramente admirável. Somos mais pontuais que fieis; somos mais amigos que afetuosos; somos mais alegres que felizes, e vice-versa.

No fim é quase como tudo nessa vida: não existe alguém admirável o tempo todo, mas existe a possibilidades de conseguirmos nos tornar admiráveis por alguns momentos. Transitamos entre brilhos e sombras em busca de viver, apenas viver e termos nossos momentos de admirar e sermos admirados. Às vezes parece incrível, mas há quem, apesar de todas nossas mazelas, nos admire e nos ame. Sempre fiquei muito surpreso com algumas admirações que recebo, pois sei que não as mereço e sempre digo que, se me conhecessem de verdade até me evitariam.

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Luiz Mendes

18/09/2013.

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