Surfista de Fibra

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por Felipe Maia
Trip #227

Pranchas de surf feitas com plantas poluem menos o meio ambiente

O designer carioca Thomas Scott usa plantas como agave e miriti para confeccionar pranchas de surf que poluem menos o meio ambiente

Thomas Scott sonha com o dia em que terá uma plantação própria para se abastecer da matéria-prima de suas criações. “Meu desejo é unir a produção de palmeiras com a fabricação das pranchas”, diz o surfista e designer carioca, que faz shapes com agave e miriti, dois gêneros de plantas palmáceas, que ele coleta ou compra de ribeirinhos. Scott, 28 anos, tem familiaridade com o vocabulário botânico. Filho de um biólogo, ele desistiu do curso para viver em contato com a natureza por meio do surf. “Estar dentro de um tubo é o máximo de envolvimento entre o homem e o meio ambiente”, teoriza. Incomodado com a poluição provocada pelo poliuretano, derivado do petróleo usado na fabricação das pranchas tradicionais, Scott foi atrás de uma alternativa mais sustentável para seus modelos. Em seu estúdio, no Rio de Janeiro, ele cria pranchas que custam, em média, R$ 1.500 cada uma.

Como é feita a coleta do agave e do miriti? Fiz o mapeamento do interior do Rio de Janeiro, onde há abundância de agave. Eu peço permissão aos donos das propriedades para fazer a extração da planta. O miriti são os ribeirinhos que extraem e vendem para mim. Eles têm acesso às palmeiras, que proliferam em regiões alagadas, e fazem uma poda dos ramos entre o caule e a folha, usados como matéria-prima.

Qual é a vantagem dessas pranchas em relação às tradicionais de poliuretano? Elas mantêm a velocidade por mais tempo. Não é uma vantagem, mas proporciona uma experiência diferente. O miriti tem mais fibra. A prancha fica um pouco mais rígida. Na parte estética, elas mantêm a aparência de novas por mais tempo e têm menos tendência a se deteriorar.

Por que as pessoas usam esse tipo de prancha? Alguns querem testar, ter uma experiência diferente. Outros a usam como decoração. Às vezes são as duas coisas.

Você acredita que um dia o poliuretano possa ser abandonado no processo de fabricação? De imediato não tem como largar o uso do petróleo, mas, aos poucos, sim. O Brasil tem muitos recursos naturais. Meu papel, como designer interessado pelo surf, é abrir o olho para essas novas possibilidades.

Vai lá: studiocaturama.blogspot.com.br

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