No pico mais alto da Terra

por Piti Vieira

Rosier Alexandre é o 15° brasileiro e primeiro nordestino a escalar o Everest. Sem patrocínio, ele passou pelas maiores montanhas dos sete continentes

Após ver a morte de perto por dois anos consecutivos ao tentar escalar o Everest, em 21 maio deste ano o cearense Rosier Alexandre tornou-se o 15° brasileiro, e primeiro nordestino, a escalar o pico mais alto da Terra, com 8.848m, última parada de seu Projeto 7 Cumes, que passou pelas maiores montanhas dos sete continentes: Monte Aconcágua (6.962m), na América do Sul; Monte McKinley (6.194m), na América do Norte; Kilimanjaro (5.895m), na África; Monte Elbrus (5.642m), na Europa; Monte Carstensz (4.884m), na Oceania; e Vinson (4.897m), na Antártida. "Certamente a parte mais memorável foi a chegada ao cume do Everest, depois de escalar a maior montanha de seis continentes e sobreviver às duas maiores tragédias da história do lugar, voltar lá uma terceira vez foi um exercício de disciplina e determinação", conta ele.

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Rosier tentou escalar o Everest, sem sucesso, em 2014 e 2015, os dois anos mais trágicos da história da "morada dos deuses", cada um somando 19 mortes. "Em 2014 morreram três sherpas da minha equipe e sobrevivi por pouco. Em 2015 morreu a minha médica e eu fiquei preso por três dias no segundo acampamento avançado, a 6.500m", conta. Ele foi resgatado de helicóptero e então levado para o acampamento base. Ninguém, nem mesmo os mais experientes alpinistas, entendiam as seguidas avalanches que assolavam a montanha. Mal sabiam eles que haviam sobrevivido, no meio do Everest, ao maior terremoto da Ásia em 85 anos, que deixou 8,5 mil mortos no Nepal.

Nas primeiras duas trágicas tentativas, Rosier tentou a subida pelo lado nepalense. Para o Projeto 7 Cumes, no entanto, optou pelo Tibet, que é menos perigoso. "Avaliei os prós e contras de cada face da montanha e tomei a difícil decisão de mudar de estratégia. A face norte tem menos avalanches, porém tem rajadas de ventos congelantes e constantes e uma imensa burocracia com o governo militarizado do Tibet, mas a mudança ajudou a trazer os resultados esperados."

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A aventura não saiu barata, cerca de 1 milhão de reais, que Rosier bancou quase integralmente do próprio bolso. "Nunca tive patrocinadores, comecei sem nenhum apoio, porém, à medida que o tempo foi passando, fui conseguindo parceiros que foram vitais e compartilharam comigo este investimento." Agora Rosier só quer saber de descansar, e também de voltar a ativa em seu trabalho como consultor organizacional. "Não voltarei a escalar montanhas como o Everest, que exigem altos investimentos financeiros, muitos riscos e sacrifício pessoal e familiar", conta

Mas isso não significa que o mundo das grandes aventuras ficou pra trás: em 2018 ele quer ir aos dois polos e quem sabe arriscar novas escaladas no gelo. Afinal de contas, para Rosier o Projeto 7 Cumes é mais que uma lembrança memorável. "Foram dias muito difíceis, muito duros, mas valeu cada gota de suor, cada dia de treinamento, cada risco assumido e cada centavo investido. Se eu voltasse no tempo faria tudo novamente."

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Imagem principal: Divulgação

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