Novas formas de pressão estão se construindo: Black Blocs, MTST, Movimento Passe Livre

A política tradicional está se desconstruindo rapidamente no Brasil. Novas formas de pressão estão se construindo: Black Blocs, MTST, Movimento Passe Livre e as passeatas populares convocadas pela internet

Ao me propor a escrever sobre as novas formas de poder e a possibilidade de uma reforma política no país, fui dar uma fuçada em livros de mestres do pensamento. Mas, logo no início, percebi a perda de tempo. Os pensadores falam de política tal qual fosse a mais nobre das aspirações humanas. Um político seria alguém cuja bondade e generosidade ultrapassariam seu próprio ser. Na República, de Platão, ele seria o suprassumo da sociedade, o sábio; em Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, é o super-homem. Sabemos, o homem moderno está muito aquém de tais aspirações. Há seres excepcionais, como Gandhi, Mandela, Albert Schweitzer e Martin Luther King, mas quantos mais?

A política está se desconstruindo rapidamente. Novas formas de pressão e poder estão se construindo: Black Blocs, MTST, Movimento Passe Livre, os coletivos e as passeatas populares convocadas via internet, movimentos contestando decisões sindicais e por aí afora. E pensar que foram necessários milênios para construir as atuais estruturas políticas...

Creio que as possíveis transformações passam por dois pontos de vista radicais: ou confiamos no homem ou não confiamos. No caso de julgarmos o homem merecedor de confiança, então a missão é encontrar homens confiáveis. Na Suécia, o primeiro-ministro vai de metrô ao trabalho. Podemos considerá-lo de confiança? O homem confiável é produto da cultura e da educação de uma sociedade mais antiga? É possível pensar que, daqui a décadas, quando houver mais cultura e educação em nosso país, teremos homens mais confiáveis? Não há como cada qual fazer do jeito que bem entende. O bem comum é o valor maior. A prisão é uma instituição que se provou falida. Mas não se inventou nada diferente no lugar, então ficou como está. O mesmo se dá com o Estado. É outra instituição falida, mas não temos estruturas melhores para substituir, então continuamos com as que conhecemos. A representação existe porque não há como todos falarem ao mesmo tempo, ninguém entenderia.

Caso se opte pela desconfiança quanto ao homem, o que fazer? A solução seria criar câmeras de vigilância sistemáticas. Códigos com regras claras e que punam duramente os infratores. Regras a serem inspecionadas rotineiramente e inspeções que sejam vigiadas periodicamente. Auditorias, tribunais de contas com juízes e funcionários de carreira. Não haverá por que ter “cargos de confiança”. Talvez até chegar ao presidente que, com sua equipe, seria o vigilante-mor.

ENCASTELADOS

Temos feito um caminho do meio, mas de modo tão ineficiente que inviabilizou o processo. A reforma política é algo que se impõe por si mesmo.

Há tribunais de contas para vigiar os gastos dos governos. Há regras de conduta ética dos políticos acerca do decoro parlamentar. Mas os juízes dos tribunais são nomeados por políticos no poder, e é sobre as contas de seus “padrinhos” que irão julgar. Os conselhos de ética são formados por políticos e o corporativismo tem sido a orientação predominante.

A alternância no poder é a nossa melhor invenção, mas é sabotada pela reeleição para cargos majoritários. No estado de São Paulo, um único partido governa há 20 anos. As secretarias, as autarquias e as fundações do Estado, cargos decisivos cujos gestores não são eleitos, os tais “cargos de confiança”, estão sob o domínio das mesmas pessoas há décadas. Essas pessoas estão encasteladas e procedem como se tais instituições fossem uma extensão de si mesmas.

Que reforma política realizar? Endurecer, vigiar, criar penas severas para todo tipo de corrupção e acabar com a impunidade? Talvez confiar que o homem fará o que melhor lhe for possível? Parlamentarismo e voto distrital são alternativas que merecem ser tentadas. Caso não dê certo, tentaremos de novo sempre, provavelmente, até um dia acertarmos.

*Luiz Alberto Mendes, 60, é autor de Memórias de um sobreviventeSeu e-mail é lmendesjunior@gmail.com

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