Pelado e pontilhado

por Nathalia Zaccaro

O zine Dot se inspira nas fotos de Alair Gomes e olha com poesia para corpos masculinos nus

No processo de impressão chamado risografia, um tambor rotativo despeja tinta no papel, uma cor de cada vez. Depois de prontas, as impressões trazem um charme analógico e pequenos defeitos que garantem a exclusividade de cada peça. O método japonês ganhou popularidade nos anos 80 por aliar baixo custo a uma imensa gama de possibilidades artísticas. “Essa técnica voltou a ser usada por aqui há pouco tempo e quando identifiquei a chance de trabalhar com uma dessas impressoras antigas saquei que poderia aliar duas paixões”, conta o fotógrafo carioca João Penoni.

As duas paixões em questão são a arte impressa e o estudo de corpo masculino nu em movimento. Desde 2007, João faz autorretratos sem roupa em que investiga suas formas em fotos publicadas no Instagram. “Esse trabalho evoluiu para o zine Dot, em que imprimo artesanalmente fotos de homens pelados praticando atividades ao ar livre”, conta o fotógrafo, que idealizou o projeto em parceria com Daniel Kucera e Bruno Balthazar. 

O design pontilhado e vintage do Dot traz um tom poético para os corpos despidos que pedalam bicicletas, tomam banho de mar e praticam ioga. “O tipo de conteúdo em massa que existe hoje voltado para o público gay é sempre muito plastificado, meu objetivo é olhar com mais naturalidade. Temos pelos, não somos todos malhados, e isso é bonito”, explica João.

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A maneira espontânea e leve de explorar a sensualidade masculina é herança do trabalho do fotógrafo carioca Alair Gomes, precursor da fotografia homoerótica no Brasil. Nos anos 70, Alair clicava garotos se exercitando na praia, se preparando para surfar ou apenas estirados na areia. O ar voyer explícito em suas fotos revela a discreta sensualidade das imagens. Morto em 1992, Alair teve suas obras expostas em museus como o Tate Modern, em Londres, e o MoMA, em Nova York. “Ele é uma influência muito presente no meu trabalho”, conta João.

Lançado em 2013, o Snaps Fanzine apostou em uma onda parecida e precisou quase triplicar a tiragem para dar conta da demanda. “Agora planejo lançar um livro reunindo os ensaios que publiquei durante esses anos”, conta o peruano Gianfanco Briceño, idealizador da revista que se enxerga como parte da luta pela libertação do movimento gay contemporâneo.

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Créditos

Imagem principal: Divulgação

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