O melhor ainda está por vir

por Douglas Vieira
Trip #239

Potencial 3 encontra no novo rap da cidade som muito mais parecido com o que fazia nos anos 90

Samples de música brasileira, rap com samba, temas abrangentes, abordados de forma reflexiva e divertida. Poderia começar um texto assim para falar de vários rappers atuais, mas esse é sobre o Potencial 3, grupo que experimentou o sucesso e o insucesso e deixou muitas sementes plantadas antes de um intervalo de quase uma década. 

Agora, estão de volta, e se hoje o hip-hop está no ótimo momento em que está, muito se deve a eles. Nos anos 90, o gangsta era moda e as letras de rap ganhavam contornos violentos, com muito sangue. Ao P3 coube pilotar a busca por uma forma diferente de se expressar, colocando mais suingue e positividade no discurso. Faz 20 anos em 2015 que o rap nacional foi profundamente impactado com o lançamento de Você precisa esquecer o passado, ignorar o presente e torcer para que o futuro seja a mesma merda (1995).

“Se eu quisesse dizer pras pessoas como o hip-hop é criativo ou como um grupo de rap pode e deve soar, eu provavelmente diria: ‘Escute Potencial 3’”, sentenciou Emicida em um texto escrito para o site da Piauí. Na ocasião, acabava de chegar às ruas o EPP3, disco que marca o retorno do grupo. A declaração é ilustrativa de como, mesmo longe dos holofotes, eles foram responsáveis por marcar a percepção de toda uma geração, legado fundamental para o surgimento de gente graúda como o próprio Emicida e grupos como Z’África Brasil. 

O primeiro verso do novo disco soa um desabafo, ainda mais ao vivo, quando James Lino grita “P3 de volta negoooooo”. Coube ao DJ Roger a responsabilidade de trazer de volta o grupo. Em todo lugar que chegava, trabalhando com artistas importantes do hip-hop, ouvia que o P3 fazia falta. Mas foram anos difíceis. Jotacê Barbosa passou meses em coma, entre a vida e a morte. Richard Hébano Benício entrou em depressão e jogou fora os cadernos de letras — todos resgatados por sua mulher. Lino foi injustamente acusado de um crime e encarou uma longa batalha para ser inocentado. 

Quando uma banda volta, é normal resgatar a formação clássica. Eles fizeram diferente: somaram as duas, a primeira – Jotacê, Lews, Hébano e Núbio, além do DJ Wallace, que abandonou os palcos –, e a segunda, que gravou O melhor ainda está por vir (2001), em que Hébano e Núbio continuaram e receberam Lino e Roger. Agora, todos juntos, trabalham em um novo disco para 2015, que, desejam, será o melhor deles. Que assim seja.

Créditos

Imagem principal: Douglas Vieira

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