Narcoturistas: série sobre turismo canábico

por Camila Eiroa

Maconheiro mascarado quer mostrar os picos mais de boas pra fumar um pelo mundo. Vai encarar?

Viajar viajando, isso é o que o Macoñero Mascarado faz no tempo ocioso. Com sua máscara de lucha libre estampada com uma folha de maconha, ele faz turismo canábico na série de YouTube Narcoturistas. A ideia nasceu entre dois amigos durante uma estadia estratégica em Amsterdam, em 2012. Eles queriam gravar um documentário "sério", segundo os próprios, sobre a maconha legal, já que naquele ano o governo holandês queria proibir o consumo para turistas.

Alocados em uma casa flutuante, foram também cobrir a Copa Canábica para a revista semSemente, primeira publicação exclusiva sobre a cultura da maconha do Brasil. "Mas a gente não conseguiu, ficamos muito chapados, muito crazy. O documentário não saiu", lembra Daniel Paiva, cartunista e cineasta, um dos idealizadores da websérie. Ele conta que as gravações "eram um grande apanhado de coisa de doidão, não dava pra montar um roteiro".

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Dois anos depois, o primeiro capítulo aconteceu sem querer. Daniel, junto com Matias Maxx, jornalista e o outro criador da série, resolveu editar aquele material com um toque de humor. Todos os vídeos são dublados com uma voz engraçada, foi a solução que encontraram para narrar os episódios. A série foi para o ar e, depois de Amsterdam, o Macoñero Mascarado deu rolê por Inhotim, em Minas, e México. As três primeiras viagens foram auto-sustentadas pela equipe da série, que aproveitou o período de férias para gravar.

Vendo a possibilidade de levar a máscara para passear em outros lugares, a equipe abriu uma campanha de financiamento coletivo no Catarse e conseguiu levantar 6 mil reais. O destino escolhido foi Uruguai, que passa por recente processo de legalização da erva. "Foi uma parada super cara de pau, a gente praticamente estava pedindo dinheiro para viajar e fumar maconha, o que surpreendentemente deu certo", brinca Matias, que gravou o segundo e o terceiro episódios sozinho.

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Matias conta que com a grana compraram a passagem e alugaram uma apartamento "massa" no Airbnb. "Acabamos indo pra Buenos Aires e Santiago do Chile também", recorda. Ele é o dono da máscara de luta livre mexicana, que sempre foi usada em Marchas da Maconha e desfiles de carnaval. Embora no Brasil seja proibido o consumo de drogas, a dupla parece não ter medo de dar a cara a 'tapa'. "Não é por medo que usamos a máscara, o intuito não é esconder o rosto de ninguém. É um recurso cômico", diz.

Os narcoturistas ainda têm chão para percorrer. Os próximos episódios a serem lançados foram gravados na Amazônia e em Barcelona. Eles ainda pretendem ir para outros lugares que tenham a ver com a maconha. "Tipo Marrocos, Jamaica, Colorado. O objetivo é mostrar a cultura local, turística e canábica", conta Daniel. E sem esquecer o desafio da baldada, um "sofisticado método hidráulico de fumar", segundo o cartunista. Ao fim de cada viagem, não tem escapatória: seja no rio, no córrego ou em um lago, baldada no mascarado.

Sobre a legalização das drogas, Daniel acredita que "mudar a legislação para favorecer a indústria tabagista é um erro. A saída é legalizar pensando no livre cultivo". Matias concorda. Para ele, o Brasil se mostra claramente mais atrasado quando pensamos nos países vizinhos. "Começamos agora a ter o acesso ao uso medicinal em situações muito restritas. A lógica da proibição funciona a base da repressão. Demoniza-se a droga e não se buscam soluções."

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