Dá para ser mais feliz com menos coisas?

por Bruna Bittencourt

Dupla americana defende os benefícios do minimalismo como estilo de vida

Em 2009, após enfrentar a morte da mãe e o fim do seu casamento no intervalo de um mês, Joshua Fields leu por acaso um tweet sobre o estilo de vida minimalista. Não sabia ao certo do que se tratava, mas se interessou pelo tema sob a promessa que poderia ser mais feliz com menos coisas. Em oito meses, o americano reduziu suas posses em 90%.

Seu amigo de longa data, Ryan Nicodemus, notou que Joshua andava mais feliz. Depois de ser demitido de seu emprego e se despedir de uma carreira no mundo corporativo que já não lhe fazia feliz, Ryan seguiu seu exemplo, mas foi bem mais radical. Empacotou todos os seus pertences, como se estivesse prestes a mudar de casa, com o objetivo de desembrulhar apenas aquilo que precisasse. Resultado: após 21 dias, só precisou retirar 20% dos seus objetos de suas caixas.

Há cinco anos, os amigos decidiram contar suas jornadas minimalistas e dissertar sobre o tema em um site, Minimalists.com, que conta com quatro milhões de leitores e já foi assunto da revista Time ao The New York Times.

Estética conhecida na arquitetura, na moda, na música e na arte, o minimalismo ainda não é tão popular como estilo de vida, mas há uma série de blogs, livros e podcasts (estrangeiros, principalmente) dedicados ao tema. "Minimalismo é uma ferramenta que podemos usar para nos livrar do excesso de coisas em nossas vidas e criar espaço para aquilo que é essencial — saúde, relacionamentos, paixão, crescimento e contribuição — para encontrarmos felicidade, satisfação e liberdade", defende a dupla no site. Em linhas gerais, pregam como uma vida sem consumo exacerbado pode nos dar liberdade financeira para perseguir o que muitas vezes desejamos e adiamos, seja uma nova carreira, uma viagem ou apenas usufruir de mais tempo. Para eles o problema não são os bens materiais, mas o consumismo compulsório. 

Depois de lançar um site, um podcast, palestrar duas vezes no TED e publicar três livros, a dupla apresentou em maio passado Minimalism - A Documentary about Important Things, disponível no Brasil via Vimeo. No filme, entrevistaram arquitetos, sociólogos, economistas e escritores sobre o tema, além de adeptos de uma vida com menos posses. "Após ouvir dezenas de pessoas, percebi que há um tema comum: todos querem ter mais controle das circunstâncias. Para os entrevistados, o minimalismo é uma maneira de retomar o comando de suas vidas", conta Joshua à Trip.

O americano traça um breve histórico da vertente: "Desde a Revolução Industrial tivemos um acesso sem precedentes a mais e mais coisas. Algumas agregam valor às nossas vidas, mas a maioria simplesmente fica pelo caminho", conta. "É um estilo de vida que remete à sabedoria de antigos filósofos, como os estóicos e Henry David Thoreau, assim como as ideias de vida simples defendidas por várias religiões e culturas", conta.

Além dos seus próprios canais, Joshua recomenda o livro Stuffocation, de James Wallman, e os sites como ExileLifestyle.com, BecomingMinimalist.com, ZenHabits.net e BeMoreWithLess.com para se aprofundar no tema. Entre as dicas práticas para incorporar o minimalismo, sugere começarmos nos questionando como nossas vidas poderiam ser melhor com menos. "Para alguns, envolve melhorar a saúde ou os relacionamentos; para outros, são liberdade financeira e mais tempo para criar. Entender o propósito de se livrar de coisas desnecessárias vai garantir que você continue." A sugestão é começar em doses homeopáticas. "Lembre-se sempre: a maneira mais fácil de organizar suas coisas é se livrar da maior parte delas."

Vai lá: Minimalism - A Documentary about Important Things

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