Crônica de um vício

por Marina Filizola

”Meu nome é Marina Filizola e sou dependente química desde que me entendo por gente”

Dezenove anos atrás eu jamais poderia imaginar que um dia faria parte da gorda fatia de dependentes químicos da nossa sociedade. Possuo uma doença progressiva fatal e incurável, e sou completamente consciente da minha dependência. 

A dependência química é uma das doenças mais solitárias e tristes que existem, deixando o câncer e a Aids, e isso falo com autonomia de quem viu a vida indo à completa falência, em segundo e terceiro lugar. Porque os portadores de outras doenças progressivas e incuráveis têm, na maior parte das vezes, o auxílio, a solidariedade e o apoio de familiares e amigos. Mas, quando o assunto é drogas, a sociedade ainda é bastante ignorante. Esse universo é sombrio e distante para muitas pessoas, até mesmo para aquelas estudadas que dizem ser solidárias, mas que, ao ver que a falência espiritual é muito mais profunda do que se pode imaginar, se assustam. Os dependentes químicos quase sempre não têm apenas o corpo deteriorado, têm também a parte espiritual devastada - e quase sempre estão sozinhos na sua luta pela sobriedade. Uma doença em que o indivíduo mente, rouba e destrói tudo o que esta à sua volta não poderia nos dar outro fim que não a solidão abismal. Ninguém fica perto de um dependente químico na ativa, pode acreditar.

Meu nome é Marina Filizola e sou dependente química desde que me entendo por gente. 

“Quando eu não estava usando drogas, eu estava treinando para buscar a mesma sensação de ser invencível”
Marina Filizola

Aos quinze anos comecei a experimentar drogas e nunca mais parei. Muitos anos depois, à custa de muito estudo e determinação, compreendi que eu não possuía apenas um distúrbio comportamental, mas sim uma doença progressiva fatal e incurável, que poderia ser controlada. Usei drogas moderadamente por muitos anos e, pra fazer a conta exata, durante quinze dos dezessete anos em que passei completamente amortecida e entorpecida, caminhei aos trancos e barrancos em meio a puro divertimento: um caminho bastante eficaz para me enturmar socialmente em dezenas de núcleos. E eu jamais conseguiria fazer isso se não experimentasse drogas. As pessoas passam parte da vida buscando a aprovação dos outros, e eu não fugi à exceção.

Cresci uma menina ativa, atleta, ligada à arte da escrita, da interpretação, às artes circenses, à música brasileira. Sempre muito bem engajada socialmente. Comecei a trabalhar como modelo aos 14 anos e nunca mais parei. Participei de inúmeras campanhas de sucesso, propagandas, catálogos e desfiles. Sempre fui uma modelo muito bem cotada, sempre indicada para campanhas de esporte, muito reconhecida entre os produtores de cinema. Era um mercado fascinante e perigoso para um dependente químico, permeado de festas e flashes.

Em quase tudo o que fiz na vida, as drogas sempre protagonizaram um enredo terrível ao meu redor. Como atleta, passei anos representando todo tipo de esportes. Dona de títulos brasileiros de canoagem havaiana, sempre uma excelente atleta independente do uso de drogas. Remava melhor que muito homem. Eu era incansável. Treinava dia e noite, viajava duas vezes por semana para remar no canal de Santos e voltava arrasada de tanto esforço físico. Muitas vezes o esporte foi minha salvação.

A obsessão na minha vida mudava de foco de tempos em tempos, mas sempre estava presente em tudo o que eu fizesse. Eu buscava nas drogas o que o esporte me oferecia: a adrenalina. Vencer obstáculos. Ultrapassar os limites do corpo. A droga conseguia me trazer isso por alguns instantes. E quando eu não estava usando drogas, eu estava treinando para buscar a mesma sensação de ser invencível. Usei o esporte como droga por muitos anos. Mas custei a entender isso. Trabalhei como trapezista aérea em circo e ir além dos limite sempre me fascinou. O trapézio me fazia voar, me colocava no limite do medo e da glória, na beira do abismo.

Estudei incansavelmente para ser atriz, com os melhores profissionais da área: como tudo o que eu fazia, fazia incansavelmente, independente do que fosse (e foi assim em todas as áreas da minha vida, em toda a minha longa história). Fui sossegar o faixo como atriz quando me vi dentro da Rede Globo, numa minissérie dirigida pela Glória Perez, e fiquei bastante decepcionada com o mundo da telenovela, um grande mercado de vaidades, depois disso nunca mais quis trabalhar com aquilo. Trabalhei por dois anos com um salário invejável para meninas, na época com dezoito anos, interpretando uma personagem no extinto programa da TV Bandeirantes. E, por fazer tantos, esportes acabei também sendo convidada para participar de esporte radical, do qual quase saí vencedora.

Minha vida parecia um conto de fadas. 

Eu sempre tive muito sucesso em tudo o que decidi fazer e conheci inúmeras pessoas interessantes.

Mas todo esse sucesso nunca se igualou ao meu fracasso com as drogas. 

Das drogas, eu nunca ganhei. 

Perdi feio.

Minha mãe, uma vez, num campeonato de canoa havaiana em Santos, depois de eu ganhar o pódio em três categorias diferentes, ao me dar parabéns me disse: “E das drogas, quando você vai ganhar?" Isso ficou marcado pra sempre na minha memória. Me lembro como se fosse hoje. Eu nunca mais consegui parar de pensar nisso. 

A dependência química é uma roleta russa. Você nunca vai saber se você tem uma predisposição genética para desenvolver a dependência. Experimentar drogas é um risco muito grande. Que cobra um preço muito caro. No meu caso, a roleta russa engatilhou uma bala de calibre 38 que está alojada até hoje na minha coluna cervical. A dependência química não tem cura. E o tratamento é pra vida inteira. Isso pra quem quiser viver limpo, e só quem passou pela devastação das drogas tem esse desejo enraizado na alma. Quem vem do inferno não quer voltar pra lá.

Por quase quinze anos usei drogas de uma maneira controlada. Isso quer dizer que minha vida não parava por completo, eu conseguia de certa forma administrar meu uso. Isso se chama ser um adicto funcional. O adicto funcional vai arrastando por anos a doença, até ela de fato parar com sua vida. Foram nos últimos dois anos de uso que a doença atingiu o pico de sua progressão: o uso descontrolado, o isolamento, a obsessão pela drogas e a compulsão desenfreada no uso. Foi quando bio psico e socialmente minha vida, de uma vez por todas, ficou descontrolada. Meu corpo estava cada vez mais magro, mais doente. Minha cabeça pensava única e exclusivamente em maneiras de conseguir mais drogas. E não tinha mais amigos. Eu vivia para usar e usava para viver. Minha família estava aos frangalhos, minha mãe não sabia mais o que fazer. Depois de me internar duas vezes, percebeu que enquanto eu realmente não quisesse mudar minha vida, nada me faria parar de usar drogas.

As internações funcionaram para quebrar o ciclo nas minhas piores recaídas, e se ninguém parava o processo de destruição, as chances de eu morrer eram muito grandes. Depois, fui entender que, de onde eu estava, ainda poderia piorar muito mais. Parece impossível, mas o que eu achava ruim poderia ter tomado dimensões muito maiores e ter se tornado um problema irreversível. As estatísticas não são boas para um dependentes químico: as chances da morte virar o desfecho final da história são muito grandes. Uma hora o corpo simplesmente não aguenta e a corda arrebenta. Foi nessa época que decidi ir conhecer a sala de Narcóticos Anônimos e, confesso, fiz por minha mãe. Foi a primeira vez que conheci o programa e  ingressei no grupo dos Jardins. Infelizmente, nunca mais voltei.

Continuei acreditando que o que vivia era a melhor vida do mundo, mas, como nós dependentes costumamos dizer, eu ainda não tinha, de fato, perdido tudo. É preciso que aconteça uma catástrofe na vida de um adicto para que ele resolva tomar uma providencia real. É uma judiação o processo de devastação da doença. Muita desgraça poderia ter sido evitada se eu tivesse parado na sala de NA da primeira vez que ingressei. Mas não foi isso que aconteceu. Nesse dois anos fora da sala, a progressão da doença desandou de vez. Minha vida, que até então caminhava a passos lentos, freou de uma vez por todas. Eu não conseguia fazer nada além de me drogar. Dia e noite. Passei a mentir, a roubar, tive meu carro confiscado pela família, minha conta bancaria anulada. Tudo foi feito para que eu tivesse cada vez menos acesso às drogas. Acontece que, quando um dependente químico quer usar sua droga de escolha, ele acha um meio de consegui-la, custe o que custar.

Cada dia eu estava mais isolada, me afastei de toda e qualquer pessoa que quis me ajudar, passava as noite e muitos fins de semana enfurnada dentro da favela, ouvindo Racionais e me drogando. Em pouco tempo percebi que meu melhor amigo era o traficante, a única pessoa com quem eu me sentia segura para conversar. Presenciei tiroteios, tomei geral da policia, vi pessoas sendo esfaqueadas e uma vez passei horas dentro de um bueiro numa crise grave de alucinação e paranoia dentro da favela.

Tive dois princípios de overdose e numa crise terrível de abstinência dilacerei meus pulsos com uma tesoura escolar na tentativa frustrada de dar um fim a todo aquele sofrimento. Não morri pois ainda não era a hora. A coisa estava realmente feia para o meu lado. Comecei a ter fortes crises de alucinação e foram vários os alertas dos meus psiquiatras de que eu estava a um passo de desenvolver uma esquizofrenia aguda, e aí sim eu acabaria de vez numa clinica psiquiátrica usando fraldas, babando e encolhida num canto. Eu vivia um pesadelo. Por vezes fui buscar drogas chorando, eu não queria mais usar mas meu corpo não me obedecia.

É um desespero indescritível perder o controle sobre as próprias escolhas. Costumamos dizer entre companheiros de recuperação que a droga nos roubou a liberdade de escolha. Vivia em lugares horrorosos, com pessoas que não conhecia, usando drogas para anestesiar qualquer tipo de sensação que me trouxesse mais próxima da realidade. Eu era mais uma escrava da dependência, vendo minha vida meu futuro e meus planos escoando pelo ralo, minha família adoecida, e até meu cachorro absorveu minha doença e caiu de cama. Segundo o veterinário, ele absorvia e somatizava tudo o que eu estava passando. Enquanto não me curasse, ele também não melhoraria, e tinha grandes chances de morrer, pois não comia há semanas, assim como eu. Aquilo me impressionou muito. Chico, esse é o nome dele, era e é o meu maior e melhor parceiro. Nunca saia do meu lado. Até na doença, ele estava comigo.

Certo dia tive um flash de sobriedade. Estava devastada. Ninguém mais acreditava no que eu falava, quase tudo mentira na maior parte do tempo. Minha mãe saía de casa quando eu chegava, não aguentava mais aquela minha rotina de destruição. Sempre paranóica, sempre articulando como conseguir mais drogas, muitas vezes tendo surtos de perseguição, escondida no banheiro ou em cima do telhado duelando com pessoas imaginárias. Era exaustivo.

Meus irmãos não falavam mais comigo e nem poderiam: me tornei uma menina extremamente agressiva. Em tudo estava refletido a dependência. Meus contos, na época, eram de extremo descontentamento e ira. Eu andava armada com facas, bastões de ferro e soco inglês. Em tudo o que fazia lá estava minha doença, alastrando seu vírus e deixando marcas profundas, marcas essas que terei de carregar comigo para o resto da vida. Era cortante. E acho que essa palavra define bem o sentimento de impotência que eu sentia toda vez que percebia, em insights de lucidez, que não conseguiria e nem poderia administrar minha vida naquele estado em que eu me encontrava. E então logo tornava a me drogar de novo pois a realidade que existia para mim não era nada bonita, eu sabia que tinha um futuro bem incerto pela frente, para não dizer curto, e não conseguia olhar o mundo de frente.

As portas dos quartos vivam trancadas porque eu roubava e minha família não se sentia mais à vontade na minha presença. Como se eu tivesse me tornado uma desconhecida. E, de fato, aquela pessoa, que agia daquela forma, não era eu. Eu tinha virado uma sombra, um vulto, uma assombração. Abduzida pelas drogas, pela doença comportamental mais arrasadora do século, e só famílias que sofrem o drama de ter um dependente na família sabem exatamente do que estou falando. 

No dia 17 de novembro de 2012, e nunca mais esquecerei essa data, peguei minha mochila, a réstia de autoestima que me sobrava, subi na bicicleta e pedalei em direção à sala de Narcóticos Anônimos. Daquela vez, pra ficar. Eu precisava de ajuda. Muita ajuda. E o primeiro passo foi minha rendição completa quanto ao uso de drogas: admitir que eu era impotente perante as drogas e que minha vida, se é que aquilo podia ser chamado de vida, tinha se tornado incontrolável.

Pela primeira vez em anos, dentro daquela sala azul e no meio daquelas pessoas estranhas que tinham vivido, se não pior, a mesma história que eu, me senti em casa. Meus olhos se enchiam de água, eu chorava escutando as partilhas que pareciam estar sendo ditas para mim. Me reconhecia naquelas partilhas de força, fé e esperança. Lá era o único lugar do mundo onde me sentia segura e acolhida. Depois de anos de inadequação social tive a certeza de que eu fazia parte de alguma coisa e que ali as pessoas me escutavam sem me julgar.

A sala se tornou minha segunda casa, e é até hoje. Lembro exatamente quando um companheiro, hoje grande amigo, sentou ao meu lado e disse: "Nós acreditamos em você, e você vai sair dessa. Dá pra ver em seus olhos que você não aguenta mais". Nunca mais deixei de ir à sala. Lá, eu sabia, era meu único e último caminho para sair de vez daquele ciclo monstruoso de destruição. Apenas chegam numa sala de NA pessoas que nem eu, quem não tem mais pra onde ir. Que já tentaram de tudo. Ninguém senta numa cadeira de Narcóticos Anônimos por causa de uma ressaca, por causa de uma rebordosa. As pessoas que sentam naquelas cadeira azuis perderam tudo. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo.

Cada companheiro que está sentado na sala está lutando ferozmente pela vida. Infelizmente, é uma escolha que poucos dependentes fazem. Narcóticos Anônimos não obriga ninguém a estar na sala. As portas estão abertas para quem quiser ficar. E abertas para quem quiser partir. É um programa de liberdade, que lhe sugere coisas simples a serem feitas. Gosto de dizer que para ficar limpo não é preciso fazer nada extremamente complicado. Basta abrir a mente e seguir o que é sugerido pelo programa. E um dia de cada vez, a vida vai se tornando menos complicada e, com o tempo, e o tempo é longo mesmo, conseguimos nos inserir de volta na sociedade como pessoas úteis.

Eu poderia escrever páginas e páginas sobre o programa de Narcóticos Anônimos, mas não é esse meu objetivo. Para quem quiser conhecer o NA, as portas sempre estão abertas e estaremos esperando de braços abertos, vivendo uma vida simples um dia de cada vez.

Eu só queria dizer que foi lá que salvei minha vida. 

Descobri uma nova forma de viver.

E mudei meu destino pra sempre.

“Pela primeira vez, depois de anos, eu estava apaixonada sem ter medo de sentir, sem correr para me drogar como sempre fazia. ”
Marina Filizola

Parece burrice e estupidez falar isso, mas às vezes teimo em acreditar que eu tinha que passar por tudo o que passei para ser quem sou hoje. No dia em que sentei naquela cadeira, me apaixonei por um companheiro. Escutava atenta tudo o que ele dizia e sentia que suas verdades tinham uma força devastadora sobre mim. Pela primeira vez, depois de anos, eu estava apaixonada sem ter medo de sentir, sem correr para me drogar como sempre fazia.

Com o tempo percebi que muitas pessoas passavam por lá, mas poucas ficavam. Eu era para ele, que já frequentava a sala há longos anos, mais uma dependente química que buscava recuperar a confiança e viver em paz, e ele não ia dar o braço a torcer e abrir espaço em sua vida tão fácil. Mas fiquei. E nos conhecemos melhor, tomamos cafés, tardes e mais tardes conversando sobre a vida velha e comemorando a vida nova que estava chegando. Demorou para que ele acreditasse que de fato eu queria me recuperar, que queria mudar de vida e voltar a ser quem eu era.

Hoje, ele é meu ex-marido, e me ensinou dia a dia a arte de viver sóbria, de sentir sem anestesiar, de ser feliz. É a pessoa mais amorosa e generosa que conheci em toda vida. Que deu risadas comigo de situações em que eu tive vontade de chorar e que apenas dois adictos poderiam entender a graça. É muito irônico que eu só tenha entendido o que é amor de verdade aos trinta anos de idade, dentro de uma sala de Narcóticos Anônimos, e serei grata eternamente por ter tido essa oportunidade em minha vida. Poderia ter passado por essa vida sem sequer saber o que era amor, entrega, companheirismo. Meu ex-marido, que faz aniversario dia 17 de fevereiro, mesmo dia que eu, me deu o maior presente da minha vida: meu filho, também nascido dia 17 de fevereiro, como o papai e a mamãe. Minha família foi fruto de Narcóticos Anônimos, e tenho o maior orgulho do mundo de dizer isso. 

Sobrevivi, dei uma bica certeira bem no meio das probabilidades. Na verdade, não ganhei das drogas. Simplesmente admiti que perdi para elas, é bem diferente. Hoje, faço parte de uma pequena fatia de dependentes químicos que se deram a oportunidade de zerar o destino. Que formou uma família feliz e saudável. Não acredito em coincidências, coincidências não existem. Minha história já estava traçada. 

A partir do momento em que comecei a me recuperar, com a mesma obstinação que tinha para usar drogas (é preciso lembrar que, para salvar minha vida, eu apenas usei a mesma energia que tinha para me destruir), foi que me decidi a entrar numa oficina literária e fazer da escrita minha vida. Assim, como um dia quis ser atriz, atleta e trapezista. A escrita sempre esteve presente no meu caminho, muitas das coisas que eu sentia, não conseguia falar. Só escrever. Tenho milhões de poemas contos e textos que destilei da saga da dependência. E mais uma vez lá estava eu, obstinada a ir até o fim e me tornar uma escritora para poder gritar para o mundo todo minha história, queria ser ouvida e servir de exemplo para toda e qualquer pessoa que passasse pelo mesmo drama que eu. Por que não? Eu tenho muito a dizer.

Costumo brincar que meu grito nunca terá fim. Apadrinhada por Marcelino Freire, aos poucos fui trabalhando meus textos e acabei me descobrindo dentro da literatura. Entendi como meus contos pulsavam, como respirava nas linhas, quem era Marina Filizola e o que eu tinha de fato a dizer. O trabalho foi de lapidação, dedicação e entrega. Foi na escrita que vomitei todos os monstros que havia dentro de mim e, confesso, são muitos. Serviu e ainda serve como grande terapia e maneira única de trabalhar tanto sentimento enjaulado, tanta imagem guardada, tanta humanidade conquistada no tapa.

Chico, meu cachorro, está curado. Nunca mais ficou triste. E ganhou uma dona amorosa, companheira, dedicada e atenta às suas necessidades. Continua ao meu lado aonde quer que eu vá. Mas, agora ele sabe, estou caminhando na direção certa. Eu, ele, meu filho e meu marido somos uma família completa e feliz.

Sou grata à Narcóticos Anônimos por ter me ensinado a viver uma vida simples, um dia de cada vez.

Vou terminar dizendo que tenho total consciência clareza e aceitação de que sou e continuarei sendo dependente química para o resto da vida, e que se eu esquecer por alguns minutos de onde venho e toda a minha história, as chances de uma recaída acontecer são enormes. Tenho uma batalha pra vida toda.

E é com o peito aberto que me entrego a essa luta, que até hoje eu venho vencendo.

E é só por hoje.

Continuarei vivendo um dia de cada vez.

Obrigada por me ouvirem de mente aberta.

Marina Filizola é escritora e autora do livro Leite em Pó (Editora Planeta). Já foi Trip Girl duas vezes, em 2001 e 2014

 

Vai Lá: Lançamento do livro Leite em Pó
Quando:
23 de março
Onde:
Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em São Paulo

Créditos

Mirjana Veljovic. "Collage" @ Flickr http://bit.ly/22me7Pu

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