Peçonha eletrônica

por Piti Vieira

Criadoras de uma das maiores festas do circuito independente paulistano lançam selo que promove músicos da cena, o MambaRec

Foi nos bueiros das ruas do centro de São Paulo, nos terraços de prédios abandonados e no coração dos mais rebeldes que uma nova e perigosa espécie de serpente nasceu, depositou seus ovos e se multiplicou. O nome das víboras? Carol Schutze, a Cashu, e Laura Diaz, a Carneosso. Elas são as criadoras de uma das maiores e mais importantes festas multilinguagens que há três anos abala a estética e a moral do circuito independente da capital paulistana: a Mamba Negra. “Ela é, antes de tudo, uma f(r)esta. A cidade, por sua vez, é nossa arena”, conta Laura.

A história da Mamba começa a se desenhar no fim da década passada, um momento de intensa efervescência cultural e política no centro de São Paulo, quando festas como a Voodoohop, a Canil e a Gente que Transa reivindicavam a reapropriação de espaços ociosos e degradados por meio do diálogo entre inúmeras linguagens artísticas. Laura (que foi Trip Girl em 2013)e Carol se conheceram ajudando a organizar essas festas.

“Mas a Mamba nasceu mesmo numa lua cheia de 24 de maio de 2013. A primeira festa começou como ‘nosso aniversário’”, lembra Cashu. “Cheguei no almoço com o nome Mamba Negra, descobrimos que éramos serpente no horóscopo chinês. Às 22 horas, a gente tinha um flyer e um evento privado no Face.” A entrada custava R$ 10 para ajudar com o gelo, a bebida e o combustível do gerador. “Meia-noite a porta do nosso prédio tinha uma fila gigante. Às 4 horas não conseguimos mais conter as vindas polícia, que chegava até que numa boa por conta de vizinhos não tão numa boa.”

Mesmo fora do mainstream de grandes clubes e boates, a festa cresceu e ganhou um vasto e fiel público – mantendo sempre a proposta original (um tanto política) de tensionar polêmicas questões culturais, sociais e morais.

A última serpenteada de Cashu e Carneosso foi a MambaRec, selo que lança e promove a música e os músicos que tocam nas festas. “O bote é rápido, mas o deslocamento é econômico, orgânico, não temos recursos para esbanjar. A ideia de fazer um selo sempre esteve no nosso horizonte por representar uma maturidade de poder produzir o próprio som e identidade”, explica Cashu. A estreia do selo foi em agosto com o lançamento, digital e em vinil, do primeiro EP do Teto Preto, Gasolina. Apesar do bote curto, a Mamba tem veneno de sobra e não pretende parar por aqui: “Não queremos afobação. No momento a perspectiva política é bem grave e isso tem consequências políticas, econômicas, sociais e inclusive estéticas. Temos mais coisa do que imaginam para lutar para não retrocedermos anos na cena que estamos construindo com tanto carinho e afinco”, conta Laura.

Vai lá: fb.com/mambanegraholes

Créditos

Imagem principal: Ariel Martini

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