por Luiz Alberto Mendes

”Estive internado no Hospital das Clínicas recentemente e ali as atuações humanas ficam expostas em carne viva”

Quanto mais penso, mais acho o ser humano incrível. Tanto em um sentido quanto no outro. Ele pode ser extremamente bom, inteligente e capaz. Ao tempo em que perverso, egoísta, ignorante e incapaz de enxergar um palmo além do nariz. Das misérias humanas, a que mais me agride é o orgulho de se achar melhor que o outro. Isso de se colocar acima das outras pessoas é o grande impedimento de nossa era. Estive internado no Hospital das Clínicas recentemente e ali as atuações humanas ficam expostas em carne viva.

Claro que tem pessoas ali internadas com alguma posse, afinal é o melhor hospital da América Latina. Mas, a maioria dos doentes são pessoas de parcos rendimentos, proveniente de cidades interioranas de SP e das periferias da capital, como eu. Fiquei profundamente impressionado com o nível físico e de atendimento do hospital. Nem parece que estamos no Brasil e sim em um país de primeiro mundo. Tudo muito bem organizado, aquilo é uma cidade, creio que atende mais de 5 mil pessoas diariamente. Tudo muito limpo e instrumentalizado. Todos os exames são feitos ali mesmo e, a bem dizer, no mesmo dia. Mas os médicos, enfermeiras e auxiliares de enfermagem são um capítulo à parte.

Desde as pessoas que realizam os primeiros atendimentos aos médicos chefes de equipes, todos, com raras exceções, são educadíssimos e me atenderam com alto nível de cuidados. Foram dedicados, delicados e bastante generosos. Claro, tudo é bem demorado, também o Grande Hospital atende milhares de pessoas diariamente; não há como tudo ser rápido e urgente com todos. É preciso compreensão para se ter paciência.

As técnicas em enfermagem (a maioria esmagadora é de mulheres), as primeiras a nos receberem, me deixaram perplexo com o grau de preocupação que demonstraram sobre minha pessoa. Juro que me senti um príncipe. Tomei trocentas injeções, fiquei preso ao soro, ao sangue e ao dreno por dias. Pois elas vinham no quarto o tempo todo. Alias, o quarto era mobiliado com equipamento de ultima geração, as macas semi-novas, automáticas (era só apertar botões que elas subiam e desciam a parte que a gente quisesse), tudo muito higiênico; gel nas mãos para entrar e para sair do quarto. Pacote de luvas cirúrgicas sempre à mão das enfermeiras, televisão e banheiro adaptado às necessidades ambientes. A higienização, limpeza sistemática e no máximo quatro pacientes, bem confortavelmente instalados, por quarto.

O atendimento fantástico! Raramente o quarto não tinha uma enfermeira ou um médico dentro. Alias, de dia não havia sossego, era uma tal profusão de enfermeiros, médicos, estudantes de medicina, enfermagem e visitantes, que nem dava para dormir. Sempre havia alguém para conversar. Quando não era os fisioterapeutas querendo nos tirar das camas macias para nos exercitar, eram as enfermeiras querendo que fôssemos tomar banho para realizar a faxina, trocar nossa roupa de cama e o pijama.

Três vezes ao dia entrava uma enfermeira com um carrinho para injeções, coleta de sangue para exames e nos dar os remédios. E não saiam enquanto não tomássemos as medicações. E conversavam, brincavam e riam conosco o tempo todo. Parecia orientação: elas viravam nossas amigas rapidamente, nos identificavam pelo nome e sabiam tudo sobre cada um de nós. Dava a maior tranquilidade, a gente tinha certeza que acontecesse o que acontecesse, estaríamos protegidos e cuidados até o fim.

Os médicos eram gentis e viviam atrás de nós. De manhã cedo queriam saber se dormimos bem, se havíamos sentido dor, inspecionavam os curativos, abriam nossos olhos para olhar, apertavam aqui e ali delicadamente... De tarde e de noite a mesma coisa. Eles só nos deixavam à noite, eram tantos cuidados que dava até alívio quando chegava à noite e só estávamos nós e nossos visitantes no quarto. Então entrava o vampiro. Era um enfermeiro que vinha colher nosso sangue para exames durante à noite. Era naquele exame que o médico se baseava para poder receitar a nossa dieta e medicação necessárias para o dia.

Sempre tive uma péssima visão sobre o funcionário público, ao receber alta estava certo que ter recebido o melhor tratamento possível. Meu coração estava leve e só tinha a agradecer. Me despedi de todos com uma gratidão e um sorriso verdadeiros estampados no rosto. Parte de minha recuperação devo a essa gente boa, humana e que me fez acreditar ainda mais que a vida pode ser bela e a convivência maravilhosa!

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