por Luiz Alberto Mendes

”Fui meu pior inimigo, me fiz sofrer e me coloquei sob a sanha das piores criaturas do sistema prisional do Estado de São Paulo. Sou o responsável por toda dor que gerei”

Quem é meu maior inimigo?

Quem foi que, julgando não suportar mais o ambiente em casa e fascinado pelo brilho dos neons, fugiu de casa aos 11, 12 anos de idade e foi passar fome e necessidades nas ruas da cidade?

Quem foi que, em vez de correr atrás de alguém que o ajudasse a trabalhar, foi atrás daqueles meninos de rua que já roubavam para sobreviver? Quem foi que, com sede de aventuras e diversões, se enturmou com os meninos-sobreviventes e aprendeu todos os tipos de modo de se apropriar do que era dos outros? Quem foi que se esqueceu rapidamente de tudo sobre a honestidade que sua mãe havia lhe ensinado?

Quem foi que, ansiando pela aventura e pelo poder das armas, se muniu delas para assaltar e se afirmar, assim que pode? Quem foi que procurou desesperadamente por parceiros para efetuar crimes, roubos e vandalismos? E quando os encontrou, quem quis chefiá-los, quem quis levá-los para roubos mais ousados e que lhes rendessem mais dinheiro, a qualquer custo?

Quem foi que sempre atirou primeiro em tiroteios com a polícia e que, no dia da prisão, descarregou as armas na direção dos policiais, baleando dois deles? Quem cometeu os roubos, o latrocínio e depois, já preso, o assassinato de outro preso que totalizaram suas condenações há mais de 100 anos de penas? Quem se envolveu nas máfias da prisão que lhe renderam cerca de 1 ano de cela-forte e 6 meses de observação nas mãos da psiquiatria? Quem se fez por merecer cumprir 31 anos e 10 meses de prisão?

Fui eu. Fui meu pior inimigo, me fiz sofrer e me coloquei sob a sanha das piores criaturas do sistema prisional do Estado de São Paulo. Sou o responsável por toda dor que gerei para mim mesmo e para todos que me amaram, inclusive minha mãe que nada tinha a ver com isso. Fui seu algoz, a razão direta de sua vida sofrida.

Mas se nós devemos amar nossos inimigos, eu, como meu maior inimigo, consegui, apesar de, me amar demais. Depois aprendi a ler, a estudar e me desenvolvi. Aprendi a ensinar e cresci. Cheguei a um ponto de que meus inimigos se tornaram meus amigos e não precisei mais combatê-los ou me defender deles. O amor é a única forma que temos de captar o outro ser humano, penetrar no íntimo de sua individualidade e compreendê-lo. Fazem até falta porque suas críticas, oposições e perseguições sempre me fizeram enxergar meus pés de barro. Foram eles que quem me mantiveram atento a mim mesmo.    

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