por Luiz Alberto Mendes

”A função do escritor, antes de buscar a perfeição de suas palavras ou se iludir achando que entende o mundo e a vida, é ajudar as pessoas a apurarem suas visões”

Tudo nessa vida é desafio e se apresenta como um problema a ser solucionado. Viver a nós mesmos é uma tarefa que somos designados a cumprir e que só à nossa consciência devemos explicações.

Em assim pensando, acredito que, depois de refletir em 64 anos de vida, mais de 40 anos de leituras e cerca de 14 anos tentando viver como escritor, que ser escritor não é descrever o mundo, pintá-lo como um realista; não é missão do escritor entender o mundo ou a vida e posteriormente interpretá-los.

Tive um amigo pintor que pintava o tempo todo, em todo lugar e de todos os modos possíveis (até tatuando corpos) e que não dava o menor valor à sua produção. Dava de graça, rasgava, jogava fora quadros magnificamente desenhados ou pintados. Quando perguntei o porque de tal desdém, desprezo mesmo, pela arte que criava, afirmou que não dava valor porque não conseguira, naqueles trabalhos, o que buscava. E o que, afinal de contas, procurava? O traço perfeito. Aquela pincelada mágica que transmitiria tudo o que queria dizer e que as pessoas entendessem tudo, sem dúvidas ou interpretações, ao bater os olhos sobre a arte que produzira.

Fiquei tão impressionado pela sua resposta que, a partir daí, andei desesperado atrás da palavra perfeita, como ele do traço perfeito. Como ele morreu e não conseguiu realizar o que buscava, passei a refletir sobre isso, percebi que nunca conseguiria fazer nada perfeito, já que sou imperfeito. Acabei por desistir de procurar essa utopia. Mas continuou o aprendizado e a busca pelo aproximado.

Perguntei-me no que podemos contribuir com a existência dos outros se captarmos o que se passa no mundo, na vida, e passarmos para as pessoas, senão nossa particular visão de mundo? Creio que a função do escritor, antes de buscar a perfeição de suas palavras ou se iludir achando que entende o mundo e a vida, é ajudar as pessoas a apurarem suas visões. Construírem lentes, a se munirem de óculos para que se capacitem a enxergar o mundo e a vida como ela é realmente a seus olhos.

A missão do escritor, me parece, é alargar o campo de visão das pessoas de modo a que elas possam captar todo o sentido que a existência possa possuir para elas.

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