Para entender o nazismo

por Redação

O livro ”Diário de um desesperado”, do alemão Friedrich Reck, ganha sua primeira versão em português, em tradução de André Caramuru Aubert

O alemão Friedrich Reck morreu em 1944 no campo de concentração de Dachau como inimigo do regime de Adolf Hitler, apesar de ser aristocrata e conservador. Ele deixou um diário, escrito nos oito anos anteriores, com suas impressões de como era viver na Alemanha nazista, publicado originalmente em 1947.

O livro – que se tornou tão clássico a ponto de ser chamado pela filósofa Hannah Arendt de “Um dos testemunhos mais importantes da Alemanha de Hitler” – ganha agora sua primeira tradução para o português, feita pelo historiador e escritor André Caramuru Aubert, que é colunista da Trip, com o título Diário de um desesperado (Sesi-SP Editora).

“Acho que a maior contribuição do Reck (um monarquista conservador, mas nem por isso um antinazista radical) é mostrar que o nazismo é um fenômeno mais complexo do que as caricaturas (marchas, uniformes e demais signos) e os extremos (como o racismo e Holocausto) nos mostram”, diz André. “O nazismo é algo que atenta contra as liberdades e os direitos mais básicos dos seres humanos, e o relato de Reck nos ajuda a colocar isso em suas reais dimensões.”

A contextualização vem a calhar em um momento em que vemos manifestações inspiradas pelo nazismo em vários países ao redor do mundo. Em um trecho do livro, por exemplo, Reck critica os planos de revolta tardios contra Hitler, já em 1944:

Francamente, cavalheiros, agora é um pouco tarde. Vocês criaram esse monstro, e enquanto as coisas estavam indo bem vocês deram a ele tudo que ele queria. Vocês entregaram a Alemanha a esse arquicriminoso, vocês juraram fidelidade a ele por todo rito inacreditável que ele decidiu impor a vocês – vocês, oficiais da Coroa, todos vocês. E assim vocês transformaram a si mesmos nos mamelucos de um homem que carrega na cabeça a responsabilidade por centenas de milhares de assassinatos e que é a causa da tristeza e o objeto das maldições de todo o mundo.

A edição brasileira nasceu da dissertação que André fez para seu mestrado em história, defendida na Universidade de São Paulo em 2016. O livro conta com uma introdução e quase 300 notas de rodapé e será lançado em São Paulo no dia 24/8, na Livraria da Vila – Fradique.

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Créditos

Imagem principal: Domínio Público

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