por Ricardo Calil
Trip #205

A dona dos olhos mais bonitos que apareceram nas telas brasileiras neste ano

O futuro é mulher: Juliana Schalch dança balé, estuda teatro, faz trabalho comunitário e trancou psicologia. Ah sim, ela é também a dona dos olhos mais bonitos que apareceram nas telas brasileiras neste ano (como provam o filme Os 3 e a novela Morde & Assopra), entre outros atributos que você vê neste seu primeiro ensaio para uma revista

Se os olhos são mesmo a janela da alma, o espelho do mundo, como definia Leonardo da Vinci, então a primeira coisa que precisa ser dita sobre Juliana Schalch é: “Uau, que alma!”.

Embora tenha diversos atributos evidentes, são os olhos castanho-esverdeados da atriz que chamam a atenção de cara: grandes, atentos, densos, levemente úmidos – o que lhe dá um ar de tristeza e sabedoria que contrasta com a juventude de seus 26 anos. Cineastas europeus se digladiariam para encontrar uma atriz assim. Mas seus colegas brasileiros parecem dispostos a tirar o atraso.

Depois de pequenos papéis em Tropa de Elite 2 e VIPs, Juliana Schalch (pronuncia-se “xalk”) vive sua primeira protagonista em Os 3, produção da O2 dirigida por Nando Olival, que estreia neste 11 de novembro. Em e-mail à Trip, o cineasta conta por que escolheu Juliana: “Vou dizer o quê? Que ela é linda, charmosa, sedutora? Ou que tem um bom humor eletrizante? Que foi isso que transbordava durante os ensaios? Falar que além disso ela é cativante e talentosa? Enfim, que ela tem essas coisas que nem mesmo nome inventaram e que só as grandes atrizes do cinema têm?”.

Como sugere o título, o filme retrata um triângulo amoroso entre a personagem de Juliana e dois colegas de faculdade. A atriz paulistana conta ter vivido experiência semelhante em seu primeiro ano de Escola de Arte Dramática (EAD), na USP. “Os personagens estão passando por uma fase que eu vivenciei, de experimentação da sexualidade. Não cheguei a participar de orgias. Mas beijei a boca de outras mulheres, dancei com várias pessoas, expus meu corpo sem problemas. Não foi só oba-oba. Eram festas de amor, de se permitir amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo”, lembra.

“Foi importante, até para o meu trabalho de atriz, passar por esse momento de quebra de couraças, de romper tabus com meu corpo, de enfrentar a minha timidez. Uma professora da EAD me dizia: “Não existe ator assexuado”. E ela tem razão. A sexualidade é um carisma, uma potência, um estado. A mulher não tem que querer ser sensual. Ela é sensual só de estar ali, presente, íntegra, sendo ela mesma. Acho que este ensaio para a Trip tem bastante disso”.

“Sexo é intimidade, é o momento de reencontro com o outro. Tudo que você é aparece no sexo. Não dá para ficar muito tempo sem ter um orgasmo”

Não foi só o cinema que descobriu Juliana. Neste ano, a atriz já participou de Morde & assopra, sua segunda novela global, depois de Três irmãs, de 2009. E acaba de ser convidada para gravar a minissérie Brado retumbante, que vai ao ar em janeiro. Vista como um fim para grande parte dos jovens atores brasileiros, a chegada à Globo é encarada por ela como um pedaço do caminho. “Eu gosto de passear por várias linguagens. E nunca quero parar de estudar, de tentar entender o que é o trabalho do ator”, diz a atriz – que fez dança durante muitos anos, entrou em psicologia na PUC e depois trancou matrícula, e ainda quer se formar pela EAD.

Taurina tímida, primogênita de um casal de economistas, nascida e crescida em São Paulo, Juliana conta que a experiência de viver no Rio durante as gravações das novelas não foi fácil. “Eu me senti muito solitária. Sou muito paulistana, e o carioca tem outra frequência. Não conhecia muita gente, não sabia como a Globo funcionava, morei num hotel na Barra. E eu gosto muito do meu canto, de ter um lugar meu para voltar depois do trabalho. Além disso, meu coração ficou em São Paulo.” O coração, no caso, atende pelo nome de Henrique Guimarães, também ator. Os dois estão juntos há quatro anos, mudaram-se faz pouco tempo para uma casa em Ibiúna, a uma hora de São Paulo, e pretendem se casar em breve. “Sou uma pessoa caseira, da família, do aconchego”, diz. Mas o sexo não fica em segundo plano. “Sexo é intimidade, é o momento de reencontro com o outro. Tudo que você é aparece no sexo. Não dá para ficar muito tempo sem ter um orgasmo.”

Além da dedicação ao namorado e ao trabalho, Juliana ocupa boa parte de seu tempo em um trabalho social com o coletivo Já, que promove debates sobre ética e política, exibições de filmes e apresentações musicais em comunidades e aldeias indígenas. “Eu me sinto conectada a todos esses movimentos de transformação que estão ocorrendo pelo mundo. A juventude entendeu que não pode lidar com os problemas de um lugar como se estivesse à parte deles, como se não tivesse que dar sua contribuição. Eu tento dar a minha.” Os olhos não enganam: Juliana é uma atriz com alma.

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