por Bruna Bittencourt

Sequência de Trainspotting reúne os mesmos personagens 20 anos depois, sob a luz da meia-idade

"Escolha a vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha máquinas de lavar, carros, CD players e abridores de latas elétricos. Escolha saúde, colesterol baixo e seguro dentário..." Com esse famoso discurso em off e ao som de Lust for Life, de Iggy Pop, Renton, personagem interpretado por Ewan McGregor, abria Trainspotting - Sem Limites (1996) correndo, literalmente, da polícia. "Escolhi não escolher a vida. Escolhi outra coisa. E as razões? Não existem razões. Quem precisa de razões quando você tem heroína?", concluía.

Baseado no livro do Irvine Welsh sobre um grupo de viciados na Edimburgo da década de 90, o polêmico longa foi eleito um dos dez melhores filmes britânicos de todos os tempos em uma votação realizada pelo British Film Institute (BFI). Foi o responsável por apresentar Ewan McCgregor ao grande público, deslanchar a carreira do diretor inglês Danny Boyle (que viria a assinar  A Praia e Quem Quer Ser um Milionário) e consagrar Born Slippy, hit do Underworld.

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Sequência do cult, T2: Trainspotting, estreia dia 23/03 no Brasil, reúne, 21 anos depois, Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Jonny Lee Miller), Begbie (Robert Carlyle) e Renton, que retorna a Edimburgo de Amsterdã, onde vive, para voltar às boas com os três amigos. O primeiro filme, você deve lembrar, não termina bem: Renton foge com o dinheiro de uma transação de heroína que deveria ser dividido com o trio.

O roteiro de T2, assinado por John Hodge (que concorreu ao Oscar pelo longa de 1996), é apenas baseado em Porno (2002), livro de Irvine Welsh que retoma os personagens de Trainspotting, mas dez anos após a história original. Em 2008, Boyle brincou que só iria conseguir filmar a sequência do cult quando o elenco parecesse mais velho, especialmente McGregor e Lee Miller, já que a vaidade e os cuidados dos atores vinham disfarçando muito bem seus anos a mais. "Quando o tempo os devastar, estaremos esperando por eles", disse o diretor.

As rugas apareceram e o elenco voltou à Escócia. Duas décadas depois, Spud ainda é um viciado atrapalhado, Sick Boy é um cafetão que trocou a heroína pela cocaína, Franco está planejando sua fuga da cadeia e Renton parece estar melhor que todos - mas só parece.

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Com o mesmo carregado sotaque escocês (no filme original, os 20 primeiros minutos foram dublados para que a audiência americana pudesse entendesse o que diziam os atores), repleto de referências pop e recursos estéticos que caberiam em um videoclipe, T2 reúne velhos amigos lidando com o passado sob a luz melancólica da meia-idade. É triste e engraçado, nem tão arrebatador quanto o primeiro, mas está longe de decepcionar. E Renton retoma seu velho discurso, agora citando Facebook e Instagram.

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Imagem principal: Divulgação

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