Fernanda Mayrinck

por Millos Kaiser
Trip #219

38 anos, musa vegana e ativista dos direitos dos animais

Bicho solto: A defesa dos animais e o veganismo, filosofia de vida que boicota qualquer alimento ou produto de origem animal, são as causas abraçadas por Fernanda Mayrinck — que, aos 38 anos, faz seu primeiro ensaio sensual

Fernanda, pra falar a verdade não vim com perguntas prontas. A ideia é a gente ir conversando e ver o que sai disso. 

Acho ótimo. Vamos falando até a gente se perder... Adoro me perder.

Eu e Fernanda conversamos, nos perdemos, em um restaurante natureba e cheio de verde, do jeito que ela gosta, em Ipanema, bairro onde mora. Nossa Trip Girl de 38 anos – uma Trip Woman, na verdade – vestia regata branca soltinha, daquelas que não escondem, mas também não mostram, saia longa, sapatilhas e óculos estilo aviador, que ela tirou assim que sentou na mesa. 

O ensaio que você acabou de ver (claro, ninguém vai ler o texto antes de ver as fotos) havia sido clicado no dia anterior, na Serra dos Órgãos, em Teresópolis (RJ).

Como foi ontem, Fernanda?
Ai, foi lindo. Me senti como a Eva, no Paraíso.

Mas foi fácil ficar pelada na frente de um monte de gente? 
Facílimo. Só tirar a roupa [risos]. O homem que botou moralismo nessa história.

Foi fácil, mas ela só resolveu despir-se por uma causa: a defesa dos animais e o veganismo, filosofia de vida que boicota qualquer alimento ou produto de origem animal. 

É a ela que a moça dedica boa parte de seu tempo e energia quando não está trabalhando para pagar as contas, como produtora freelancer de cinema. Seu currículo de ativista é extenso: é filiada ao Greenpeace, ao Sea Sheperd e ao Instituto Nina Rosa, todos organizações defensoras dos bichos; foi voluntária no Ibama, aplicando primeiros socorros em tucanos e outros animais silvestres que chegavam de apreensões; realizou uma mostra de cinema sobre o assunto para crianças da favela do Cantagalo e da zona sul do Rio de Janeiro; e participa da produção da Mostra Internacional de Cinema pelos Animais, em Curitiba.

Sou ativista desde os 7 anos de idade, quando vi matarem uma galinha na casa da minha avó para o almoço. Eu tinha uma relação com aquela galinha! Comecei a chorar e a cozinheira disse que, se eu não parasse, ela não ia morrer. Foi um horror. Naquele dia, não almocei.

Ela narra a história como se fosse o assassinato de uma amiga. Nascida em Niterói (RJ), Fernanda mudou-se ainda criança para Belo Horizonte, onde morou até ir para o Rio, quase dez anos atrás. Na escola, enquanto as colegas carregavam bonecas pra lá e pra cá, ela levava macaquinhos de pelúcia. Seu tio-avô era ambientalista. Os pais, apesar do episódio da galinha, também sempre gostaram de animais. E acabaram convertidos ao vegetarianismo por Fernanda, assim como todos seus ex-namorados.

Você está namorando no momento?
Não sei [risos]. Não é qualquer homem que me aguenta. Sou difícil, eu sei. Os homens têm que ser muito seguros, fortes, para darem conta de mim. Mas eu sou normal! Sou supercarente, cheia de amor para dar.

Vamos comer, Fernanda? 
Vamos! Gosto deste restaurante porque não fazem segregação, tem comida para todo mundo. Vou de nhoque de beringela. E você?

Fico com vergonha de pedir um filé que me fez salivar desde que abri o cardápio.

Legumes com quinoa.
Fique à vontade, viu?! Não faço mais patrulha. Já fui chamada de chata por causa disso. O vegetarianismo não pode ser uma limitação. Tem que ser uma libertação. Quero que você diga neste texto que é muito fácil viver sem comer animais.

Fernanda, não é muito comum uma mulher de 38 anos pelada numa revista. Você pensou nisso? Tem algum outro recado que você queira dar, além da defesa dos animais? 
Só pensei nisso. Uma mulher é bonita independentemente da idade. Está aí a Bruna Lombardi, por exemplo. E, claro, a Brigitte Bardot, minha maior musa. Ela sempre usou sua beleza para defender os animais e popularizar a causa. É exatamente o que quero fazer.

Uma maritaca começa a cantar na árvore ao lado, parecendo que quer entrar no papo. Silêncio na mesa.

Vamos deixar ela falar. 
Claro, questão de educação.

Créditos

Imagem principal: Christian Gaul

Coordenação geral Adriana Verani / Produção Flavia Fraccaroli / Styling Helena Luko / Produção de moda Gabriela Michelini / Make Jésus Lopes / Assistente de foto Mariza Fonseca / Tratamento de imagens André Cossich / Agradecimentos Parque Nacional Serra dos Órgãos – ICMBio / MMA

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