por Paulo Lima
Trip #264

Afinal, o que querem os homens do século XXI?

A escolha da palavra “potência” como emblema de uma edição que tem entre seus focos principais tentar entender como se sentem os homens no momento presente não se deu por acaso. Ela resume o tipo de expectativa que se projeta sobre os ombros dos machos da espécie desde antes mesmo de nascerem. Nem é preciso desfiar o rosário de dogmas e convenções que pesarão sobre os ombrinhos frágeis de cada recém-nascido (de ambos os gêneros, diga-se). Por mais anacrônico que possa parecer, ainda é vedado à maioria dos homens, através de códigos explícitos e de outros mais velados, entrar em contato com a essência de sua condição: o precário, o frágil, o imperfeito. Assim, somos treinados (e aqui, com escassas exceções, vão de embrulho pais, escolas, mídia, redes sociais e toda a sorte de instrumentos “educativos” disponíveis hoje) a buscar replicar arquétipos e heróis imaginários que ostentem em grandes e iguais medidas resistência de soldado espartano, músculos de aço, ereções olímpicas, capacidade de gerar e acumular símbolos materiais de sucesso (incluindo, lamentavelmente na visão de muitos, troféus em forma de mulheres) e, o mais importante, a não demonstrar jamais a necessidade de sentir, seja o sofrimento ou o amor. É evidente que há aí certo excesso na carga das cores. Se observarmos os batedores, aqueles que por vocação, coragem ou consciência de sua verdadeira potência (a não potência) costumam andar à frente do pelotão encontrando e abrindo os novos caminhos, veremos que muitas mudanças já são visíveis em seus enunciados. Mas o caminho é longo.

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Ser capaz de ostentar certas indumentárias ou discursos libertários tem lá sua força simbólica, mas está a distâncias enormes de uma compreensão mais humana e razoável do que virá a ser o homem capaz de sobreviver física e psicologicamente no mundo que se redesenha.

É exatamente este o exercício desta Trip. Olhando para o ex-top model, pegador, bom de porrada, varão do Big Brother, que passa por uma transformação absoluta e não deliberada deflagrada por um tranco da vida daqueles a que poucos sobreviveriam, chegando perto de um garoto que se prepara como uma espécie de guerreiro para tomar o posto de rei das ondas gigantes; olhando para o fascínio (e o dinheiro) que lutas como boxe e MMA ainda despertam em nossas sociedades; ouvindo intelectuais, cozinheiros, fotógrafos e outros representantes desse frágil e desencontrado sexo, tentamos refrasear o que teria sido ouvido dos lábios de Freud em seu leito de morte, só que agora virado do avesso:

“Mas afinal, o que querem os homens?”.

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