por Bruna Bittencourt

Todavia reúne time experiente e se prepara para lançar cinco livros por mês; editora estreia na Flip com o festejado autor Paul Beaty

Um dos destaques entre as mesas da Flip, que ocorre entre os dias 26 e 30 de julho, em Paraty, é o americano Paul Beatty, autor de O vendido. O livro, vencedor do Man Booker Prize no ano passado, chega às prateleiras brasileiras este mês por uma editora estreante, a Todavia, mas de um time com bastante experiência, todo ele oriundo da Companhia das Letras. Lá, André Conti trabalhou por 11 anos como editor; Flávio Moura e Leandro Sarmatz exerceram a mesma função por cinco; Ana Paula Hisayama foi agente literária ao longo de 16 anos; e Marcelo Levy foi diretor comercial por outros 19.

A ideia de unir esse conhecimento para criar uma nova editora começou a tomar forma há um ano e meio, mas apenas no ano passado consolidaram o investimento inicial necessário para colocar o projeto em pleno funcionamento. "Queríamos pensar em uma editora com nossa cara, publicar os livros que gostaríamos", explica Moura, no escritório da Todavia, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. "Todo editor quer ter a sua própria casa", resume Conti. "Sentimos que havia um espaço entre os grandes grupos e os pequenos. O mercado ainda tem pouca editora e muito livro para ser publicado", completa.

O planejamento atual prevê o lançamento de cinco títulos por mês, "um ritmo muito maior do que o de uma editora pequena, mas que não se compara a uma grande", como explica Conti. Seja como for, o grupo assume uma postura otimista em um cenário de conjuntura ainda bastante complicada. "Estamos olhando para frente. O Brasil é um país com muitos leitores a serem formados", defende Moura. "Se formos pensar neste ano, nem saímos de casa. O momento ideal nunca chega, sempre vai ter um empecilho. Era possível abrir a editora e a gente achou que valia a pena", completa Conti.

Para funcionar, a Todavia conta com um grupo forte de investidores: Alfredo Nugent Setubal, que participa do dia a dia da editora; seu pai Alfredo Setubal, da família que controla o banco Itaú; Luiz Henrique Guerra, do fundo Indie. Todos eles já faziam parte do círculo de conhecidos dos sócios, que os levaram a um quarto investidor, Guilherme Affonso Ferreira, do Fundo Teorema. "São pessoas que gostam muito de ler. Sabem que é um projeto a longo prazo, que estamos fazendo um negócio sustentável, para ficar de pé, e que nossas vidas estão todas aqui em jogo", afirma Moura.

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A Todavia nasce em um momento em que emergem outras novas iniciativas do segmento editorial: a editoras Ubu, que conta com ex-integrantes da extinta Cosac Naify, a Carambaia, dedicada a livros fora de catálogo, e a Patuá, voltada à poesia, estão estrearam recentemente no setor, que ganhou também uma revista de resenhas sobre literatura, a Quatro Cinco Um. "Tem uma renovação do mercado editorial do qual a gente faz parte. É um sintoma de que ele está saudável", acredita Moura.

Além de O Vendido, a Todavia entrega este mês três títulos às livrarias: um romance brasileiro (Acre, de Lucrecia Zappi); um quadrinho (O bulevar dos sonhos partidos, de Kim Deitch) e um livro que nasceu a partir de um podcast (O palácio da memória, de Nate Dimeo). E qual o denominador comum entre esses títulos? "Primeiro, têm qualidade literária alta, do nosso ponto de vista. É uma editora para quem gosta de histórias, narrativas", diz Moura. "A gente busca qualidade, mas não é uma editora de nariz empinado", completa Conti.

Entre os próximos títulos - já são 45 comprados -, estão um livro sobre o filósofo Georg W. F. Hegel, resultado de mais de 20 anos de pesquisa de Marcos Nobre, programado para setembro; uma biografia de Belchior escrita por Jotabê Medeiros, prevista para agosto; um livro sobre o PCC, de Bruno Paes Manso; e um sobre a maconha, de Denis Russo, ambos previstos para 2018. Todos projetos nascidos na Todavia, que também incorporou em sua agenda de lançamentos a aguardada revista de Angeli e Laerte, Baiacu, um projeto anterior à Todavia. "A primeira conversa foi há quatro anos", lembra Conti. "Por mil razões burocráticas, demorou a acontecer. Calhou que quando tudo deu certo estava na Todavia."

A editora não tem planos de lançar apenas livros que acabaram de sair lá fora. "Há um universo de livros que existem há mais de um ano. Por que publicar um romance americano de 2016, se já não foi um best-seller? Se a gente acha que é um livro de qualidade e que vai funcionar no sentido comercial, não tem problema ser mais antigo."

De diferente da experiência anterior, tem o sentimento de posse. "É sentar e editar linha a linha, na miudeza. É um trabalho mais intenso, são nossos livros", explica Conti. O Vendido, conta, passou pelas mãos de Moura, Levy e Sarmatz. "No fim, havia algumas piadas que não ficaram bem resolvidas e sentamos para discuti-las." Com tudo que envolve fazer uma empresa funcionar do ponto de vista executivo, os editores pretendem continuar editores.

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Imagem principal: Creative Commons

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