Quem são os gurus do Brasil no futuro?

À convite da Trip, nove mestres da economia, política, direitos humanos, educação, ciência e do esporte apontam quem são os jovens com cacife para se tornar os gurus do Brasil do futuro

Em um mundo onde tudo muda em velocidade alucinante, permanece apenas a necessidade por novas abordagens, soluções criativas e pensamento livre de amarras. À convite da Trip, nove mestres da economia, política, direitos humanos, educação, ciência e do esporte apontam quem são os jovens que admiram e que têm cacife para se tornar os gurus do Brasil no futuro.

Guilherme Leal indica Joice Toyota
Mestra em administração pela Universidade Stanford, Joice Toyota, 31 anos, poderia trabalhar em algumas das maiores empresas do mundo, ganhar ótimos salários e levar uma vida confortável. Escolheu, porém, seguir um caminho próprio e se dedicar a transformar o poder público no Brasil. Joice é diretora executiva e cofundadora do Vetor Brasil, uma organização sem fins lucrativos que busca trazer jovens promissores para carreiras em governos estaduais e municipais do país – especialmente os talentos que costumam ser atraídos pelos programas de trainees da iniciativa privada. Joice tem um “forte compromisso com a gestão pública de qualidade”, diz Guilherme Leal.

Trabalhou na Secretaria de Educação de Goiás em 2013, onde idealizou métodos para avaliar os resultados de políticas educacionais em curso e estimar o impacto de novas iniciativas. Desde 2008 rascunha as ideias que viriam a se transformar no Vetor Brasil, que começou oficialmente em 2014. Em duas chamadas do programa de trainees – a próxima será no segundo semestre –, já colocou 46 profissionais em governos de nove estados e em duas prefeituras, São Paulo e Salvador.

Guilherme Leal, 66 anos, é empresário, fundador da Natura e dos institutos Ethos, de responsabilidade social, e Arapyaú, de desenvolvimento sustentável. Foi candidato a vice-presidente do Brasil pelo Partido Verde em 2012 ao lado de Marina Silva.

Carlos Burle indica Pauê
Paulo Eduardo “Pauê” Aagaard, 34 anos, perdeu as duas pernas quando foi atropelado por um trem no ano 2000, em São Vicente. O que ele não perdeu foi tempo: surfista desde moleque, voltou ao mar em menos de três meses, marcando a história do surf brasileiro como o primeiro surfista biamputado.

Era apenas o começo. Pauê também se tornaria triatleta, sendo uma vez campeão mundial em Cancun (2002), medalha de bronze nos Jogos Parapan-Americanos em Mar del Prata (2003), e cinco vezes campeão brasileiro em sua categoria. Entusiasta da canoagem oceânica, remou os 400 quilômetros entre Paraty e Santos. A vida do santista é tema da autobiografia Caminhando com as próprias pernas (Realejo), do documentário O passo de um vencedor (2013) e de palestras que rodam o Brasil. 

Carlos Burle, 48 anos, é surfista, campeão mundial de ondas gigantes.

 Alexandra Loras indica Magá Moura
Quando o assunto é ativismo, há várias nuances possíveis entre o radical e o sutil sem que se perca o impacto. A baiana Magá Moura, 28 anos, é dona de um lifestyle único, com seus cabelos e roupas coloridos sempre em estado de mudança, com amigos influenciadores e um cotidiano espiado por milhares de seguidores – conjunto que atrai imediatamente marcas como Nike e Melissa. Formada em relações públicas pela Cásper Líbero, Magá também estudou coolhunting – a habilidade de identificar tendências estratégicas para a indústria da moda e do entretenimento – no Istituto Europeo di Design (em São Paulo) e fashion marketing na London College of Fashion. Não é só uma questão de likes, há aí uma sutileza: “É uma militância sutil, quase subliminar”, diz Alexandra. “Ela influencia garotas negras a se sentirem confortáveis em seus corpos em uma sociedade que ignora negros.”

Alexandra Loras, 39 anos, é consulesa da França em São Paulo, jornalista e referência em debates sobre raça. Ela escreve no alexandraloras.com

Eduardo Giannetti indica Pedro Pinto
As ciências econômicas estão passando por uma revolução. Quem explica é o especialista Pedro Pinto, 33 anos, doutorando em macroeconomia e finanças na London School of Economics. O acesso a novas bases de dados e a criação de técnicas de análises permitem que teorias históricas sejam colocadas à prova. Um exemplo: ao contrário do que prega a ideia clássica, estudos com dados reais mostram que um aumento moderado no salário mínimo pouco aumenta a taxa de desemprego em países desenvolvidos. O paulistano, que estudou economia no Insper ao mesmo tempo em que cursava física na USP, vê no Big Data um caminho determinante para o futuro do estudo da atividade econômica. Depois de um mestrado em economia experimental na PUC-Rio, o economista estuda em Londres o sistema de hipoteca de imóveis nos EUA e os fatores que levam à alta nos preços, mercado que acabou por desencadear a crise econômica global em 2008.

Eduardo Giannetti, 59 anos, é economista, foi professor da Universidade de Cambridge, da USP e do Insper. É autor de livros como Felicidade – Diálogos sobre o bem-estar na civilização (Companhia das Letras) e colunista da Folha de S.Paulo.

Fábio Gandour indica Laura Zanatta
Laura Zanatta, 28 anos, acredita que não é o credenciamento em uma instituição de ensino conhecida ou a experiência em uma grande empresa que dão destaque a um profissional. Para ela, o autoconhecimento é a habilidade mais importante hoje – em qualquer área. “Só se conhecendo a pessoa vai conseguir se adaptar às mudanças”, ela diz. A gaúcha começou a pensar em atualizar a capacitação profissional quando estudou administração na Universidade da Califórnia em Berkeley. Como é comum nas escolas de negócios, um dos professores do curso fazia testes de personalidade. Ao iniciar sua autoinvestigação, ela percebeu que este exercício era fundamental. Laura trabalha na IBM. No último ano, tocou projetos que costuram as iniciativas da empresa com sua visão pessoal, como a introdução do sistema de computação cognitiva IBM Watson nos cursos de futurismo da escola Perestroika e a criação de um aplicativo de gestão de carreiras. Ela vai agora fundar uma plataforma de financiamento coletivo de educação.

Fábio Gandour, 64 anos, é cientista-chefe da IBM Brasil e PhD em ciências da computação pela Universidade Stanford

Ricardo Abramovay indica Rodrigo Junqueira
Rodrigo Junqueira, 43 anos, trabalha para promover o diálogo entre grupos antagônicos: índios e fazendeiros à beira do rio Xingu, no Mato Grosso. Ele coordena a campanha Y’Ikatu Xingu, do Instituto Socioambiental (ISA), que pretende recuperar a cobertura da mata da região das nascentes do rio. A complexidade da tarefa é tamanha que a solução não poderia ser menos interessante: Rodrigo e o grupo do ISA criaram, ao lado de outras organizações, uma técnica que usa sementes – e não mudas – de espécies nativas no reflorestamento, o que eleva a taxa de sucesso do trabalho. Através da Rede de Sementes do Xingu, índios e outros moradores da região passam a atuar como coletores, trocando e comercializando sementes. Em dez anos, a campanha recuperou 3 mil hectares – o equivalente a 3 mil campos de futebol. O engenheiro agrônomo formado pela USP é a cara do ativismo jovem da região, que busca soluções concretas e criativas e não abraça polarizações estéreis. “Isso não supõe apenas engajamento e compromisso, mas outras duas características: o desejo de aprender novas abordagens dos problemas para os quais a gente acha que conhece as soluções, e a capacidade de dialogar, de ouvir, de se colocar no lugar do outro”, conta Abramovay.

Ricardo Abramovay, 62 anos, é professor de economia na USP e autor de livros sobre economia, ética, sociedade e natureza

Laerte indica Renan Quinalha
Renan Quinalha, 30 anos, tem uma formação clássica, que aplica com articulação singular nas mídias digitais. Graduou-se em direito e ciências sociais, fez mestrado em sociologia do direito, é doutorando em relações internacionais na USP e é pesquisador visitante na Brown University em Rhode Island. É militante pelos direitos humanos, organizador da coletânea Ditadura e homossexualidades: Repressão, resistência e a busca da verdade (EdUFSCar) e foi assessor da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo. “Tem texto dele às baldas por aí, são sempre lúcidos e precisos”, diz Laerte. O paulista, como o tema do seu livro mostra, é nome importante do movimento LGBT e se envolve também com pautas como a luta contra a redução da maioridade penal e a descriminalização do aborto. Assertivo e pop, seus textos são sucesso no Facebook junto ao público jovem. Um exemplo é o post em que o jurista argumenta contra a “mera tolerância das diferenças”.

Laerte Coutinho, 64 anos, é cartunista e cofundadora da Associação Brasileira de Transgêneras. Publica em manualdominotauro.blogspot.com.br

Viviane Senna indica Gustavo Caetano
No universo em ebulição das startups brasileiras, completar uma década de estrada com relevância e fôlego é para poucos. Por isso a Samba Tech, que Gustavo Caetano fundou em 2004 em Belo Horizonte, é tão festejada. A plataforma de soluções para vídeos na internet é uma alternativa ao monopólio do Google e permite que organizações transmitam programações de entretenimento e educação pela web. A empresa deve ganhar este ano uma operação nos Estados Unidos, onde já tem parcerias com o MIT e a Harvard. Aos 33, Caetano é um nome importante do empreendedorismo digital no país e no exterior também: ano passado foi indicado como o Mark Zuckerberg brasileiro pelo site americano Business Insider. Fundador da Associação Brasileira de Startups, da qual foi presidente e é conselheiro, o CEO faz palestras concorridas e participa de programas de aceleramento para aconselhar empreendedores.

Viviane Senna, 57 anos, é psicóloga e presidente do Instituto Ayrton Senna, que promove a educação de crianças e adolescentes

Carmita Abdo indica Thiago Santana Pereira
 "Nem todo paciente é homem, heterossexual, com 30 anos e branco", explica o estudante de medicina Thiago Santana Pereira, de 21 anos. Desde 2014, o universitário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia é um dos líderes da recém-fundada Liga Acadêmica de Sexologia em Saúde (LASS), grupo que capacita futuros médicos a analisarem tipos variados de orientações sexuais, sociais, culturais e de gênero na hora do tratamento. Na prática, o LASS busca promover o entendimento de que, além dos fatores biológicos, cada paciente possui um histórico de vida que precisa de avaliado antes de um diagnóstico definitivo – e a natureza da atividade sexual faz parte deste contexto. Para tirar do papel essa maneira de compreender a saúde sexual, Thiago e seu grupo agitam a agenda da universidade com debates, cursos, pesquisas e artigos sobre sexualidade. E começam a aplicar os conhecimentos compartilhados nestes eventos em estágios e residências médicas.

"O vejo frequentemente na plateia durante palestras sobre sexualidade que apresento em congressos médicos. Entusiasmado e atento, ele não resiste a vir me agradecer ao final de cada uma delas. [Ele] aproveita e pede orientação enquanto e me conta seus planos", diz Carmita sobre Thiago. A iniciativa de Thiago fez com que a Liga de sexologia, uma das mais recentes da UFBA, fosse reconhecida pelo Diretório Acadêmico em meio a grupos mais "tradicionais" como as ligas de oncologia e cirurgiões cardiovasculares.
Carmita Abdo,
66 anos, é psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da USP

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