por Luiz Alberto Mendes

Mães de presos contam como os textos de Luiz Alberto Mendes as ajudaram a compreender seus filhos

Tenho recebido e-mails, telefonemas e até cartas de pessoas falando do bem que meus textos e livros fez para elas. Sempre desconfiei de elogios, para mim é difícil acreditar neles. Parece que não é comigo que estão falando. Mas aqui são mães de pessoas aprisionadas falando de como o que escrevi as ajudou a compreender seus filhos. Pessoas que jamais tiveram contato com o mundo prisional que me agradecem por lhes mostrar que na prisão não existem porcos, cães, vacas e sim gente. Pessoas como as outras que elas encontram por ai. Filhos que passaram a compreender seus pais, esposas, amigos de pessoas aprisionadas que sabem que lá dentro não existem somente pessoas más, perversas e perigosas. Sim, claro que há os psicopatas, pessoas doentes que podem cometer loucuras imprevisíveis. Mas a maioria são pessoas comuns, profundamente sofridas que erraram muito mas que ainda assim conservam suas sensibilidades. Boa parte sonha em voltar para o seio de suas famílias e redimirem-se dos erros cometidos. São aqueles já no fim de suas penas, envelhecidos e cansados de sofrer.

Há pessoas que não têm nada com isso que elogiam e dizem que o que escrevo é um mergulho no humano de cada um de nós.

Já por três vezes pequei metrô e ônibus (não sei dirigir) e vi pessoas lendo meus livros. Fiquei muito emocionado, quase conversando com a pessoa. Outro dia fui em uma Livraria Saraiva e meu ultimo livro: "Confissões de um homem livre" estava na prateleira de destaque da livraria e vi uma jovem comprando. Quase a parei para perguntar porque estava comprando. Decerto alguma recomendação. Meu primeiro livro "Memórias de um Sobrevivente"; ainda vende até hoje, 14 anos depois. Nesse último trimestre vendeu mais de 70 exemplares. Embora eu não seja um escritor que vende muitos livros, sempre vendo o suficiente para editar um próximo, estou no sexto e minha editora é a Companhia das Letras. Uma griffe de livros.

Respondo a todos os comunicados das pessoas que me lêem.

Também para mim faz um enorme bem saber que sou lido. Sou apaixonado por escrever e o bem que meus textos possam fazer aos outros, antes fazem muito mais bem a mim. 

Hoje é 05/04/2016. Faz exatamente 12 anos que fui libertado, depois de 31 anos e 10 meses preso. Estou aqui operado, sob recomendação médica de repouso, mas tranquilo. Cheguei até aqui, pude provar que ultrapassei meu passado e tornei-me um homem de quem ninguém tem nada mais de mal a dizer. Posso falar com meus filhos com moral e com as demais pessoas com respeito. Mesmo se tivesse acabado agora, eu não poderia reclamar. Quando saiu o Código Penal, em 1947, a pena máxima foi determinada em 30 anos. A estimativa de vida do brasileiro era de 50 anos. Então era pena de morte, já que o cumprimento de pena só podia começar aos 18 anos de idade. Com o passar dos anos, a estimativa de vida foi aumentando. Quando eu sai da prisão, com 51 anos de idade, estava entre 70 e 80 anos. Ganhei de 20 a 30 anos de vida. Um enorme presente que fiz tudo para aproveitar da melhor maneira que pude. E, apesar de doente, estou aproveitando ainda!

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