Como homens lidam com a aparência em 2016

por Marcos Candido

Mario Queiroz, pesquisador de moda e criador do evento Homem Brasileiro, conversa com a Trip sobre como o design e a moda atingem a autoestima do homem

Você deve ter reparado: o homem musculoso já não é o único bonitão da praça. Nos catálogos de moda, não são mais apenas os mesmos caras, com os mesmos ternos alinhados.

Se o homem e sua aparência já não são como antes - e já que não é tarefa fácil desvendar as razões que causaram essas mudanças -, é tempo de conversar um pouco mais sobre isso. Entre os dias 15 e 18 de agosto, o evento Homem Brasileiro, em São Paulo, propõe a discussão a respeito de como o homem se relaciona com a moda, com o design de interiores, a mídia e a autoestima nos dias de hoje. Passam pelo evento Fernando Luna, diretor editorial da Trip, Marília Carneiro, figurinista da Rede Globo, e Caito Maia, da Chilli Beans. Quem assina a produção do ciclo de palestras é o estilista Mario Queiroz, doutor em Semiótica e especializado na relação entre homem e aparência. 

Mario é um dos nomes a tentar decifrar o que é essa tal de beleza masculina em 2016, quando a publicidade, a moda e até o modo como decoramos a casa já não seguem mais os mesmos guias de meia década atrás. Segundo sua pesquisa, não é a indústria da moda que dita as regras, mas ela apenas reflete as mudanças na sociedade, como a luta (feminina) pela equidade. "A moda 'sem gênero', por exemplo, é uma amostra da reconfiguração dos papéis do homem e da mulher", explica Mario.

Trip - As mulheres sofrem pressão de todos os lados para ter uma aparência dentro de um padrão. Como isso acontece com o homem? Mario - Sinto que, hoje, a beleza não é algo exigido exclusivamente da mulher. Mas tenho receio de que “pressão” pareça que uma indústria é a única responsável por fazer as pessoas se cuidarem. Não é bem isso. A publicidade, a de moda em específico, se importa em ser uma referência de imagem para o público, e uma boa peça para o cliente. A indústria da beleza aproveita que o homem está mais aberto a arriscar do que antes - não é algo que foi criado pela publicidade. São momentos. Eventos como o Homem Brasileiro querem conversar com o mercado publicitário e propor novas abordagens para o homem. Ainda somos muito tímidos.

Se não é a indústria, quem é o agente que estimula mudanças no jeito do homem de cuidar de sua aparência? A política e as transformações sociais são aspectos que mudam nosso tempo. Homens passaram a cozinhar com amigos e a também cuidar dos filhos. Antigamente, era improvável que uma mulher fosse chefe de estado e, ele, dono de casa. A moda “sem gênero”, por exemplo, é uma amostra da reconfiguração dos papéis do homem e da mulher. As coisas a nossa volta ficaram embaralhadas.

Como foi criado o conceito do que é "bonito" para um homem? Uma de suas teses mostra que o homem é frequentemente tratado como um "domador de leões" em  publicações antigas. Na verdade, esse cara "domador" foi criado como reflexo dos soldados que retornavam aos países de origem depois de uma guerra, ainda no século 20. Aquela figura masculina que regressava do front estava mais magra pela escassez de comida, e muitas vezes mais forte devido ao esforço físico praticado como militar. Dos anos 60 até agora, inúmeros modelos de corpo masculino ‘perfeito’ passaram pelo imaginário geral. Dos anos 80 para cá houve a o überssexual [homem ‘clássico’, que não necessariamente cuida das unhas e sobrancelhas, mas que se mantém sempre bem arrumado, num terno alinhado], enquanto hoje há uma pluralidade de homens bonitos que coexistem. Há a beleza do roqueiro cheio de tatuagens, o cara malhado que vive na academia e o charme do magrelo estudioso.

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O evento que você idealizou vai além da moda e da beleza e trata também de design de interiores. Afinal, como é pensado um “ambiente masculino”? Hoje existem vários tipos de casas e apartamentos, um reflexo de novas estruturas familiares. Há o homem que vai morar sozinho; aquele que se une com outro homem; com amigos ou com uma mulher. Durante boa parte do século 20 o homem era ausente no ambiente doméstico. Quem cuidava da casa era a mulher. Quando elas começaram a trabalhar, garantir o conforto do homem deixou de ser uma das demandas que tinham que atender. A cultura, assim como os novos gostos dos homens, interfere no jeito que arrumamos um ambiente. 

Vai Lá: Homem Brasileiro
Unibes Cultural, de 15 a 18 de agosto, das 19h às 22 h
Na segunda-feira, dia 15, Fernando Luna, diretor editorial da Trip Editora, é um dos convidados para falar sobre o homem e a mídia, às 17h

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