por Luiz Alberto Mendes

”Porque ninguém é capaz de completar ninguém. Isso é tarefa pessoal de cada um; completar-se”

Vivemos a suspirar, alongando o olhar janela afora, em busca de algo que nem sabemos o que seja. Não estamos seguros nem de que exista algo conforme o que sonhamos. No fundo sabemos que não estamos vivos o suficiente. Não somos amados o tanto quanto carecemos; não somos respeitados quanto necessitamos; não temos tudo o que queremos; estamos sedentos do infinito, de algo além do que existe.

Desejamos a leveza integral de ser, a delicadeza, e temos vida pesada, contradições e deselegâncias que nos cercam. Não nos bastamos e o pior é que não há como ter esperanças de que alguém ou alguma coisa que nos complete. Então, vamos distinguindo, pouco a pouco, a confusão do que somos, e descobrimos o outro. Este ser a quem somos imperiosamente solicitados à compreensão, na convivência diária.  

Nosso futuro torna-se uma relação que aponta para o impossível. Um impossível que movemos com nosso esforço. Aos poucos, a soma de nossos erros e acertos vão se delineando. Serão nossas conquistas permanentes. Forças que nos farão sorrir ao pensá-las. Como nos faz bem ter esses tesouros escondidos; essas qualidades duramente conquistadas. Temos valor, e isso significa. Mesmo que não no melhor de nossos dias, ainda vivemos em latência. Essa esperança, brilhante como clorofila, nos ensina a confiar na impossível lealdade; no improvável amor; e na floração da primavera. Tudo virá novamente, em ciclos.

Quando amamos descobrimos que já não vivemos plenamente sem o outro. E depois de tudo vivido, descobrimos que não era aquele ser que nos completava. Porque ninguém é capaz de completar ninguém. Isso é tarefa pessoal de cada um; completar-se. Pessoas e amores se sucederão até que nos damos conta de que o amor esta em nós. Somos nós quem possuímos a qualidade de produzir aquela emoção toda. O outro nos recebe e se nos corresponde à altura, produzirá em si a alegria, a felicidade de estar amando e sendo amado.

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Se bem que é ai que azeda o pé do frango. A convivência é a régua dos sentimentos porque infere renúncia. Renúncia é o suprasumo das qualidades humanas. Capacidade de ser além do que sente, e privar-se para que o prazer ou a felicidade do outro aconteça. É preciso renunciar a muita coisa de si para compor o nós. Mas não podemos nos desfigurar. Somos infinitos, vivemos nos recriando a partir do tempo e do espaço. Bernard Shaw  dizia, em outras palavras, que a única pessoa que o conhecia, de fato, era seu alfaiate, porque sempre que o procurava, este lhe tirava as medidas novamente. Não nos dividimos para criar o nós. Nos multiplicamos a partir do que somos, formamos o nós.

Mas que trabalho dá isso! Porque infere cultivo, abnegação, compreensão profunda em grande quantidade. Somos invasores, é preciso admitir. Fomos feitos curiosos, sedentos de saber e ser. Nossa maior carência não é a emocional e sim a existencial. Não existimos tudo que necessitamos existir e isso nos desequilibra.

Por mais que se ame, tudo é bem menos arrebatador, em se convivendo. É impossível corresponder às expectativas de quem quer que seja. Elas sempre irão além de nós. Imaginar, podemos faze-lo ao infinito. O problema é que a nossa presença no tempo e no espaço obedece equações matemáticas e leis da natureza. Nada dá saltos, tudo é gradativo e contínuo. A nossa finalidade em existir exige de nós métodos, etapas, aprendizados, habilitações e até méritos.

Tudo o que nos aconteceu nos acompanha e incide sobre o que esta acontecendo. O momento presente nos atrai qual imã poderoso. E vamos assim aprendendo que estamos todos aprendendo e que ninguém sabe muita coisa, daí porque tanta dificuldade em estarmos juntos. Nossas arestas se tocam e sangramos. A dor é como pedra que não germina; basta-se.  

Resta viver, superar, sempre que possível, e crescer com tudo isso. Embora a essa altura o sonho de ser feliz possa ter perdido um pouco de seu brilho, sempre haverá possibilidade de alguma felicidade.

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