Carolina Mânica

por Rafael Grampá
Trip #222

Enquanto a atriz de 29 anos faz arte em um ateliê, seu ex-namorado abre o coração

Enquanto a atriz Carolina Mânica, 29 anos, faz arte em um ateliê, o quadrinista Rafael Grampá, seu ex-namorado (atual "irmão") abre o coração: "Um amigo uma vez me disse que éramos o scasal mais legal que ele conhecia. Mas que hoje somos o não casal mais legal de todos"

Não brigamos. A Cacá e eu nunca realmente brigamos. Já discutimos bastante, mas nunca brigamos. Fomos namorados, namoridos, por um pouco mais de nove anos. Lembro como se fosse hoje do dia em que nos conhecemos nos corredores de uma rede de televisão em Porto Alegre. Ela, tímida, recém-chegada e já despertando o interesse da rapaziada que trabalhava por lá, inclusive o meu. Me igualei aos outros quando tentei, sem sucesso, fisgar sua atenção. Ela era uma rocha, tinha namorado. E eu mal podia imaginar que, logo no dia em que eu seria demitido da TV, ela me daria bola. Essa data virou o aniversário do casal. Eu tinha o sonho de ser quadrinista e ela o sonho de ser atriz. Viemos para São Paulo juntos no começo de 2004.

Quando a Cacá me convidou para escrever este texto, ela já havia sido a garota corajosa que desbravou a jornada árdua do ator na cidade grande, já havia sido a atriz que juntou obras, artes originais e manuscritos de artistas e escritores como Laerte, Angeli, Lourenço Mutarelli, Daniel Galera e Marcelo Rubens Paiva que resultaram em uma exposição/leilão em prol de um espetáculo com o texto de Mário Bortolotto. Na época o termo “arte pela arte” virou moda. E isso bem antes de se falar em crowdfunding no Brasil. Ela também já havia sido a pessoa que me empurrou para eu ir atrás do meu sonho de histórias em quadrinhos, dando suporte emocional, vendo cada página nova que eu fazia por cima do meu ombro. Nessa época, começou a trabalhar com diretores como Gerald Thomas, Eduardo Tolentino, Bortolotto. Foi trabalhar na televisão, no cinema. Tive o grande privilégio de assistir àquela corajosa garota se transformar em uma grande e reconhecida atriz. Uma determinação sensível e às vezes severa para com o que acredita. Uma rocha no amor e na fé. Aquela mesma rocha de sempre. Uma rocha onde achei equilíbrio quando estava inseguro e pude deitar seguramente minha confiança. Virei rocha também. Viramos a rocha um do outro.

Quando a Cacá me convidou para escrever este texto, nós já havíamos nos separado. Não brigamos. Vivemos nove anos de um lindo amor que teve a satisfação de ter dado certo. Fomos cúmplices e assistimos na primeira fila ao sonho do outro se tornar realidade, os primeiros a nos aplaudir. O que nos ligava como homem e mulher se transformou num elo maior, no de irmãos. Nós celebramos isso, temos projetos juntos, como uma banda de rock. Celebro oferecendo minha casa para comemorarmos o aniversário do novo namorado dela, o meu querido João.

Sabemos que poucas pessoas entendem essa nossa relação, mas os que entendem dizem que transcendemos e que são influenciados por isso. Mas a gente... a gente dá risada, não podia ser diferente. Um amigo uma vez me disse que éramos o casal mais legal que ele conhecia. E que hoje somos o não casal mais legal.

O que une as pessoas não deve nunca ser interrompido, mas transformado. Amar é não ter medo de entender o amor e a sua grandeza. Amar é se sentir grato. E eu sou imensamente grato.

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