Mariana, Mariana

por Autumn Sonnichsen
Trip #277

Obrigada por esse e por todos os outros presentes que você me deu

No primeiro dia deste ano, peguei um voo para Porto Seguro. Levei um piano e uma bailarina comigo, e soltei os dois no mar.

Por causa do piano e do pianista, Eduardo Nazarian, que tocava o tal do piano no fundo do mar, conheci a Mariana Aydar, que, para nossa sorte, me levou de volta à Bahia, dessa vez para Trancoso e Caraíva. Lá, ela se soltou para este ensaio e começou a me dar uma série de presentes – um delas é a Sami, no colo dela nesta imagem. Tenho a impressão de que a Mariana me deu a Bahia toda de presente.

A Mariana me parece cheia de ar. Ela mora muito longe do próprio corpo, como se fosse feita de poeira e brilhos, de tão leve que é nos braços do parceiro enquanto dança. Por isso ela dança tão bem e sua voz é tão afinada. A Mariana mora em lugares que nem são físicos, ou, se são, também são quânticos. E onde ela mora, mora a Sami também, com aquela intimidade fácil, leve e forte que vem só com décadas de amizade, de madrugadas, no forró de Caraíva. São noites em hotéis de estrada, lembranças de uma adolescência desajeitada, de choro e risada, tédio e amor, quer dizer, tempo.

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Na última vez que vi a Sami, estávamos na festa do Prêmio da Música Brasileira, no Jockey Club do Rio de Janeiro, parecia que chovia gim-tônica, e ela sambava com o sobrinho do Luiz Melodia, ao lado da Baby do Brasil (ocupadíssima orquestrando uma coreografia espontânea na pista ao lado). Muitos músicos do Brasil estavam lá, as promessas, os que mais amam dançar, cantar, e Sami, com todo esse metro e cinquenta de altura, reinava na pista toda. Os sapatos, ela tirou nos primeiros cinco minutos; nos muitos minutos seguintes, ela gritava de prazer com a força de um bicho selvagem, mas delicada, da mesma forma que a vi gritar de prazer muitas vezes: dançando nas areias de Caraíva, se espreguiçando nua no chão do meu quarto, se alongando de manhã em casa, que flutua acima de São Paulo.

E também era igual à forma como ela gritava de prazer quando fiz essa foto, no instante em que pedi pra ela tirar a roupa e pular no colo da amiga, da Mari, no rio de Caraíva. O sol e os barqueiros já tinham ido, só havia barulho de água e passarinhos – e o som do grito que ecoava pelo mangue.

Obrigada, Mariana, por esse e por todos os outros presentes que você me deu.

Créditos

Imagem principal: Autumn Sonnichsen

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