por Luiz Alberto Mendes

 

Há alguns anos atrás, eu consegui verba de uma organização internacional (nacional nem pensar) para fazer uma série de Oficinas de Leitura e Texto em algumas prisões. Homens aprisionados vivem à mercê da cultura criminal, a única existente. Ninguém se preocupa em lhes oferecer alternativas. Eu sempre me preocupei em fazer minha parte. Passei dias escolhendo o melhor material que possuía, ensaiando passos e montando a melhor Oficina que já fui capaz de produzir. Mas as prisões de São Paulo foram construídas no interior do Estado. A verba da ONG internacional era básica e não previa estadia, alimentação ou pagamento  do produtor da Oficina. Optei pelas penitenciárias da região de Sorocaba pois são muitas (cerca de 9) e eu tinha vários amigos na cidade que poderiam me apoiar. Há tempos atrás eu tentei ajudar Neide (essa minha amiga) na montagem de seu TCC na faculdade de Letras que estava concluindo. Cheguei a fazer uma palestra com seus colegas e professores na própria faculdade, para complementar. Como mora em Sorocaba, ela se predispôs a me abrigar em sua casa, durante o  tempo em que eu fiz as Oficinas nas prisões da região. Conclui as Oficinas e nos tornamos grande amigos.

Há poucos dias atrás Neide me procurou por e-mail. Ela tem uma filha lindíssima e graciosa. A garotinha já havia participado de vários ensaios fotográficos e minha amiga queria expandir esses ensaios aqui para São Paulo. Como sabe que eu mantenho coluna na revista Trip e faço reportagens com fotógrafos, pediu que eu procurasse endereço de agências de modelos infantis para ela mandar o portfólio da menina. Imediatamente pensei na Kriz, amiga fotógrafa que havia feito um trabalho com crianças junto comigo. Escrevi a ela explicando a necessidade da amiga Neide. A resposta foi imediata e positiva, enviou o endereço de duas agências que trabalham exclusivamente com crianças. Neide escreveu e aguarda resposta.

Recente fiz um trabalho de reportagem para a Revista Trip cobrindo a saída de uma mulher que estivera presa até então. O fotógrafo tirou muitas fotos e tivemos nossa matéria publicada. Kriz havia visto e gostou muito de meu texto, e porque há uma empatia de trabalho, ela disse que gostaria de ter sido a fotógrafa. Falou ainda que sonhava fazer trabalhos para a Trip, dada a qualidade e o cuidado que a revista tem com fotos. Instantaneamente respondi propondo-me a apresentá-la na revista. Há 13 anos tenho coluna na revista e conheço as pessoas que decidem por lá. Paulo Lima, o publisher, considero um amigo pessoal. Pedi fotos para Kriz e escrevi para a Adriana, Diretora de Produção, pedindo uma chance para minha amiga que sei, merece, e encaminhei as fotos dela. Logo Adriana respondeu, gentil como sempre, que gostara bastante das fotos. Iria encaminhar para Rafaela, a Diretora de arte, para conhecimento. Além disso, dava o e-mail de Rafaela na revista para que Kriz se comunicasse com ela, e aconselhava que fizesse uma visita à Diretora de Arte para apresentar seu portfólio a ela. Kriz ficou muito feliz, e eu mais ainda por haver sido o intermediário da alegria de minha amiga.

Não preciso ter muito dinheiro para ser feliz. Antes preciso de bons amigos como Neide, Kriz, Adriana, Paulo e agora Rafaela. Eles e outros amigos que tenho, formam uma corrente com elos de ouro que guardo no coração e são toda a riqueza que necessito para ser feliz e viver bem nesse mundo.

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Luiz Mendes

24/01/2015.

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