A festa é nossa, por Alê Youssef

por Alê Youssef
Trip #258

O antropólogo Hermano Vianna disse sonhar com um Brasil no qual o principal Produto Interno Bruto seja a festa. Ao observar o legado dos Jogos Olímpicos no Rio, o sonho ganha ares de profecia

Os Jogos Olímpicos deixam reflexões importantes para o Brasil e o papel que um veículo como a Trip deve desempenhar no futuro próximo. Analisando a cidade olímpica, nota-se que a transformação do centro do Rio de Janeiro – com o renascimento da Praça Quinze de Novembro, da Praça Mauá e a ressignificação da região portuária –, assim como os investimentos em transporte público, foram importantes, mas que o maior legado dos Jogos é a festa e a nossa incrível capacidade de produzi-la.

Em tempos de grave crise econômica, social e política, a necessidade de buscar alternativas e novos caminhos para o  país é urgente e mais uma vez ficou provado, diante dos olhos do mundo todo, que mesmo com todos os nossos problemas, somos especialistas em produzir festas e criar ambientes e momentos de extrema alegria. Percebam que aqui não falo de improviso ou do jeitinho brasileiro. Temos, de fato, uma técnica exaustivamente repetida ao longo da centenária história do nosso Carnaval, quando, mesmo diante das mais duras adversidades, transformamos o país em uma catarse coletiva e botamos todo mundo para dançar, namorar e celebrar.

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O antropólogo Hermano Vianna certa vez disse que sonhava com um Brasil no qual o principal Produto Interno Bruto fosse justamente a festa. Sugeriu que desviássemos o foco das mesmas estratégias de desenvolvimento adotadas por todos os outros países para nos concentrarmos nessa nossa especialidade. Em tempos de crescimento da percepção sobre o potencial de uma economia criativa, compartilhada e sustentável, o sonho de Hermano ganha ares de profecia.

Caindo no samba

Na abertura dos Jogos, quando Regina Casé declarou “Here we are for diversity” ao lado de Jorge Ben Jor e de dezenas de dançarinos que misturavam a dança contemporânea de Deborah Colker com o passinho do funk carioca; nas centenas de atrações que atraíram milhares de pessoas para as ruas do Boulevard Olímpico; e na cerimônia de encerramento dos Jogos, quando os atletas caíram no samba puxado pelo Cordão da Bola Preta, no melhor espírito do carnaval de rua, o melhor do Brasil estava presente: a festa ocupou a cidade, e fez o mundo se divertir.

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Para quem fareja vanguardas, como tem feito esta revista ao longo dos últimos 30 anos, durante 11 dos quais tive a honra de compartilhar este espaço, a pista deixada por esse megaevento é a urgente diversificação da economia, com ênfase na criatividade. E, como disse a apresentadora da rede de TV americana NBC ao transmitir a apoteose do encerramento dos Jogos: “They know how to throw a party”.

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