Sob o mesmo teto

Aqueles grupos que brigavam na discussão sobre o Código Florestal hoje estão reunidos para viabilizar uma economia competitiva e de baixo carbono. Estamos todos juntos, aprisionados ao planeta terra

Caro Paulo,

Todos nós vivemos numa prisão chamada planeta Terra. Acho que essa foi a conclusão que alguns homens e mulheres de boa vontade, boa-fé e boa ciência chegaram para criar um movimento inédito na sociedade brasileira, o Coalizão Brasil: Clima, Florestas e Agricultura (Google it).

O Coalizão é formado por mais de 40 organizações (hoje devem ser mais de 400, tomara), que estavam se reunindo desde dezembro de 2014 para trocar ideias e chegar a algumas conclusões que conciliem a divergência de interesses e necessidades, crenças e objetivos para viabilizar uma economia de baixo carbono, competitiva e inclusiva. Já chegaram a um documento de compromisso que você pode ler no site: coalizaobr.com.br.

Genial! Não só pelas conclusões e recomendações que estão sendo levadas ao governo federal e à COP 21 em Paris, mas pela Coalizão em si, que equipa a sociedade brasileira com um fórum consciente, maduro e competente para resolver os problemas cabeludos relacionados ao clima, ao abastecimento de alimentos e à economia sustentável que queremos e precisamos construir.

Sim, as mesmas entidades e pessoas que brigavam como inimigos na discussão sobre o Código Florestal hoje estão reunidas em torno de uma mesa para conversar, conscientes de que aquilo que havia não era inimizade, mas diferentes perspectivas da mesma realidade. Portanto, cada perspectiva era relevante para se aproximar da realidade e encontrar soluções que fossem boas para todos, isto é, para o clima, para as florestas e para a agricultura.

Casa comum

A consciência de que vivemos numa prisão comum os levou à mesa de conversa, temperada por boa vontade e boa ciência. É um processo de amadurecimento pelo qual o mundo inteiro irá passar. Por isso não é coincidência a encíclica “Laudato Si”, do querido Papa Chico, que, como um bom pai, definiu nossa prisão comum como “nossa casa comum”.

Mas não importa se é prisão ou casa, importante é que é comum e única. Não tem como escapar da consciência de que somos muitos vivendo dos mesmos recursos e que a interdependência entre tudo e todos é uma realidade a ser gerenciada por meio de coalizões, isto é, por meio da reunião de diferentes e divergentes com objetivos comuns. Não para fazer tratados de paz, mas para ter mais inteligência e competência na gestão dos limites da casa comum. Bem pragmático.

Vejo este espírito da época – de aproximação, reunião e conversa – se impor de tal maneira que aqueles que professam superioridade, separação e dominação, como o Estado Islâmico, radicalizam suas crenças e interesses e se põem opções de vida ou morte porque não se sentem comuns numa casa comum. É o desespero dos ignorantes que por isso se sentem especiais. (Pode colocar os homofóbicos, religiosos ou não, nesse grupo de condenados especiais.)

Na real, não sei se existem outras casas possíveis para os humanos. O fato é que isso é o que temos para o momento e não temos alternativa que não seja, juntos, com todas as nossas inteligências, administrar os limites da prisão. Que ela sirva como etapa para a nossa evolução.

Abraço otimista do amigo, Ricardo

*Ricardo Guimarães, 66, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus

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