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A história de Mark Gator Rogowski

por Totó

Dirigido e produzido por Helen Stickler, documentário é um soco na boca do estômago

Quando o pessoal do site me pediu uma pauta alinhada ao tema da edição de Maio da TRIP, que fala sobre veneno, na hora me veio a história do skatista Mark ‘Gator’ Rogowski.

Assisti “STOKED – The Rise and Fall of Gator’’ (2004) pela primeira vez numa sessão fechada promovida pelo saudoso Resfest – festival dedicado a cultura digital que aconteceu em SP na primeira década dos anos 2000- e desde então nunca mais me esqueci.

Dirigido e produzido por Helen Stickler, o documentário de 82 minutos é um soco na boca do estômago do estrelato e até hoje não sei bem o motivo de não ter saído da sombra por aqui.

Reúne os venenos causados pelo drama de uma história de ascenção e queda, que leva o protagonista da glória ao ostracismo num piscar de olhos e traz embutido uma visão bastante singular sobre o veneno da fama.

Mark Gator foi um dos ícones do skate vertical na década de 80. Não era extamente um papa troféus como Tony Hawk ou um mestre do estilo como Cristian Hosoi, mas era extremamente talentoso e tava sempre ali marcando presença nas finais dos principais campeonatos de half-pipe da época.  Seu estilo peculiar e sua atitude irreverente chamavam demais a atenção e o destacava aonde quer que fosse.

Impulsionado por uma bem sucedida parceria comercial com a marca Vision, seu modelo de shape assinado –com um grafismo new-wave totalmente lisérgico- projetou a marca ao topo do mercado. Rapidamente se tornou massivo fenômeno comercial fazendo da tábua de madeira estampada um objeto de desejo.

Mesmo não sendo o número um em performance, Gator estava no topo. Seu jeito de ser e sua linha de produtos personificavam a risca a imagem identificada e desejada pelos skatistas nos quatro cantos do planeta.

O sucesso se traduziu em fama, grana, mansão em Hollywood, viagens, enfim, na vida de sonho de um verdadeiro popstar. Tudo ia bem quando de repente apagam-se as luzes e num piscar de olhos o skate vertical simplesmente acaba, se disssipa. Como um furacão que veio e foi embora, deixa de existir. Parte pela questão das pistas que fecharam as portas num efeito dominó em função das altas indenizações pagas aos frequentadores que ali se acidentavam, e parte porque tava na moda e passou. Muita gente virou as costas e foi fazer outra coisa.

Foi nesse movimento de transição no final da década de 80 para início dos anos 90 que se consolidou o street. Liderado por moleques de 15 anos querendo romper o padrão e que torciam o nariz para qualquer coisa que remetesse ao passado recente.

Gator caiu no ostracismo. Tentando se adaptar a nova era, foi pras ruas, não obteve sucesso e ainda acabou sendo ridicularizado.  O golpe foi duro demais, ele não assimilou.

Aquela que seria apenas mais uma história de alguém que perdeu tudo o que tinha e levou junto a cabeça, comum no esporte, ganha um contorno trágico  ao extremo.

Mark Gator mata e esquarteja sua própria namorada deixando-a enterrada no deserto.

Cumpre pena de prisão perpétua nos Estados Unidos.

O filme não circulou por aqui mas atualmente está disponível na rede

Assiste lá ou dá uma procurada pelo doc no site da Amazon.

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