O que ser pai me ensinou sobre ser empreendedor

por Claudio Sassaki

Para Sassaki, as duas funções compartilham um desafio em comum: estar presente e disposto a aprender

No fim do  passado, o Lucca nasceu. Lucca é meu quarto filho; antes dele, vieram Yasmin, Luana e Vitor. Ver o amor incondicional dos três posando para a primeira foto com o Lucca no colo, cheios de orgulho do irmão que acabara de nascer, encheu meus olhos de lágrimas. Meus filhos têm sido meus grandes pequenos mestres nesse constante exercício de paternidade - e, sem saber, no de empreender também.

Quando me tornei pai pela primeira vez, há nove anos, estava cheio de fórmulas: eu sabia o que seria melhor para minha filha; li todos os livros sobre como criar meninas, de Winnicott ao método Nana Nenê (sofridíssimo, mas funciona). E, mesmo assim, a Mimin, como a chamamos, não se contentou com meu conhecimento teórico: tive que aprender não a ser um pai, mas a ser o pai da Mimin.

Precisei entender quem ela era, o que queria, o que a assustava e, principalmente, o que não funcionava. Percebi que o melhor jeito de a Mimin entender uma bronca é pegá-la no colo, dar um abraço bem gostoso e só então explicar. Que ela gosta mais de conversar à noite, depois do jantar. E que ela naturalmente já se cobra tanto que, como pai, minha função não é aumentar a cobrança, mas, sim, ajudá-la a acreditar que seus talentos podem ser desenvolvidos através de esforço, persistência e um pouco de ajuda. Que ela não precisa se preocupar em parecer inteligente ou ter medo de se arriscar com novas experiências, e, sim, dedicar sua energia a aprender com a certeza de que apoiamos sua liberdade de errar durante o processo.

São centenas, milhares de particularidades que, hoje, sei de cor, mas que precisei de tempo, convívio e humildade para compreender. É assim com cada um dos meus filhos: estar presente e disposto a aprender é, na minha visão, condição necessária para ser pai de cada um deles.

O mesmo também acontece no empreendedorismo.

Explico: no empreendedorismo, é comum nos depararmos com pessoas apaixonadas por sua solução. Pelo produto, aquilo que desenvolveram com tanto trabalho árduo e pesquisa, que lhes custou muito dinheiro e várias noites de sono. Só que, no processo, acabam desenvolvendo o produto que elas querem, não necessariamente aquele de que os usuários precisam. Então, saem por aí tentando encaixar sua solução mágica em algum cliente - quando o caminho deveria ser o contrário. Startups e novos produtos geralmente falham porque muitos empreendedores não escutam realmente seus clientes - ou, quando o fazem, levam consigo as perguntas erradas, tentando arrancar do público exatamente o que queriam ouvir.

Pelo contrário, o empreendedor deve ser apaixonado pelo problema que busca resolver, não pela solução que idealizou. O problema deve ser escrito à tinta; a solução, a lápis. Errar rápido e aprender com o erro é condição necessária, mas não suficiente para empreender: é imprescindível também estar disposto a mergulhar na rotina daqueles que se quer ajudar; conhecer suas dores, seus medos, seus desejos, seus problemas. Assim como um pai conhece cada detalhe no rosto dos filhos; assim como eu sei que a Mimin fica chateada quando tira uma nota baixa na escola e precisa chorar até que os olhos inchem antes de poder se reconstruir com apoio e um longo colo.

Em vez de ser o todo poderoso dono da solução, o empreendedor deve ter humildade para sentir na pele o problema que pretende resolver.

É por isso que, na Geekie, estamos constantemente nas escolas, conversando com diretores, professores e estudantes, convidando parceiros para visitar nossa casa, testando diversas versões das nossas ideias e coletando palpites, críticas, sugestões. Dessa forma, construímos em 2016 a ferramenta Tarefa da Casa, parte da plataforma Geekie Lab, totalmente cocriada pelos usuários. A partir de entrevistas iniciais com professores, identificamos que as soluções tecnológicas não estavam otimizando a rotina, mas sim gerando mais trabalho para esses profissionais. Eles levavam muito trabalho para casa! E, dentre as atividades que mais demandavam tempo, estava a tal da tarefa de casa.

Com um protótipo em mãos, voltamos a esse grupo de teste para observar como fariam uso da feature e recolher impressões - nesse momento, já atingimos 77% de aprovação! A primeira versão recebeu ajustes e foi oferecida gratuitamente a uma base 4500 professores que, mais uma vez, validaram a ferramenta. Enfim, a Tarefa de Casa foi implantada ao Geekie Lab e considerada útil por 89% dos usuários. O tempo gasto para criar, enviar e corrigir tarefas sofreu uma redução de 30 para 5 minutos!

Nós nos dispusemos a aprender com o professor e, em contrapartida, ele nos mostrou o caminho de maior impacto. É por isso que entendemos que nossas soluções nunca vão estar 100% completas - elas estão em constante evolução, assim como estão as necessidades dos estudantes, pais e educadores que apoiamos. Só precisamos estar abertos para crescer com eles.

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