por Alexandre Potascheff

Uma das principais atrizes do Brasil faz um balanço da carreira, reflete sobre o momento conturbado do país e analisa as polêmicas que envolveram o beijo gay que protagonizou com Fernanda Montenegro

Sem medo de cometer qualquer tipo de exagero, Nathalia Timberg é uma das principais atrizes do Brasil. Aos 87 anos, 62 deles dedicados às artes cênicas, Nathalia mantém, além da longa folha corrida de serviços prestados à televisão e ao teatro, a cabeça mais arejada e contemporânea que muitos garotões e garotonas por aí.

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Trip FM: Eu quero resgatar aquela polêmica do beijo gay que você protagonizou com a Fernanda Montegro na novela Babilônia. A nossa sociedade tá tão micha assim pra transformar um simples beijo numa “questão”? A gente está nesse estágio de precariedade?

Nathalia Timberg: Estamos. Está até virando um vício meu falar de “formação”. Nós estamos, justamente, com uma formação tão precária que acaba criando um terreno fértil para todas as posturas limitadas... Os fanatismos então grassam. As posturas hoje são forjadas com informações pescadas de forma atabalhoada, sem embasamento, o que não permite criar discernimento próprio. Então, dependendo do ambiente onde você vive, você vai acabar cultivando preconceitos, posturas radicais, posturas éticas questionáveis... Essa transição política que estamos vivendo hoje é fruto de uma formação em que a ética passou ao largo. Faz muito tempo. O comportamento do brasileiro vem sendo pautado por estado de exceção pra si próprio e lei para os outros. Fecham-se os olhos para uma série de coisas muito graves e, de repente, a liberdade do ser humano de livre escolha é tolhida. Então, um tema que já deveria estar absorvido por nossa sociedade vira uma bandeira de hipocrisia de determinados porta-vozes cujo próprio comportamento é altamente discutível. Então não há como levar a sério. Só lamentar que nós ainda estejamos em um nível de obscurantismo da idade média.

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Mudando de planeta, indo pro mundo do Projac, das novelas... Como é para uma atriz com a sua formação e trajetória de repente ter que contracenar com um ex-modelo, ex-Big Brother. Importante frisar, nada contra ex-modelo ou ex-Big Brother. O fato é simplesmente você ter que contracenar com alguém mais novato, com alguém que, muitas vezes, não teve nenhuma base do ponto de vista de arte dramática ou mesmo de cultura. Como você lida com isso? É muito curioso. Eu tenho muito respeito pelo autodidatismo. Quando é, realmente, autodidatismo. A pessoa pode não ter uma formação acadêmica e ter talento. O talento é uma pedra bruta. Minha família mexeu com diamantes, eram diamantários. E, através da lapidação, você pode fazer um brilhante ou até mesmo estragar um diamante. Agora de vidro você não faz um diamante. Tudo depende do investimento da pessoa. Isso em todas as áreas. Na música! Nós temos grandes artistas de música popular que muitas vezes não tiveram acesso à uma grande formação. Então independe da forma que você encontrou pra se desenvolver. E, se você foi abençoado por um traço genial, seu DNA traz coisas que nenhuma universidade vai te ensinar. Então a formação é discutível, depende o que você vai fazer com o talento que a natureza te deu.

OUÇA A ENTREVISTA COMPLETA NO PLAY ABAIXO:


SET LIST

The Kinks -- Supersonic Rocket Ship
Walter Murphy -- A Fifth of Beethoven
JJ Cale -- After Midnight
Seu Jorge -- Rock With You
Nicole Willis -- Feeling Free

Ouça todas as músicas que rolaram no Trip FM em 2016

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