por Alexandre Potascheff

Ator fala da sua experiência vivendo na periferia, conta tudo sobre as cenas de sexo da novela Liberdade, Liberdade e reflete sobre pichação de monumentos e o sentido da vida

Aos 36 anos ele pode, tranquilamente, ser considerado um veterano na profissão: são 26 anos dedicados às artes cênicas. Talentoso e corajoso, rompeu a barreira de “galã romântico” que cercou o início da sua jornada e apostou em projetos mais densos e profundos. Já consagrado, agora em 2016, na novela Liberdade, Liberdade, deu mais uma prova do seu comprometimento com as artes dramáticas e protagonizou a primeira cena de sexo gay da dramaturgia da Globo. Na entrevista para o Trip FM, entre outras coisas, Caio contou sobre os bastidores da gravação dessa cena e refletiu sobre suas experiências morando no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, e na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro.

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Trip FM: A Globo já tinha produzido cenas de beijo gay, entre o Matheus Solano e o Tiago Fragoso e entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.  Mas você protagonizou a primeira cena de sexo gay. Como foi a contruçào dessa cena?

Caio Blat:
Foi uma conquista possível graças à essas cenas que vieram antes, que abriram esse espaço junto ao público. Nesses primeiros momentos houve certa rejeição até pela forma como foi feito. Por exemplo. A cena da Nathalia e da Fernanda foi considerada precipitada, porque foi ao ar logo no primeiro episódio. Então você ainda não conhecia os personagens, não tinha envolvimento, não torcia por elas. Agora em Liberdade, Liberdade meu personagem, desde o início, era um homossexual enrustido que vivia numa sociedade machista e violenta, onde os gays eram queimados na fogueira pela Inquisição no século XIX. Ele lutou ao longo de toda a novela contra esse preconceito e as pessoas se encantaram por ele. Quando ele inicia o romance com o coronel, vivido pelo ator português Ricardo Pereira, as pessoas torcem pelo casal. Além disso, a novela foi ao ar em um horário propício, às 23h, quando as crianças e as “famílias” já foram dormir e quem está assistindo televisão tem interesse por temáticas adultas. Finalmente, a parte artística, o texto, a direção, a edição, nossa atuação, tudo foi impecável. Então tudo coincidiu e foi bem construído para o sucesso da cena. Eu não recebi uma crítica ou mensagem negativa. Só pessoas agradecendo e elogiando, pessoas que se sentiram representadas. Foi um momento muito especial na minha carreira, em personagem que eu vou levar pra sempre.

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Você é um cara que mergulha no trabalho e chegou a morar alguns meses na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, e no Capão Redondo, em São Paulo para construir personagens. O que você aprendeu com essas experiências? 
Eu aprendi que a injustiça é muito grande e que você não pode julgar o que uma pessoa faz a partir de uma sociedade injusta. O moleque que está na periferia muitas vezes não tem educação, não tem família, não tem oportunidade, não tem acesso à cultura, não tem nada e ele se revolta, ele resolve partir pra uma errada. Quem pode julgar ele? Quem deu pra ele uma oportunidade diferente, pra ele fazer outras escolhas? Do lado de lá o buraco é mais embaixo e cada um tá se virando como pode. A sociedade tem que entender melhor a situação das periferias. Veja o que aconteceu no Rio. Fizeram as UPPs. “Ah, que maravilha, as favelas estão pacificadas”. Mas só mandaram a polícia! Não seguiu atrás saneamento básico, recolhimento de lixo, educação, cultura, esporte, eventos sociais... Não, só foi a polícia! A gente tinha que invadir a favela com oportunidades, não com polícia. Com certeza a gente teria uma sociedade melhor, com menos violência e desigualdade se a gente pensasse de outra forma.

ESCUTE A ENTREVISTA COMPLETA NO PLAY ABAIXO:

SET LIST
Bob Dylan -- I Want You
Tom Waits -- Ice Cream Man
Jorge Ben Jor -- Menina Mulher da Pele Preta
Raphael Saadiq -- 110 Yard Dash
Broncho -- Deena

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