Imunologia com amor

Na década de 80, com idade na casa dos 40 anos, casada, dois filhos, a médica oncologista e imunologista holandesa Irene Adams caiu de amores... pelos meninos de rua de Belo Horizonte. Preocupada com a disseminação da epidemia de Aids, então recém-descoberta, criou com recursos próprios e doações um serviço de informação e prevenção da doença entre a meninada desabrigada, que constituía a população mais vulnerável da capital mineira. O que começou como uma pequena clínica no porão de uma igreja foi aos poucos se desenvolvendo e abrigando outros serviços sociais. Hoje, viúva e avó, a médica contabiliza mais de 2.500 afilhados: meninos e meninas de famílias desestruturadas, que ela e sua equipe ajudaram de alguma forma. O significado da sigla que dá nome à clínica, Ammor, mudou ao longo do tempo: o que antes era Atendimento Médico aos Meninos de Rua virou Ação Multiprofissional com Meninos em Risco. Mas a inspiração continua a mesma. Muito doente na infância, Irene diz que se lembra da paz e da segurança que a invadiam ao receber atenção de um profissional de saúde. Hoje retribui o amor que recebeu com afeto e espírito humano. Instalado em um casarão que abriga atividades culturais e sociais, além do aconselhamento de saúde, o projeto Ammor é hoje composto de um grupo de iniciativas complementares, cada uma com sua própria estrutura, mas focadas no mesmo público. A pequena equipe de voluntários frequentemente recebe visitas de ex-abrigados, que às vezes aparecem apenas para serem enxergados novamente com olhos amorosos e carinhosos. Nos cursos que os profissionais da Ammor prestam para educadores, a ênfase é no reconhecimento de cada indivíduo. “Todo mundo quer existir. O menino de rua quase nunca tem autorização da sociedade para isso”, diz Irene.