Volta ao Mundo em 12 Escolas

por Redação

Livro quer inspirar pessoas a buscar novos modelos de educação ao revelar iniciativas transformadoras

Como seria estudar em uma escola em cuja parede se lê a frase “Esta é uma zona livre para erros”? Chegar pela manhã e ouvir do professor: “Pessoal, vou tentar algo com vocês hoje que nunca fiz: pode dar certo e pode dar errado.”? Ou, ainda, escolher o que aprender, quando e com quem? Por meio de uma jornada de ensino e aprendizado que revela iniciativas transformadoras pelos cinco continentes e de histórias de quem está participando dessas experiências, o livro Volta ao Mundo em 12 Escolas, a ser lançado no primeiro semestre de 2013, quer inspirar pessoas em busca de novos modelos de educação – sejam elas alunos curiosos, pais inquietos ou educadores empreendedores.

“Pais, professores ou instituições muito conservadoras talvez não percebam que existem outras alternativas, porque vieram percorrendo um caminho secular em que sua receita sempre deu certo: jardim de infância + ensino médio + faculdade + pós-graduação = sucesso. Sera que é assim ainda hoje?”, provoca Eduardo Shimahara, o “Shima”, 40 anos, educador e idealizador do projeto com mais três pessoas. “Nosso livro é como um cardápio: não busca encontrar verdades acerca dos modelos atuais ou passados nem pretende julgar metodologias como 'certas ou erradas'. A ideia é simplesmente mostrar uma diversidade de métodos, lugares e histórias.”

A diversidade, aliás, não só foi um dos focos do livro como também o serviu como base de elaboração: mais de 90 pessoas envolvidas em distintos projetos foram entrevistadas – entre pais, alunos, ex-alunos, professores e responsáveis pelas instituições –, lançando olhares com diferentes perspectivas – além de a escolha das escolas ter privilegiado a busca por iniciativas formais e informais de educação com diversas temáticas, como empreendedorismo, lógica de game, sustentabilidade, entre outras, voltadas aos variados públicos (crianças, jovens e adultos).

“Não dá mais para pensarmos numa educação baseada na monocultura do pensamento, que não dê conta das particularidades, sonhos e paixões de cada indivíduo”, diz André Gravatá, 22 anos, jornalista. “O mais encantador, o que mais motiva, são as histórias que ouvimos durante a jornada. As pessoas compartilham com a gente como elas foram transformadas em seus processos de aprendizagem, e isso é extremamente inspirador, é um conteúdo que pulsa.”

A educadora Carla Mayumi, 42 anos, também faz questão de compartilhar um dos causos vividos. “Na Riverside School, na Índia, a sala da diretora é a mais central e a mais aberta da escola. Ela é cercada por uma parede de vidro e a porta, que também é de vidro, fica escancarada o tempo inteiro. Dá pra ver tudo o que está acontecendo dentro. Um dia estava acontecendo uma reunião com um pessoal que tinha ido apresentar uma nova tecnologia. Estavam lá essas pessoas, a diretora e um menino de 11 anos. Quando os caras terminaram de fazer sua apresentação, a primeira coisa que a diretora fez foi virar para o menino e perguntar: 'O que você achou?'. Ele ficou um pouco tímido, mas começou a falar, com todos os adultos ouvindo atentamente. Simples, né?”

“Para muita gente, escolas pequenas são tidas como experimentais, alternativas ou mesmo nem são tão levadas a sério”, opina Shima, que não acredita que o sistema tradicional de ensino vá desaparecer ou ser suplantado por essas instituições. “Acredito que cada vez mais vai haver diversidade de opções. Sejam elas mais tradicionais ou mais ousadas.”

A primeira questão que vem à tona para pais reticentes e acostumados com o retrógrado método de ensino é, muito provável, a da hierarquia na sala de aula. “No North Star, um centro de aprendizagem nos EUA, a proposta de hierarquia é bem diferente da de uma escola ou sistema de ensino tradicional. Escutei de alunos e professores uma fala muito interessante: 'Aqui os adultos estão do nosso lado, em nosso favor, e não contra a gente'. De fato, a relação entre os professores e alunos é muito amigável e cada um sabe o seu lugar”, diz a psicóloga Camila Piza, 31 anos.

“É uma hierarquia com transparência total, em que a informação flui, as pessoas participam, as conversas e o diálogo acontecem. Não se tem medo da autoridade e se fala de igual para igual, como seres humanos. A hierarquia de funções existe, mas ela é perpassada por um relacionamento humano que não é pautado por ela”, comenta Carla Mayumi.

Das muitas matérias feitas neste blog, a maioria dos entrevistados apontou a educação como principal meio transformador da sociedade. Não obstante, é evidente a existência de uma crise no sistema educacional.

“Quando se fala em crise do sistema educacional eu imediatamente penso em várias possíveis crises. Posso pensar no humilhante salário recebido por professores da rede pública, no baixo investimento em educação que nosso país faz, nos professores que vão para suas classes dizendo que suas aulas são ruins porque os alunos estão cada vez piores e posso, ainda, pensar na gigantesca quantidade de alunos que hoje buscam o ensino superior simplesmente porque com isso acreditam que vão ganhar mais dinheiro ou ser promovidos”, reflete Shima. “Essa, para mim, é uma crise de sonhos, em que seguimos como uma manada por caminhos já trilhados simplesmente porque achamos que aquele é o único caminho possível.”

Os professores, no entanto, também poderiam fazer um pouco mais. Shima cansou de ver acadêmicos saírem extremamente tocados de seminários de inovação em sala de aula nos quais “começam até mesmo a escrever artigos científicos a partir daquilo que viveram, mas chega a segunda-feira e suas aulas são exatamente as mesmas. Falam e escrevem livros a partir de teorias que não aplicam! São Ph.D.s em educação, que citam dez autores diferentes a cada cinco minutos de conversa, mas que têm aulas extremamente quadradas em que chegam e vão vomitando conteúdo sem sequer saber quem são e de onde vêm os alunos que estão ali na sua frente”.

Até que ponto, afinal, essas instituições com ensinos alternativos formam e preparam os alunos para os desafios que o modo de vida capitalista vigente impõe?

“A maior diferença é o pensamento crítico que parece presente em todas as entrevistas com alunos. A capacidade de reflexão e de pensar, de fato, sobre consequências de decisões ou mesmo o funcionamento de questões complexas. Os alunos e alunas parecem acordados. Independentemente de quererem trabalhar numa grande corporação ou mesmo ter seu próprio negócio ou, ainda, se tornar artistas ou se engajar num trabalho voluntário, parece que a decisão é pensada e defendida com argumentos que vão muito além do: 'afinal todo mundo faz, eu também tenho que fazer'.

 
                                                                    ***

O livro faz parte do projeto sem fins lucrativos Educ-ação, e parte do material está sendo divulgado através de artigos no blog do coletivo, que serve também para as pessoas interessadas acompanharem o andamento do projeto. Duas versões serão lançadas: uma online e outra impressa, mais exclusiva. Ambas serão gratuitas e todo o material estará disónível no Creative Commons para qualquer pessoa poder copiar o conteúdo e espalhá-lo pelo mundo.

Vai lá: Volta ao Mundo em 12 Escolas 

fechar