por Redação

Cineclube rural acumula experiência e vira tecnologia social com a mão do coletivo Fora do Eixo

Quando a noite cai no bairro da Água Vermelha, periferia rural em São Carlos, interior de São Paulo, outra luz se anuncia. É a telona do cineclube CineMágico, uma iniciativa de educação e entretenimento que todo mês reúne a gente simples do bairro para assistir a um filme. O cineclube acontece cada vez em um sítio. O público vai surgindo aos poucos do breu da rua de terra.

Chega um, chegam dois, uma família vem com seis, um casal chega a cavalo, uma turma a pé, a meninada cheia de euforia. A garagem da chácara da dona Sebastiana se enche, tem quase 40 lá dentro. O pessoal vai chegando e sentando. Trazem boa de milho, bolos, torta de frango com ervilha, refrigerante, chazinho para espantar o frio. A comédia Os Trapalhões na Serra Pelada logo começa.

Em 2008, quando nasceu, o cineclube foi batizado de 'Cinema é Saúde', graças a um parceria do Cine São Roque, do município, com o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Universidade Federal de São Carlos. Eram dois os objetivos. Primeiro, criar espaços culturais na zona rural, onde à noite o povo não tinha nenhuma diversão. O projeto aproveitava o povo reunido para conversar com eles sobre saúde, medicina preventiva e saúde da família.

A combinação de cultura e saúde deu tão certo que logo outras atividades passaram a rechear as sessões de cinema: bingos sob as árvores, oficinas de fotografia e de malabares no gramado das chácaras, apresentação de peças de teatro. As conversas continuaram, mas os assuntos ficaram mais variados. Solidariedade, respeito às diferenças, cidadania e outros temas entraram no papo. O público também passou a participar da escolha dos filmes.

Em maio desse ano, o público escolheu um nome menos institucional e mais acolhedor para o cineclube: CineMágico. De fato, o que acontece ali nas noites de cinema encanta gente de todas as idades e fortalece os laços da comunidade.

Atualmente, toda a magia das sessões de cinema ao ar livre de São Carlos nasce de um outro arranjo encantado: o coletivo Massa Coletiva, de São Carlos, que, organizado de forma independente, é responsável pela produção, gestão e disseminação do projeto. Para que esse encanto possa abrilhantar outras noites Brasil afora, o Massa Coletiva se preocupou em registrar todo o conhecimento que acumularam sobre como organizar uma noitada de cinema na roça. Esse trabalho acaba de ser reconhecido.

A Fundação Banco do Brasil reconheceu o Cinemágico como uma tecnologia social, ou seja, uma forma organizada de promover transformação social. Não por acaso, o Massa Coletiva faz parte da rede de coletivos Fora do Eixo, uma iniciativa independente de produção cultural espalhada em vários pontos do Brasil e que tem como um de seus criadores o cuiabano Pablo Capilé, um dos homenageados do Trip Transformadores de 2011. 

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