Ataques a gays são reação às conquistas do movimento

por Redação

Jean Wyllys: ”Os setores mais conservadores reagem com violência à visibilidade do movimento LGBT”


O deputado federal
Jean Wyllys, primeiro parlamentar do Congresso a empunhar a bandeira do combate ao preconceito homossexual no Brasil, acredita que o ataque a um casal homossexual, ocorrido no dia 1o de outubro, em plena avenida Paulista, em São Paulo, é parte de uma reação à visibilidade obtida pelo movimento LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). Sem nenhum motivo aparente, os dois rapazes foram agredidos por outros dois homens, com socos e pontapés. Um deles teve fraturas. O crime foi registrado como lesão corporal consumada e comunicado à Delegacia de Crimes Raciais e Crimes de Intolerância. A polícia tenta identificar os agressores.

“Na medida em que os LGBT conquistam visibilidade, espaço de representação, inclusive de representação política, como a minha presença no Congresso, é óbvio que os setores mais conservadores da sociedade vão reagir de maneira mais violenta”, diz Jean, Coordenador da Frente Parlamentar de Cidadania
LGBT, e vencedor do Prêmio Trip Transformadores de 2011.

Pobre, nordestino e homossexual, Jean sabe bem o que é ser vítima de preconceito. Na infância, sofreu bullying por ser um menino diferente do que os amigos e a família esperavam. “Eu não jogava futebol. Brincava com as meninas, gostava de livros, de desenho animado, era mais delicado”, disse ele em entrevista. “Minha irmã mais velha me discriminava muito, mas eu a perdoei, porque ela ela também sofria muito por ter um irmãozinho gay, também era discriminada. Na escola, em vez de me protegerem, os professores reforçavam o preconceito. Me lembro que, quando fui reclamar a um professor, ele me disse: 'Mas também, com esse seu jeito...'. Ser gay é viver no inferno.” Apesar de toda a perseguição, o menino gostava de estudar. “A gente se arrumava cedo, vestia o uniforme de tergal e chegava bem antes de o portão abrir, para sentar na primeira fileira.”


Com o tempo, a facilidade de se expressar e a inteligência deram a ele a segurança de se expor ao mundo. Jean Wyllys deu as caras, publicou três livros, venceu o reality show Big Brother Brasil de 2005, atuou como jornalista e hoje leciona em Cursos Superiores de Comunicação. Nas eleições de 2010, conseguiu eleger-se com apenas 13 mil votos, graças aos votos de outros candidatos do partido.


Embora seja parlamentar de primeiro mandato, integrante do chamado “baixo clero”, aqueles que não têm grande relevância nos bastidores do poder, mais uma vez Jean começa a se expor. É autor da Proposta de Emenda Constitucional que pretende estender o direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Jean acredita que, se for aprovada, a PEC terá um impacto enorme na vida das pessoas e complementará a conquista obtida junto ao Supremo Tribunal Federal, que este ano reconheceu a união entre casais do mesmo sexo.


“Alguma discriminação social sempre vai haver. O que não pode haver é a discriminação no acesso a direitos. Toda a briga do movimento LGBT brasileiro e a minha batalha no Congresso é exatamente para deixar isso claro. Nós temos que salvaguardar a diversidade cultural da sociedade brasileira, sem permitir desigualdade nos direitos”, defende Jean.
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