Agora é que são elas

por Bruna Bittencourt

Women’s Music Event quer aumentar o protagonismo da mulher no mercado musical brasileiro

Anos atrás, Monique Dardenne se preparava para trabalhar em uma turnê de Snopp Dogg. Quando chegou no aeroporto para apanhar o crew de dez homens do rapper, ouviu de um deles: "Cadê o tour manager?". "Sou eu", Monique respondeu. "Não, não, o tour manager, que vai cuidar da gente", insistiu. "Sou eu", foi obrigada a repetir.

A história foi apenas uma das que surgiram em uma mesa redonda, no ano passado, com mulheres do mercado da música nacional, entre elas as cantoras Juçara Marçal (Metá Metá) e Érica Alves (The Drone Lovers), a jornalista Claudia Assef e Monique, que, além de manager de artistas, passou pela plataforma de streaming inglesa Boiler Room e pelo selo Skol Music. "Não era um mimimi ou uma terapia coletiva, mas, em algum momento, todas falaram da dificuldade de ser mulher na música", lembra Claudia, autora do livro Todo DJ Já Sambou e do site Music Non Stop.

Do encontro nasceu um grupo no Facebook para levar o debate adiante, Mulheres na Música, que hoje conta com 700 integrantes do Brasil inteiro, de advogadas especializadas em direitos autorais a técnicas de áudio. Mas Claudia e Monique decidiram ir além. "Já não é mais uma aberração uma mulher estar em uma posição destaque, mas ela ainda tem que se provar todos os dias", diz Claudia. 

Nasceu assim, no fim do ano passado, o site Women’s Music Event com a missão de destacar a participação e promover a inclusão de mulheres no mercado da música. O endereço traz de seções que apresentam estúdios caseiros de produtoras musicais a entrevistas com profissionais que trabalham nos bastidores de grandes festivais. "As pessoas não sabem que por trás do Lollapalooza há uma mulher, a Leca [Guimarães]. Ou vão no Popload, só escutam falar do Lúcio Ribeiro e não conhecem a Paola [Wescher]", conta Claudia. "Queremos colocá-las em evidência, criar um movimento aspiracional para que outras meninas se animem: 'Pô, eu também posso'."

O WME ainda disponibiliza um banco de dados de profissionais mulheres da música. "Queremos ser uma espécie de LinkedIn do universo feminino", conta. "No Facebook, há um grupo com mais de 200 técnicas de áudio e engenheiras de som, o Female Pro Audio Brasil. O mercado ainda não absorveu essas mulheres, não se ligou que elas existem. Elas acabam sendo as profissionais mais detalhistas e CDFs porque têm que provar seu trabalho o tempo inteiro."

A movimentação do WME não será apenas on-line: nos dias 17 e 18 de março, a Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo) recebe o evento do projeto. Durante o dia, haverá uma série de workshops técnicos, como uma aula prática de sintetizadores com Érica Alves, além de painéis de discussão sobre temas como as plataformas de streaming. "Não vamos falar de assuntos femininos, mas de temas urgentes da indústria musical e as mulheres estarão lá para defender seus pontos de vista", diz Claudia. "Um dos painéis, lógico, vai falar sobre assédio na estrada. Se a gente não falasse desse assunto, seria um elefante branco." Já as noites serão dedicadas a shows e discotecagens. Toda a equipe do evento, cerca de 50 mulheres, será, claro, composta por mulheres. 

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