Você precisa de uma ajudante do lar? Sério?

por Nina Lemos

Ao invés de aprender a se virar, eles importam filipinas porque elas gostam de servir! Aqui, uma ex patricinha mimada que não movia uma palha desabafa: eu quero um tanque, porque facilitaria muito a minha vida

Clichê de quem mora fora do Brasil: "antes eu tinha empregada, agora não tenho, meu deus, a gente aqui faz tudo!" Pois eu virei esse clichê. Tinha faxineira duas vezes por semana. Agora, não tenho. Em alguns meses aprendi a fazer coisas que ja sabia fazer mas não fazia ("porque a moça faz"). Era uma folgada.

Não lavava as minhas próprias roupas

Largava minhas roupas jogadas no chão

Não lavava meus próprios pratos.

Nunca tinha usado um aspirador de pó.

O que eu faço hoje? O normal. Tudo isso que não fazia antes. Se eu faço bem? Não. Mas faço. Se eu gosto? Nem sempre. Mas não me mata.

Ainda largo roupas espalhadas pelo chão, mas um dia eu decido que tenho que catar, porque andar começa a ficar perigoso.  

Que vergonha aprender isso só depois dos 40 anos. E daqui posso ouvir o coro dos meus amigos gritando: nina fazendo coisas da casa? IMPOSSÍVEL! E também posso ouvir outro coro: “patricinha, mimadaaaa, teve que morar fora para fazer o básico.”. Patricinha mimada. Concordo.

Como assim nunca fiz? É bizarro mesmo. Ainda mais eu, que nunca fui rica. Mesmo. Sempre fui de classe média, com alguns momentos de falta de grana grave na família. Mas sempre tivemos escravos diários ou semanais. Eu sou filha única. Eu fui criada no Brasil, um lugar maravilhoso, mas um lugar onde amigos ainda escrevem no Facebook que precisam de empregada que tenha alto atral (mas provavelmente que não cante, porque gente que canta em casa não dá!). É casa grande e senzala? Óbvio.

A nova: moda entre alguns ricos no Brasil é ter empregada filipina (!?). Existe uma agência que as contrata. Ah, tá, no Brasil agora faltam empregadas domésticas (luxoooooo, grito daqui). Não tem mais quem durma no serviço (arrasaaaa, eu berro). E o que você faz quando as coisas filnamente começam a mudar? Ah, ao invés de aprender a me virar eu vou lá e contrato uma empregada filipina. Elas são melhores, elas não falam muito, elas gostam de servir.

Vamos parar logo com esse papo: ninguém gosta de servir. Acho que nem soldado gosta de servir à patria. A pessoa pode fazer seu trabalho de faxineira com dignidade. Mas gostar de servir, acho que ninguém gosta. E servir não é servir uma mesa de um restaurante. É servir a familia rica pobre coitada que é incapaz de fazer qualquer coisa porque "não sabe".

Quando a gente não sabe, a gente aprende.

E outra, um bom tanque de roupa para lavar e uma boa pia podem ser terapêuticos sim. E, claro, estou falando de homens e mulheres.

PS. Detalhe horrível. Na Europa não existe tanque, o que torna a nossa vida muito, muito difícil. A gente tem que ficar jogando baldes de água suja na banheira ou na pia, um horror. Então, se alguém falar que eu mereço um tanque, vou concordar. Eu mereço, mesmo. Ia super me facilitar a vida.

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