Vladimir Brichta

por Sara Stopazzolli
Tpm #122

O ator mostra o que o (falso) baiano tem e por que conquistou a vilã do ano

Vladimir Brichta responde ao “Tudo bem?” com um “Tudo massa! Não fosse esse ombro…”, num baianês levemente domesticado pela TV. Sentado no café de uma livraria carioca, ele segue com o sorriso no rosto enquanto fala da inflamação que o tem impedido de surfar, algo que faz há 25 anos. “É só um sinal de que as coisas estão mudando”, comenta. E tenta desafiar minha impressão de que ele poderia fazer o papel dele mesmo de dez anos atrás sem nem precisar de maquiagem. Foi nessa época, começo dos anos 2000, que Vladimir despontou como galã na TV, depois de uma década de ralação nos palcos baianos – na verdade ele é mineiro, mas se mudou para Salvador ainda criança. Hoje, aos 36 anos, é visto como uma espécie de galã cômico. “Não me chatearia se virasse um Ben Stiller brasileiro. Mas, definitivamente, não sou feliz se só fizer humor, ou melhor, o mesmo tipo de humor”, afirma, citando Armani, seu personagem no seriado global Tapas e beijos, um arquétipo constante no currículo dele, agora explorado de outra forma: “Isso para mim é uma vitória muito grande”.

Outra conquista é a estreia como produtor – e ator – de uma montagem de Arte, texto sobre amizade repleto do humor ácido da escritora francesa Yasmina Reza, conhecida também por Deus da carnificina, em cartaz no Rio de Janeiro. Vlad, como é chamado pelos amigos, ainda protagoniza dois filmes com estreia prevista para este ano: a comédia lúdica Minutos atrás, de Caio Sóh, e Coração invisível, de Bernard Attal, que trata de autoconhecimento. 

“A paternidade, para quem a exercita, é uma prática constante de ir além de si mesmo. Exige, encanta, estimula, provoca”

Vira-lata
O ator fala do último longa com brilho nos olhos e conta que foi jogado para o mundo do além-umbigo muito cedo. Foi pai aos 21 anos, ficou viúvo da cantora Gena Carla Ribeiro aos 24 e enfrentou uma longa luta judicial com a avó materna pela guarda da filha, da qual saiu vitorioso. “A dor sempre traz amadurecimento. E a paternidade, para quem a exercita, é uma prática constante de ir além de si mesmo. Exige, encanta, ameaça, estimula, provoca, desafia”, diz. Além de Agnes, hoje com 14 anos, é pai de Vicente, 5, do casamento com a atriz Adriana Esteves – e mora também com Felipe, 12, filho dela com o ator Marco Ricca. “Agnes tem Adriana como uma segunda mãe, Felipe mora uma parte do tempo com o pai e Vicente é o catalisador disso tudo. Nossa vida em família é um barato! É delicioso quando os adultos envolvidos colocam suas questões afetivas de lado e são capazes de compreender com maturidade que as coisas se reorganizam”, resume.

“Ele tem um domínio, uma graça e uma inteligência que fazem falta nestes tempos em que humor se confunde com insulto”, Wagner Moura

Juntos há nove anos, Adriana esteve ao lado de Vlad quando ele passou por uma crise de insatisfação com seu trabalho. “Ela apontava algumas cenas e dizia: ‘Você mecanizou!’. Fiquei chateado, mas ela tinha razão. E mudar aquilo não era tão simples. Foi um estímulo para me inquietar, ir à terapia. Aprendi a ficar mais presente e íntegro nas minhas opiniões. Antes, não sabia se as escolhas eram minhas ou se eram para agradar ao próximo”, explica. Emílio de Mello, diretor de Arte, fala que, de fato, Vlad tem sempre uma opinião sobre o que faz. “É um ator aplicadíssimo, cheio de recursos, criativo, dedicado, carismático, generoso e um piadista profissional”, descreve. E finaliza: “Impossível ficar ao seu lado sem dar uma boa risada, seja no palco ou na vida”.

A atriz Fernanda Torres, que contracena com Vladimir em Tapas e beijos, concorda. E conta que, quando o conheceu, durante as gravações de um comercial de cerveja, ficou impressionada com o tríceps do rapaz: “Cheguei a pensar que ele fosse só isso. Só me atentei para o ator extraordinário quando o vi no musical Os produtores. Hoje tenho a sorte de trabalhar com ele”, comemora. “Além de ótimo companheiro, tem histórias impagáveis, principalmente da época de vira-latisse que ele e a leva de baianos divertidíssimos, Wagner Moura e Lázaro Ramos, viveram antes de ficarem famosos.” O amigo e ator Wagner enfatiza que, desde que se conheceram, em 1996, ele e Vlad têm sido cronistas e personagens da vida um do outro. “Foi comovente vê-lo fazer Arte com um domínio, uma graça e uma inteligência que fazem falta nestes tempos em que humor se confunde com grosseria e insulto. Me dá um orgulho tão grande... O tempo vai passando e vão ficando nas nossas vidas os que realmente importam. Ele é das pessoas que mais importam para mim.”

Amor consciente
Vlad é um querido unânime que sempre gostou de viver rodeado de gente: amigos, família, mulheres – sempre casado. Eram poucos os momentos dele com ele mesmo. Depois de seis anos de análise, agora lida melhor com a sua individualidade e isso tem feito a diferença. “Percebi que o casamento fica muito melhor quando você se afirma como indivíduo. No começo do relacionamento com Adriana, a gente tinha pressa de viver e acabava se atropelando. Hoje, tentamos criar e viver determinadas coisas que são urgentes naquele momento, sem atropelos. Não basta amar, tem que se amar bem”, conta ele, que faz surpresas e dá presentes “fora de data” à mulher. Mesmo agora, com o sucesso retumbante da personagem Carminha em Avenida Brasil, que exige dedicação exaustiva de Adriana, eles dão um jeito de ter um encontro especial no meio da semana. Vlad enumera predicados para falar do trabalho da mulher e se diverte quando é apontado na rua como “o marido da Carminha”. “Eu respondo: ‘Pode me chamar de Tufão!’.”

“[o assédio] tem a ver com a maneira como você se comporta. Estou muito bem no meu casamento, não dou abertura para isso”

O ator ainda conta que o assédio das mulheres, intenso nos seus primeiros anos de TV, diminuiu drasticamente. “Acho que tem a ver com a maneira como você se comporta. Como estou muito bem no meu casamento, não dou abertura para isso. Pode ser também o medo da Carminha!”, diverte-se. Lembrando do ombro, ainda sugere: “Ou estou ficando velho!”. Sem drama. Segundo ele, são só limitações físicas que lhe trazem o lado bom do autoconhecimento. “Hoje percebo a hora que preciso parar, respirar, descansar. Meu ombro poderia estar melhor há dez anos, mas prefiro minha segurança, minhas escolhas e o sentido que as coisas têm agora. Só falta o ombro ficar bom e a coluna começar a doer”, finaliza. Aos risos, claro.

Créditos

Assistente de foto Victor Jucá Assistente de estilo Giulia Hora Roly Agradecimento Casa 32

fechar