Vai pra cima, Shogun

por Luciana Obniski
Tpm #130

Ele treina forte em Los Angeles (e diz que não fica sem sexo antes de lutar)

Se preparando para a revanche de uma das lutas mais celebradas do MMA, contra Minotouro, Shogun treina forte em Los Angeles (e diz que não fica sem sexo antes de lutar)

Shogun é um homem de família. E isso não se vê logo que ele surge na janela do Skype. O porte grande, o rosto largo e maltratado por socos e lesões de mais de uma década de lutas, o abdômen torneado e as mãos calejadas pelos treinos enchem a tela do computador. Em um sábado à tarde, depois de seu treino em Los Angeles, onde teria uma luta na semana seguinte, ele baixou a guarda para falar à Tpm – principalmente sobre as mulheres de sua vida: a mãe, a esposa e a filha.

Maurício Rua começou a lutar aos 15 anos, inspirado pelo irmão mais velho, Murilo “Ninja”, que chegou a ser seu treinador de MMA (artes marciais mistas, o antigo vale-tudo). “Não pensava em ser lutador. Sempre tive o sonho de ser jogador de futebol. Eu e o Brasil inteiro, né?”, avisa, no início da entrevista, mostrando seu lado brincalhão.

E logo admite que a escolha não foi fácil. “Tentei trabalhar com meu pai, que era representante comercial de uma marca de sapatos, mas às vezes tinha que passar a semana viajando para encontrar clientes, e eu ia chorando. Ficava procurando uma academia para treinar durante as viagens”, conta. Percebeu que aquele não era o seu caminho. Quando decidiu encarar a luta profissionalmente, encontrou resistência em casa. “Minha mãe nunca disse que sim nem que não, mas meu pai não queria, achava que não era um futuro legal”, conta. “E eu entendo perfeitamente, porque naquela época o MMA era visto como algo irracional”, lembra. Mesmo assim, fez sua primeira luta profissional aos 20 anos já como Shogun, nome inspirado no famoso título militar japonês, que Maurício carrega tatuado no braço direito. “Não me vejo fazendo outra coisa desde então.”

Nos últimos 11 anos, ganhou embates importantes, contra nomes como o norte-americano Chuck Liddell e os brasileiros Evangelista “Cyborg” dos Santos e Lyoto Machida – este último, quando conquistou o cinturão do UFC (Ultimate Fighting Championship), em 2010. O mais relevante deles, porém, se deu contra Antonio Nogueira, o Minotouro, em 2005. Foi nesse combate que Shogun levou o prêmio máximo do Pride, evento que dominava o MMA antes do UFC.

O embate ficou tão famoso que Dana White, presidente do UFC, os convidou para uma revanche em junho próximo, em sua primeira luta na cidade de Winnipeg, no Canadá. O evento tem um peso ainda maior na atual fase do lutador, que tenta voltar à forma física depois de ver sua carreira quase chegar ao fim, em 2007, por causa de uma lesão nos ligamentos do joelho esquerdo, em sua primeira luta (e derrota) no UFC, contra o norte-americano Forrest Griffin. Ainda não totalmente recuperado, meses depois rompeu os mesmos ligamentos durante um treino, em Curitiba. Precisou ser submetido a mais uma cirurgia. Paula Sack, repórter do UFC, frisa que a luta é uma das mais importantes não só da carreira do curitibano, mas da história do esporte. “Foi um show de técnica e profissionalismo. Eu coloco na lista dos melhores confrontos que já vi na vida”, diz. Mas aponta que o maior adversário de Shogun é ele mesmo. “Nunca dá para saber como ele vai se apresentar. No UFC ele teve uma performance irregular”, aponta.

O irmão Murilo “Ninja” engrossa o coro de que disciplina é a arma mais importante de um lutador. “Digo sem medo: se estiver em forma, ele ganha do Minotouro de novo. Bem treinado, meu irmão é o melhor do mundo.” Mas não foge na hora de apontar que o irmão vai precisar de muito treino para bater a ótima fase de Minotouro. “Sempre disse para ele que o mais importante para um lutador é o gás. E ele tem ficado sem gás nas últimas lutas, porque o treino dele prioriza mais a técnica, e ele é um pouco preguiçoso.” Para garantir um desempenho satisfatório, Shogun se rendeu a um treinamento pesado nos EUA, mas volta a Curitiba antes de viajar para o Canadá. “Minha mulher precisa ter muita paciência comigo nessas épocas, porque o psicológico é fundamental numa luta dessas.”

 

“No único combate meu em que minha mãe foi, ela teve que sair para vomitar”

 

Pulso firme

Shogun conta que foi a mulher, a personal trainer Renata Rua, 30 anos, que o ajudou a manter uma rotina de treinos. Casados desde 2008, ele assume que não conseguiria se relacionar com uma mulher que tivesse um ritmo de vida tão intenso quanto o dele. “Nunca exigi isso da Renata, mas agradeço que ela tenha escolhido cuidar da família e da casa”, diz. Foi ela também que segurou a barra em 2007, quando passou pelas duas cirurgias no joelho. “A Renata não saiu do meu lado um minuto. Ela é a grande responsável por eu estar onde estou”, assume.

Sorriso largo

Toda vez que fala da mulher, aliás, Maurício sorri. “Conheci a Renata pelo Orkut. Ela era amiga de um amigo e comecei a mandar mensagens, mas ela nunca dava bola.” Passou então para cantadas via e-mail e MSN – sem sucesso. “Um dia abri a caixa de bate-papo e liguei a câmera, para ela ver que era eu mesmo. Acho que ela gostou do que viu”, conta. Renata assume que não imaginava casar com um lutador. “Antes de conhecer o Maurício, meu pai ligava a TV em uma luta de boxe e eu logo falava: ‘Ai, tira dessa selvageria’”, lembra. Hoje, é a maior fã do marido. “Ele nasceu para ser lutador. Já comecei a rezar para ele não se machucar em junho. Para mim, só importa a saúde dele”, diz.

Shogun diz que a sintonia do casal é tanta que, ao contrário de alguns amigos, a rotina de treinamentos não atrapalha a vida sexual. “Tem gente que acha que precisa ficar um mês sem transar para se preparar mentalmente para as lutas. Mas se eu ficar mais de uma semana sem sexo já começo a dormir mal. Acho que sexo não atrapalha, não. Só não dá pra fazer sexo selvagem um dia antes da luta. Melhor uma semana antes”, ri.

Maurício prefere que Renata assista às lutas de casa. “Quando viajo para lutar ou para reuniões com patrocinadores não consigo dar atenção, mas sempre falo com ela minutos antes das lutas. Já com a minha mãe...” A mãe de Shogun não gosta de ver nenhum filho lutar. Ela dedicou sua vida a criar os três meninos (Maurício é o do meio, entre Murilo “Ninja” e Marcos “Shaolin”, o caçula), que, a contragosto da matriarca, treinam e vivem de artes marciais – Murilo é ex-lutador e empresário da área e Marcos é treinador de MMA. “Minha mãe não gosta de ver luta dos filhos. No único combate meu em que ela foi, contra o Cyborg, ela passou mal e teve que sair para vomitar no banheiro”, lembra, rindo.

 

“Só não dá pra fazer sexo selvagem um dia antes da luta. Melhor uma semana antes”

 

Maurício só fecha o tempo quando o assunto é a terceira (e mais importante) mulher de sua vida: a filha, Maria Eduarda, 3 anos. Quando fala dela, Shogun é categórico – inclusive quanto ao futuro profissional da pequena. “Não quero que ela seja lutadora. Ela sabe que eu luto, mas nunca assistiu. A gente prefere esconder, porque ela não entenderia. Eu apoio o MMA feminino, porque sei do preconceito que elas passam, mas não gostaria que minha filha fizesse”, finaliza.

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