Uma carta de amor para Luiza Brunet

por Nina Lemos

Você teve a coragem que a maioria de nós não teve e ainda entrou na luta e disse que as mulheres precisam denunciar sim. Obrigada, Luiza

“Quase toda mulher já apanhou”, minha amiga fala isso pouco depois de sabermos da denúncia de Luiza Brunet, que sofreu uma agressão por parte do ex-namorado: foi espancada ao ponto de ter quatro costelas quebradas. Que dor imensa em todas nós ler essa notícia.

“Quase toda mulher já apanhou”. “Quase toda mulher já apanhou”.

Sim, muitas de nós já apanharam. É verdade. Sei que dói ouvir isso. Mas é fato.

Muitas de nós já levaram um tapa em uma briga. Muitas de nós não tiveram as costelas quebradas. Algumas sofreram agressões “leves”, tipo um apertão no braço. Só que não existe agressão leve. Em todas doeu. Porque toda agressão dói. Mesmo quando ela não machuca, machuca. E é por isso, Luiza, que nos te amamos. Você teve a coragem que a maioria de nós não teve e ainda entrou na luta e disse que as mulheres precisam denunciar sim.

Obrigada, Luiza.

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Queríamos te dizer que a gente não denunciou para não acharem que a gente era louca, porque a gente teve medo do que iam falar, porque você sabe, Luiza, se nossos pais soubessem… E a gente não denunciou, Luiza, porque algumas de nós tiveram pena deles! Sim, e nossas amigas irmãs brigaram com a gente. Disseram que precisávamos denunciar, mas não o fizemos. Talvez porque tivéssemos esperança de que ele mudasse e a gente voltasse.

Quando você denuncia, coloca um ponto final com a lei. E quando você denunciou sendo famosa e falou com todas as letras, Luiza, você colocou o ponto final mais final que poderia. Você não tem mais como voltar atrás. Você está livre. 

E quando você denunciou, você mostrou tantas coisas… Mostrou que agressão contra a mulher pode, infelizmente, acontecer com qualquer uma. Que não tem classe social, idade (dói demais saber que você foi agredida aos 54 anos, você, mãe de dois filhos adultos). Mas doeria também se fosse uma menina de 18. Doeria se fosse qualquer uma.

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Obrigada, Luiza, pelas suas palavras e pela sua generosidade. "Eu criei coragem, perdi o medo e a vergonha por causa da situação que nós, mulheres, vivemos no Brasil. É um desrespeito em relação à gente. O que mais nos inibe é a vergonha. Há mulheres com necessidade de ficar ao lado do agressor por questões econômicas, porque está acostumada ou mesmo por achar que a relação vai melhorar".

Muito obrigada por isso, Luiza. Nós te amamos. Não se esqueça disso.

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Créditos

Imagem principal: Christian Gaul

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