Sobre a missão de cada um

por Clarissa Corrêa

Todo mundo nasce com algum propósito

Segundo o que acredito, a morte não é o fim de tudo, mas o começo. É mais uma etapa, mais um aprendizado. Por isso, sei que a gente reencontra lá na frente entes queridos e amigos. Isso, de muitas formas, reconforta e aquece o coração. Acho que cada um tem uma missão (e seus carmas, suas pedras no sapato). Viemos para evoluir, para servir de alguma forma. Tem gente que só passa pela vida. Outros agarram com unhas e dentes essa oportunidade de crescimento.

Acredito que os jovens que perderam a vida dentro da boate Kiss, lá em Santa Maria, cumpriram a missão deles. Por favor, não me pergunte que missão cada um tinha. Não me questione se isso é justo ou injusto. Eu nada sei. Só acho que a gente nasce quando deve nascer e se vai na hora necessária. Existe, sim, o livre arbítrio. As escolhas são todas nossas. Parece um bando de palavras de uma conformada? E é. Que outro remédio nós temos, senão aceitar que chegamos aqui para fazer algo e quando nosso tempo termina simplesmente temos que sair do cenário? Conforme eu disse, é o que eu acredito. Cada um tem a sua crença, a sua fé. E eu respeito. Mas depois de pensar sobre da onde a gente veio e para onde a gente vai, decidi que para mim é muito mais lógico acreditar que tem uma continuidade. Isso me dá esperança.

Nossa primeira reação é buscar um culpado. Ou vários. Depois, pensar nossa, tão jovens. Vidas inteiras pela frente foram interrompidas em uma tragédia absurda. Isso é horrível, doloroso e triste demais. Uma mãe e um pai jamais deveriam enterrar um filho. Ou quatro. Mas nem sempre a vida segue seu curso natural e não temos muito o que fazer, a não ser aceitar. Por mais difícil que seja, não dá para se entregar, pois mesmo a gente não querendo a vida segue. Os dias continuam nascendo e morrendo, independente da dor que a gente carrega no peito. O mundo não para para esperar que você recomponha seus cacos e solde suas feridas. A saudade vai ser eterna. O dia a dia nunca mais vai ser o mesmo, a rotina vai se transformar e muitas casas perderão risos, abraços e beijos. Muitas lágrimas ainda vão rolar, hoje, amanhã e depois tudo vai parecer um sonho confuso e cruel. Mas, sinceramente, eu acho que para tudo tem uma explicação, um motivo. Eu já perdi pessoas muito próximas e amadas e sei o quanto dói. E o quanto ainda vai doer. O meu consolo é que acredito que tudo tem uma explicação. Hoje a gente pode não ter o entendimento de algumas coisas, mas um dia tudo vai ficar claro.

O Brasil mostrou solidariedade e eu sinceramente fiquei feliz em constatar que ainda existe gente boa no mundo. Eu acho que não adianta apenas lamentar nas redes sociais. É preciso agir. Se você mora longe e não consegue fazer uma doação ou ser voluntário, pode mandar boas vibrações. Tem gente que acha isso bobagem, não é não. Boas vibrações, boas energias, preces, tudo isso visa trazer pelo menos um pouco de conforto para tantas famílias que a partir daquela madrugada nunca mais serão as mesmas. Se você não acredita em oração, pode compartilhar os locais para recebimento de doações nas redes sociais. Também é uma forma de ajudar. Na minha opinião, a única ajuda-que-não-é-ajuda é aquela em que você diz que chora, diz que lamenta, diz que sente muito, mas só diz. Dizer não diz nada. Fazer diz tudo. Tem gente que sente da porta da rua para fora. E a gente precisa sentir da porta da rua para dentro. Tem que vir do coração, senão de nada vale. É por isso que eu, do fundo mais fundo do meu coração, desejo paz, luz e serenidade para todos os familiares e vítimas da tragédia que aconteceu em Santa Maria. 

 

Vai Lá: @clariscorreaclarissacorrea.com 

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