por Ariane Abdallah
Tpm #103

O ator conta como venceu o preconceito da crítica e o monopólio da Globo

É provável que você já tenha encontrado o paulistano Rodrigo Faro num sábado à tarde. Mesmo que esteja só zapeando a TV, acaba dando uma parada na Record. Porque lá está ele, fazendo palhaçadas durante cinco horas, à frente do popular O Melhor do Brasil, programa de auditório com maior audiência da emissora que concorre com seis diferentes produções da Globo. As imitações de coreografias de artistas já viraram marca registrada e ganharam superprodução em casos como o de Lady Gaga, Michael Jackson e Justin Bieber, que foram os assuntos mais comentados do mundo no Twitter, em semanas de maio, junho e agosto deste ano. Além disso, até o mês passado, ele estava, pela terceira vez, à frente da temporada 2010 de Ídolos e era garoto-propaganda da Casas Bahia. Diante dessa overdose de imagem, o apresentador, que já foi ator da Globo, está pensando em contratar seguranças. Ainda mais depois que teve que ser resgatado pelo corpo de bombeiros do stand de um dos patrocinadores de seu programa, na Beauty Fair (Feira Internacional de Cosméticos e Beleza). Isso porque cerca de 10 mil pessoas pararam o evento para tirar foto, pedir autógrafos e dançar como ele.

“Não fui no puteiro com 13 anos. Minha primeira vez foi com uma namoradinha no banheiro do salão de festas do meu prédio. Minha mãe me explicou como tratar uma mulher”

Você deu uma pirada com a fama?
Logo que entrei na Globo, em 1996, as mulheres caindo em cima, pensei: “Vou pegar todas, agora quero andar de carrão”. Mas lembrei da criação que tive. Por ter perdido meu pai cedo [aos 13 anos], veio aquela coisa: “Vamos guardar dinheiro”.

Como foi sua criação?
Sou cercado por mulheres. Fui criado pela minha mãe e pela minha avó. Minha diretora [Rita Fonseca] é mulher, tenho duas filhas [Clara, 5, e Maria, 2] e a Vera [Viel, esposa dele e repórter do Amaury Jr. Show, na RedeTV!]. Não fui no puteiro com 13 anos. Minha primeira vez foi com uma namoradinha no banheiro do salão de festas do meu prédio [em São Paulo]. Minha mãe me explicou como eu deveria tratar uma mulher. Isso é bom até para apresentar um programa em que a maioria do público é feminina. Sempre tomo cuidado pra não ser machista, babaca.

Aos 36 anos, Rodrigo faz graça não só para mulheres, mas também para homens (41% do público), idosos e crianças. Descobriu que queria ser artista aos 8 anos, quando, numa padaria, foi chamado para o teste de um comercial de leite B. Escolhido entre 400 crianças, falou para a mãe que era isso o que queria da vida. De lá para cá, fez cerca de 400 comerciais, uma novela no SBT e nove na Globo. Também participou de cinco peças, gravou dois álbuns solo e passou dois anos como integrante da banda Dominó, hit teen nos anos 80 e 90. Aos 14 anos, fez parte do sexteto que comandava o infantil ZY Bem Bom, na Bandeirantes. Mas, formado em rádio e TV pela USP, sua meta era ser um apresentador do cacife de Silvio Santos e Chacrinha. Chamado pela Record, em 2008, Rodrigo começou ganhando R$ 70 mil, “um pouco mais” do que ganhava na Globo. Hoje, afirma receber entre 15 e 20 vezes mais do que quando fazia novela. Se calcularmos que seu salário dobrou ao mudar de emissora, então hoje ele fatura, no mínimo, meio milhão de reais – sem contar merchandising, campanhas publicitárias e participação em eventos. E está contratado até 2017.

“O legal é chegar em casa e ter uma mulher linda, mãe das minhas filhas, que, depois de 13 anos, ainda sinto tesão. E não aquela coisa de, oito da noite, falar: ‘Pra quem vou ligar?’”

Grande parte do que fatura hoje vai para a obra da casa que está construindo no condomínio de Alphaville (SP), onde mora com a família em outra casa, alugada. O restante divide basicamente entre lazer com a família – tem um barco em Angra dos Reis, e suas filhas adoram videogame e quadriciclo – e as contas da casa (“um bolo assim”, diz, fazendo gesto que mostra mais de 5 centímetros), que Vera paga pessoalmente no banco, com cheques assinados pelo marido.

Como conheceu a Vera?
Há 13 anos, num comercial, no Guarujá [litoral paulista]. Dei um beijo nela e falei: “Gozado, acho que vamos ficar juntos pra sempre” [risos].

O que mudou na sua maneira de encarar o sexo?
O legal agora é chegar em casa e ter uma mulher linda, mãe das minhas filhas, que, depois de 13 anos, ainda sinto tesão. E não aquela coisa de, oito da noite, falar: “Pra quem vou ligar?”. Aí acaba, você quer apertar o eject para a pessoa evaporar.

O que o nascimento das suas filhas mudou na sua vida?
Filho é bom para o ego, você deixa de ser o reizão da família para ser um servo. É um amor que dói. Você daria a vida por essa pessoa.

No dia desta entrevista, Clara, a filha mais velha, foi com ele à Record. Assistiu, quietinha, à equipe de produção entrar para medir o peito postiço que o pai usará na imitação de Madonna. Mas a toda hora ia abraçá-lo e beijá-lo. “Outro dia, ela falou: ‘Você é o único pai que usa uma roupa igual à que eu uso no balé’”, conta ele, que chama a todos de “meu anjo” e “meu amor”.

Os produtos do banheiro de seu camarim se resumem a um xampu 2 em 1, sabonete e lenço para tirar maquiagem. Nem sinal de pente. “Não sou vaidoso. Olha meus dedos cabeçudos de tanto eu roer as unhas!”, fala, esticando as mãos.

Em casa, Rodrigo visita o banheiro todo dia à mesma hora. “Faço xixi às oito da manhã, pontualmente.” Volta a dormir, no máximo, até as dez horas. Se passar disso, diz que fica com dor de cabeça. Quando abre os olhos, a primeira coisa que faz é tomar água, já que sua garganta seca de tanto usar a voz. “Minha mulher fala que eu sou o Cido. Aparecido”, diverte-se. “Ele é o cara que conta piada numa roda de amigos, ao contrário de mim, que sou tímida”, revela Vera. Segundo Rodrigo, a mulher é uma das poucas pessoas que, quando quer, sabem deixá-lo sério, sem o costumeiro sorrisão no rosto. “Quando fico chateada, quero ficar quieta, não gosto de discutir. E ele não entende, quer sempre conversar”, explica ela, que no começo do namoro tinha ciúme do marido, especialmente quando o via beijar alguém na novela.

Você se acha bonito?
Não me acho lindo, mas tenho virilidade, o que é importante.

O que é ser viril?
Se portar como homem, que vai desde quando a mulher fala “Amor, não tô conseguindo abrir a lata da maionese” até ser uma figura masculina que protege sua esposa e filhas.

Se acordasse mulher, o que faria?
Iria ao ginecologista e faria xixi sentado. Andar no salto eu já ando, usar collant, já uso. Não seria tanta novidade [risos]. Mas queria entender a cabeça da mulher.

Não tem receio de as pessoas enjoarem do seu rosto?

Não, porque Ídolos é sazonal e a propaganda da Casas Bahia só dura 15 dias. E tenho a consciência de que se ficar um ano fora do ar vão falar: “Sabe aquele menino que dançava... como era mesmo o nome dele?”.



Rodrigo veste
cueca Mash, camiseta Alexandre Herchcovitch, camisa, calça, meia e sutiã Acervo produção
Estilo Gaia Prado Produção Ana Luiza Toscano Maquiagem Paulo Avila Tratamento de imagem Imagetouch

 

 

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